O COMBATE CONTRA O DEMÔNIO

Meditação Quaresmal: O combate contra o demônio, confira nessa reflexão uma exortação sobre a ação do leão que ruge procurando a quem devorar.

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“a vida do homem sobre a terra é um combate”, como nos diz o livro de Jó (7, 1). E, como nos diz São Paulo, não é somente contra a carne e o sangue que temos de lutar, mas contra os principados e potestades do inferno, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra os espíritos malignos espalhados nos ares (Efésios 6, 12). E Nosso Senhor diz: “Não julgueis que vim trazer a paz a terra. Vim trazer não a paz, mas a espada” (Mateus 10, 34). E, assim, poderíamos multiplicar as passagens da Sagrada Escritura que nos mostram que estamos em combate, em combate pela glória e honra do Deus altíssimo, pelo bem e liberdade da Igreja e em combate pela salvação de nossas almas. E, por isso, a Igreja que está no mundo se chama Igreja Militante.

      Nosso combate é, então, principalmente contra o demônio, o pai do pecado. Os demônios, os anjos caídos, têm por finalidade conduzir o homem à separação de Deus. Os demônios odeiam profundamente a Deus e odeiam a imagem e semelhança que os homens em estado de graça têm com Deus. Os demônios trabalham, portanto, para destruir a vida da graça em nós. Fazem isso por ódio a Deus e por inveja a nós, que ainda temos a possibilidade de nos salvarmos. O desejo íntimo deles é que a adoração devida a Deus seja prestada a eles. “Se te prostrares a meus pés, adorando-me, eu te darei tudo isso”, diz o demônio a Nosso Senhor. E, para atingir o seu propósito, satanás e seus asseclas têm armas poderosas.

      Evidentemente, eles tentam as pessoas individualmente, sugerindo o pecado, colocando coisas na nossa imaginação, por exemplo, tentando nos fazer consentir no mal. Lembro, porém, que os demônios não podem agir sobre nossa inteligência nem sobre a nossa vontade. Aqui, somente nós e Deus podemos agir. Mas os demônios vão além dessa tentação individual. Querendo ser como Deus, eles imitam a ação de Deus. Deus faz que todas as coisas se dirijam ao bem daqueles que o amam.

      Os demônios, ao contrário, tentam dirigir tudo para o mal. Eles potencializam ao máximo os pecados individuais para formar, a partir deles, estruturas de pecado, quer dizer, o demônio usa esses pecados pessoais para organizar e sistematizar uma cultura que favoreça o pecado, para organizar sociedades, grupos que favoreçam o pecado, etc. Podemos ver isso no caso das falsas religiões, que, às vezes, começam com um pecado pessoal – pensemos no caso de Lutero, por exemplo, que, com seus escrúpulos, dividiu a cristandade ao meio, criando o protestantismo para justificar a sua consciência. Podemos ver essa estrutura de pecado nas sociedades secretas, na maçonaria, verdadeira anti-Igreja.

      Essas estruturas de pecado estão muito bem instaladas hoje, caros católicos. Às vezes, elas são evidentes, como nos casos que acabamos de mencionar e outros: falsas religiões, sociedades secretas, indústria pornográfica, o sistema político que não leva em conta Deus e sua Igreja, etc. Muitas vezes, porém, essas estruturas são mais discretas, menos perceptíveis. É o caso de muitas das diversões de nossos dias. Quantos filmes que introduzem sorrateiramente um ponto contra a fé ou que introduzem por uma única cena a impureza em nossa alma. E a televisão, então?

     E quantas músicas, seja pela letra seja pelo ritmo também não favorecem o pecado, a desordem nos nossos apetites. E também os livros ruins… São João Bosco, em uma de suas visões, via a barca da Igreja sendo atacada por livros… por livros ruins. Agora, há meios bem mais eficientes de atacá-la: os filmes ruins, a televisão, internet. Não estou dizendo que essas coisas são necessariamente ruins. Podem ser boas. Mas quão raramente podemos encontrar filmes que de nenhum modo prejudiquem a nossa alma ou programas de TV que de nenhum modo prejudiquem a nossa alma. Temos também as modas ofensivas a Nosso Senhor, as máximas do mundo, jogos de computador.

      Em algumas coisas, o demônio se manifesta mais claramente, como na série Harry Potter, por exemplo, ou como em um jogo de computador em que o objetivo é matar o Papa. A diversão moderada é legítima, mas não é lícita a diversão quando se ofende a Deus ou quando se prejudica a nossa alma. É o demônio o principal autor da cultura de morte em que vivemos hoje, uma cultura que favorece e facilita tanto o pecado e mesmo pecados gravíssimos como o aborto, a prática homossexual, etc. Quão grande deve ser o nosso cuidado com tudo isso, para evitarmos em tudo a ofensa a Deus.

      O demônio é insidioso, ele arma ciladas para nos perder, e, como nos diz São Pedro, “o demônio, nosso adversário, anda ao redor de nós como um leão que ruge, buscando a quem devorar” (1 Pedro 5, 8). O demônio ataca. Suas armas são poderosíssimas. No mais das vezes, ele é sutil, tentando fazer com que sirvamos a dois senhores, a Deus e ao mundo, mundo entendido aqui como tudo o que conduz ao pecado.

O demônio nos sugere: “você pode servir a Deus, mas não precisa abandonar aquela série de TV de que você tanto gosta só porque lá se fala um pouquinho mal da Igreja ou porque lá se faz uma apologia do amor livre”; “você pode servir a Deus, mas não precisa abandonar aquela roupa de que você gosta e que atrai olhares indevidos.” “você pode servir a Deus, mas não precisa abandonar aqueles lugares mundanos que você frequenta”; “isso aqui é só um pecado leve, não pode fazer tão mal, não precisa abandoná-lo…”

      O demônio ataca… e nós, nos defendemos ou nos deixamos levar por essas ciladas. Devemos combater o bom combate. Se as armas do demônio são poderosas, elas não são nada comparadas às armas que Deus nos dá, pois o demônio é como um nada diante de Deus. Auxiliados pela graça podemos vencer todo combate espiritual.

Para nos defender e atacar, algumas de nossas principais armas são:

A fé viva, a oração, os sacramentos, dentre eles destaco: (confissão e comunhão) a meditação do Evangelho diário, a devoção a Nossa Senhora, a fuga das ocasiões de pecado, a mortificação, etc…

      Para vence o combate é necessário ter um desejo profundo da santidade, de amar a Deus com todo o nosso ser e ao próximo por amor a Deus. Devemos ter esse desejo profundo de servir unicamente a Nosso Senhor Jesus Cristo. Devemos considerar com frequência a bondade de Deus, suas perfeições. Devemos considerar com frequência a alegria que é servi-lo aqui na terra e a alegria que teremos no céu, se servimos a um só Senhor aqui na terra.

      O demônio, como não poderia deixar de ser, ataca também a Igreja. A tentação é clara e, mais uma vez, é, no fundo, aquela terceira tentação de Cristo no deserto: “Igreja, se te prostrares diante de mim, adorando-me e adaptando a tua doutrina e a tua moral, te darei tudo: a aceitação do mundo, maior número de fiéis, não haverá mais perseguições, etc.” Quão mentiroso é o demônio. Se a Igreja não pode sucumbir,  pois as portas do inferno não prevalecerão, conforme as promessas de Cristo, essa tentação é bem real e bem presente para os homens da Igreja.

      O demônio é um anjo caído, extremamente inteligente e muito capaz no mal, mas ele é uma mera criatura. O demônio não é um deus do mal, mas ele é uma pura criatura, infinitamente inferior a Deus, a Nosso Senhor Jesus Cristo. E inferior aos anjos, que possuem a graça de Deus.

      A ação do demônio também entra nos planos da divina providência e Deus permite que ele aja para tirar da ação do demônio um bem muito superior. Vemos isso claramente durante a vida de Nosso Senhor. O demônio incitou a paixão e a morte de Nosso Senhor, pensando vencer definitivamente o Messias. Mas sem saber e sem querer, ele trabalhou para a salvação do mundo e para a sua própria derrota. Deus não quer a ação do demônio, mas ele não a impede, para tirar dela um bem superior.

      Como nos diz Santo Agostinho: “O Deus todo poderoso […], sendo sumamente bom, não deixaria de nenhum modo que existisse o mal, se Ele não fosse suficientemente poderoso e bom para tirar do mal um bem” (Enchiridion III, 11) e um bem maior. O demônio é uma mera criatura, e Deus, não impedindo o mal realizado pelo demônio, tira desse mal, das  tentações, um bem maior, para sua glória e para nós, se buscamos em todas as coisas a vontade de Deus.

      Estamos em um grande combate, um combate espiritual. Não só contra a nossa carne ferida pelo pecado original, não só contra o mundo, mas contra os espíritos malignos. Nesse combate ao Senhor, ficai em alerta pois o leão ruge procurando a quem devorar!

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