Evangelizar no poder do Espírito Santo por João Paulo II Catequese em 1998
Evangelizar no poder do Espírito Santo por João Paulo II Catequese em 1998
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- Logo depois de o Espírito Santo ter descido sobre os Apóstolos no dia do Pentecostes, eles “começaram a falar outras línguas, conforme o Espírito lhes dava o poder de se exprimirem” (cf. At 2,4). Pode-se, portanto, dizer que a Igreja, no momento mesmo em que nasce, recebe como Dom do Espírito a capacidade de “anunciar as maravilhas de Deus” (At 2,11): é o dom de evangelizar. Este fato implica e revela uma lei fundamental da história da salvação: não se pode em síntese falar do Senhor e em nome do Senhor, sem a graça e o poder do Espírito Santo. Ao servimo-nos de uma analogia biológica, poderíamos dizer assim como a palavra humana é veiculada pelo sopro humano, assim também a Palavra de Deus é transmitida pelo sopro de Deus, pelo seu ruach ou pneuma, que é o Espírito Santo.
- Esta ligação entre o Espírito de Deus e a palavra divina pode-se notar já na experiência dos antigos profetas. A chamada de Ezequiel é descrita como a infusão de um “espírito” na pessoa: “(O Senhor disse-me: “Filho do homem, põe-te de pé; vou falar-te”. O espírito penetrou em mim, enquanto me falava, e mandou-me pôr de pé; e ouvi alguém que me chamava”. (Ez 2,1´2). No livro de Isaías lê-se que o futuro servo do Senhor proclamará o direito às nações, precisamente porque o Senhor pôs o Seu espírito sobre ele (cf. 42,1). Segundo o profeta Joel, os tempos messiânicos serão caracterizados por uma universal efusão do Espírito: “Depois disto, acontecerá que derramarei o Meu Espírito sobre toda a carne” (Jl 3,1); por efeito desta comunicação do Espírito, “os vossos filhos e as vossas filhas profetizarão” (ibid).
- Em Jesus, a ligação Espírito-Palavra atinge o vértice: de fato, Ele é a própria Palavra que Se fez carne “por obra do Espírito Santo”. Começa a pregar “com o poder do Espírito Santo” (cf. Lc 4,14 ss.). Em Nazaré, na Sua pregação inaugural aplica a Si a passagem de Isaías: “O Espírito do Senhor está sobre Mim (…) enviou-Me para anunciar a Boa Nova aos pobres” (Lc 4,18). Como ressalta o quarto Evangelho, a missão de Jesus, “Aquele que Deus enviou” e “profere as palavras de Deus”, é fruto do Dom do Espírito, que Ele recebeu e dá “sem medida” (cf. Jo 3,34). Ao aparecer aos Seus no cenáculo na tarde da Páscoa, Jesus faz o gesto muito expressivo de “soprar” sobre eles, dizendo: “Recebei o Espírito Santo” (cf. Jo 20, 21´22). Sobre aquele sopro se desenvolve a vida da Igreja. “O Espírito Santo é o protagonista de toda a missão eclesial” (R.Mi., 21). A Igreja anuncia o Evangelho graças à Sua presença e à Sua força salvífica. Ao dirigir-se aos cristãos de Tessalônica, São Paulo afirma : “O nosso Evangelho não vos foi pregado somente com palavras, mas também com poder e com o Espírito Santo” (1 Ts 1,5). São Pedro define os apóstolos “aqueles que anunciaram o Evangelho no Espírito Santo” (1 Pd 1,12). Mas o que significa “evangelizar no Espírito Santo”? Sinteticamente, pode-se dizer: significa evangelizar na força, na novidade, na unidade do Espírito Santo.
- Evangelizar na força do Espírito quer dizer ser investido daquele poder que se manifestou de modo supremo na atividade evangélica de Jesus. O Evangelho diz-nos que os ouvintes se maravilharam com Ele, porque “lhes ensinava como quem tem autoridade e não como os escribas” (Mc 1,22). A palavra de Jesus “expulsa os demônios, aplaca as tempestades, cura dos doentes, perdoa os pecadores, ressuscita os mortos. A autoridade de Jesus é comunicada pelo Espírito, como Dom pascal, à Igreja. Vemos assim os apóstolos ricos de parresia, ou seja, daquele franqueza que os faz falar de Jesus sem medo. Os adversários ficam maravilhados com isto, “considerando que eram iletrados e plebeus” (Ato 4,13). Também Paulo, graças ao Dom do Espírito da Nova Aliança, pode afirmar com toda a verdade: “Tendo, pois, esta esperança, agimos com plena segurança” (2 Cor 3,12). Esta força do Espírito é mais do que nunca necessária ao cristão do nosso tempo, ao qual é pedido que dê testemunho da sua fé num mundo com frequência indiferente, se não hostil, fortemente marcado como está pelo relativismo e pelo hedonismo. E uma força de que têm necessidade sobretudo os pregadores, que devem repropor o Evangelho sem ceder a compromissos e falas tergiversações, anunciando a verdade de Cristo “oportuna e inoportunamente” (2 Tm 4,2).
- O Espírito Santo assegura ao anúncio também um caráter de atualidade sempre renovada, a fim de que a pregação não decaia em vazia repetição de fórmulas e em inexpressiva aplicação de métodos. Com efeito, os pregadores devem estar ao serviço da “Nova Aliança”, a qual não é “da letra”, que faz morrer, mas “do Espírito”, que faz viver (cf. 2 Cor 3,6). Não se trata de propagar o “regime antigo da letra”, mas o “regime novo do Espírito” (cf. Rm 7,6). é uma exigência hoje particularmente vital para a “nova evangelização”. Esta será deveras “nova” no fervor, nos métodos, nas expressões, se aquele que anuncia as maravilhas de Deus e fala em nome d’Ele, tiver antes escutado Deus tornando-se dócil ao Espírito Santo. Fundamental é, portanto, a contemplação feita de escuta e oração. “Se o anunciador não ora, acabará por pregar a si mesmo” (cf. 2 Cor 4,5) e as suas palavras reduzir-se-ão a “conversas vãs e profanas” (cf. 2 Tm 2,16).
- O Espírito, por fim, acompanha e estimula a Igreja a evangelizar na unidade, construindo a unidade. O Pentecostes aconteceu quando os discípulos “se encontravam todos reunidos no mesmo lugar” (Ato 2,1) e se entregavam “(todos)… assiduamente à oração” (ibid., 1,14). Depois de ter recebido o Espírito Santo, Pedro pronuncia o primeiro discurso à multidão, “de pé, com os Onze” (ibid., 2, 14): é o ícone dum anúncio coral, que assim deve permanecer também quando os anunciadores estiverem dispersos pelo mundo. Anunciar Cristo sob o impulso do único Espírito, no limiar do terceiro milênio, implica para todos os cristãos um esforço concreto e generoso em prol da plena comunhão. E o grande empreendimento do ecumenismo, a ser ajudado com sempre renovada esperança e eficaz empenho, embora os tempos e os êxitos estejam nas mãos do Pai, que nos pede humilde prontidão ao acolher os Seus desígnios e as inspirações interiores do Espírito.