Por que uma pessoa se mata?

Estamos vivendo em uma cultura de morte, isso já nos alertava o documento de Aparecida (Dap 381).  A cada um minuto de acordo com a (OMS) organização mundial da saúde, 20 pessoas tentam se suicidar no mundo. O suicídio vem em nossos tempos como uma bomba, que quando explode deixa marcas, medos e muitas feridas abertas. Recentemente os meios de comunicação estão sendo viralizados pelo jogo da baleia azul, um jogo que tem como finalidade promover no final de cinquenta desafios o suicídio. Esse desafio é um pacto de morte, que revela uma grande reflexão em nossas mentes: Por que uma pessoa se mata?

Entenda o que gera o comportamento suicida e como este gesto extremo pode ser evitado:

obs: Me desculpem pelo texto ser um pouco longo, mas ele esta voltado para líderes jovens e formadores de opinião que precisam de argumentos científicos para ajudar aqueles que estão desestruturados em sua vida espiritual, psíquica  e emocional.

A cada dia, o sofrimento – físico ou emocional – fica mais intenso e viver torna-se um fardo pesado e angustiante. Sua dor parece incomunicável; por mais que você tente expressar a tristeza que sente, ninguém parece escutá-lo ou compreendê-lo. A vida perde o sentido. O mundo ao seu redor fica insosso. Você sonha com a possibilidade de fechar os olhos e acordar num mundo totalmente diferente, no qual suas necessidades sejam saciadas e você se sinta outro.

Atire a primeira pedra quem nunca pensou em morrer para escapar de uma sensação de dor ou de impotência extremas. Parece comum ao ser humano experimentar, pelo menos uma vez na vida, um momento de profundo desespero e de grande falta de esperança. Os adjetivos são mesmo esses: extremo, insuportável, profundo. Mas, aos poucos, os seus sentimentos e idéias se reorganizam.    Suas experiências cotidianas passam a fazer sentido novamente e você consegue restabelecer a confiança em si mesmo. Você descobre uma saída, procura apoio, encontra compreensão. Aquele desejo autodestrutivo, aquela vontade de resolver todos os problemas num golpe só, se dilui. E você segue adiante. Muitos, no entanto, não conseguem encontrar uma alternativa. O suicídio, para esses, parece ser a última cartada, o xeque-mate contra o sofrimento, um gran finale para uma vida aparentemente sem sentido, para um presente pesado demais ou para um futuro por demais amedrontador. E eles se matam.

Imperscrutável, no limite, o suicídio não tem explicações objetivas. Agride, estarrece, silencia. Continua sendo tabu, motivo de vergonha ou de condenação, sinônimo de loucura, assunto proibido na conversa com filhos, pais, amigos e até mesmo com o terapeuta. Mas as estatísticas mostram que o suicídio precisa, sim, ser discutido. Trata-se, além de uma expressão inequívoca de sofrimento individual, de um sério problema de saúde pública.  A “violência autodirigida”, como o suicídio é classificado pela OMS, é hoje a 14ª causa de morte no mundo inteiro. E a terceira entre pessoas de 15 a 44 anos, de ambos os sexos. Não pode mais ser ignorada.

 “Todos já pensamos em suicídio em algum momento na vida. É um pensamento humano. Se não desejamos nos matar, ao menos cogitamos morrer – morrer para escapar do sofrimento, para nos vingar, para chamar a atenção ou para ficar na história”, diz o psiquiatra e psicanalista Roosevelt Smeke Cassorla, da Sociedade Brasileira de Psicanálise, um dos maiores especialistas brasileiros em suicídio. “Mas resolvemos continuar vivos e melhorar as nossas condições de vida. O suicídio, então, soa como um desatino. A pergunta que fica é: por que algumas pessoas desistem e outras não?”

Por trás do comportamento suicida há uma combinação de fatores biológicos, emocionais, socioculturais, filosóficos religiosos que, embaralhados, culminam numa manifestação exacerbada contra si mesmo. “Existem causas imediatas – como perda do emprego, fracasso amoroso, morte de um ente querido ou falência financeira – que agem como o último empurrão para o suicídio”, diz a psicóloga Blanca Guevara Werlang, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), especialista em autópsia psicológica. “A análise das características psicossociais do indivíduo, porém, revela os motivos que, ao longo da vida, o auxiliaram a estruturar o comportamento suicida. Pode mostrar as razões para morrer que estavam enraizadas no estilo de vida e na personalidade.”

Fenômeno complexo, o suicídio configura um assassinato, em que vítima e agressor são a mesma pessoa.

“A definição de suicídio implica necessariamente um desejo consciente de morrer e a noção clara de que o ato executado pode resultar nisso. Caso contrário, é considerado morte por acidente ou negligência”, diz o psiquiatra José Manoel Bertolote, líder da Equipe de Controle de Transtornos Mentais e Cerebrais do Departamento de Saúde Mental e Toxicomanias da OMS.

O fato de estar consciente de que vai efetuar um ato suicida não elimina, no entanto, o estado de confusão mental que o indivíduo experimenta momentos antes da ação. “Ele não sabe se quer morrer ou viver, se quer dormir ou ficar acordado, fugir da dor, agredir outra pessoa ou, de fato, encontrar o mundo com o qual fantasia”, diz Roosevelt. Afinal, o suicida tem diante de si duas iniciativas complexas e contraditórias a conciliar naquele momento: tirar a vida e morrer. O suicídio ocorreria, então, num instante em que a pessoa se encontra quase fora de si, fragmentada, com os mecanismos de defesa do ego abalados e, por isso, “livre” para atacar a si mesma.

A depressão um grande fator a se considerar:

Dados da OMS indicam que o suicídio geralmente aparece associado a doenças mentais – sendo que a mais comum, atualmente, é a depressão, responsável por 30% dos casos relatados em todo o mundo. Estima-se que uma em cada quatro pessoas sofrerá de depressão ao longo da vida. Entre os subtipos, a depressão bipolar – em que fases de euforia e apatia profundas se alternam – parece ser a de maior risco. O alcoolismo responde por 18% dos casos de suicídio, a esquizofrenia por 14% e os transtornos de personalidade – como a personalidade limítrofe e a personalidade anti-social – por 13%. Os casos restantes são relacionados a outros diagnósticos psiquiátricos.

 “É comum que a pessoa, quando está com depressão, tenha pensamentos pessimistas, ache que a vida não vale a pena e que talvez fosse melhor morrer”, diz o psiquiatra Humberto Corrêa, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). “Mas a maioria dos deprimidos não tentará se matar. Somente os mais impulsivos e agressivos procuram o suicídio.”

“Desculpa, não consegui”

O escritor italiano Cesare Pavese (1908-1950), 12 anos antes de se matar com barbitúricos, tinha escrito: “Ninguém nunca deixa de ter um bom motivo para o suicídio”. A angústia existencial do suicida sempre vai fornecer justificativas para a sua morte. Ele sempre poderá enxergar a vida sem sentido ou ver prevalecer em si um sentimento neurótico de desvalia, derrota e de baixa auto-estima. Daí a criação de fantasias em torno da morte.

“O suicídio é um ato de linguagem, de comunicação.

Como vivemos numa rede de relacionamentos, a nossa morte significa algo para as outras pessoas”, diz a psicóloga Maria Luiza Dias Garcia, coordenadora da Clínica de Psicoterapia Laços, em São Paulo, que analisou mensagens (bilhetes, cartas, gravações) deixadas por suicidas no livro Suicídio – Testemunhos do Adeus. “Constatei, pelos discursos, que o suicida está num quadro de embotamento, como se estivesse afogado nas próprias emoções. Ele não aproveita os vínculos sociais para partilhar seus sentimentos e vê o mundo de uma maneira muito própria.” O suicídio, então, torna-se um meio de expressão, uma fala que não pôde ser dita.

O suicídio vem como uma maneira de arrancar a dor.

As tentativas de se matar são vistas como um grito por ajuda, sintoma de uma falha tanto no sistema familiar quanto no grupo social. “O indivíduo não consegue pedir socorro de outro modo, então opta por um ato extremo”, diz a psicóloga Denise Gimenez Ramos, da PUC de São Paulo. “Por que ele não foi ouvido? Todos dão conselhos, mas ninguém ouve o que ele tem a dizer. Esse indivíduo, portanto, fica com a impressão de que não existe para o mundo.”

 Incapazes de comunicar a própria dor, os suicidas recorrem a algumas fantasias para justificar a si mesmos a autodestruição. A busca de uma outra vida é uma das mais comuns. O indivíduo enxerga no suicídio a oportunidade de interromper uma existência infeliz e recomeçar, com uma nova chance para acertar. Matar-se também pode ser um jeito de acelerar o reencontro com pessoas queridas já mortas – o pai, a avó, um amigo, o cônjuge. Outras fantasias comuns acerca do suicídio: gesto de vingança ou rebeldia, castigo e autopenitência. “A idéia da não-existência é tão insuportável que a mente humana inevitavelmente recorre às fantasias para levar adiante o projeto de auto-aniquilamento”, diz Roosevelt Cassorla. Mas o indivíduo nem sempre tem acesso consciente a essas fantasias.

O psiquiatra Claudemir Rapeli, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), autor de dois extensos trabalhos sobre suicídio, também constatou esse sentimento em boa parte dos suicidas que atendeu no Hospital das Clínicas de Campinas. “O arrependimento é imediato. Reconhecem que foi uma atitude impulsiva, desesperada, ansiosa.” Claudemir conta a história de um rapaz de 18 anos que tentou suicídio tomando um agrotóxico letal. (A substância provoca, em algumas semanas, uma espécie de fibrose pulmonar que impede a respiração normal e o indivíduo morre sufocado.) “Quando ele começou a sentir que não ia melhorar, que os médicos não podiam fazer mais nada, o pânico dele foi comovente”, afirma. “A motivação foi banal – uma briga com a namorada por achar que ela o estava traindo. Tomou o veneno para livrar-se da rejeição, mas não queria a morte. Ele pedia a todos os médicos que não o deixassem morrer.”

Você pode argumentar que muita gente se vê em situações de grande desespero ou solidão existencial e, mesmo assim, não busca o suicídio. O que faz a diferença? Na verdade, não existe uma personalidade suicida – existe, sim, uma vulnerabilidade emocional (que pode ser trabalhada com o apoio de um parente, um psicoterapeuta ou um amigo). “Quem tem uma estrutura de ego frágil pode não suportar uma grande perda ou um momento de crise e, num impulso, acaba cometendo o suicídio”, diz Ingrid Esslinger. O ego se constitui a partir dos primeiros vínculos afetivos, do modo com que o bebê foi cuidado pelas figuras de apego e da educação que a criança recebeu. Um ego fraco não tolera a frustração, não tem capacidade de espera, não suporta lidar com a impotência, com os limites e com os “nãos” que a vida impõe.

A ausência da fé é resposta a essa crise de sentido e vazio existencial:

“Existem vários estudos comprovando a influência da cultura, do ambiente e da religião sobre as taxas de suicídio, seja como facilitadores, seja como limitantes”, afirma José Manoel Bertolote. Mesmo sendo resultado de uma escolha individual, o suicídio também é visto como uma questão social. As taxas de suicídios mais altas vêm de países “ateus”, as menores de países onde a maioria da população é religiosa. A (OMS) publicou recentemente um estudo, numa revista científica norueguesa, mostrando que as taxas de suicídio mais baixas encontram-se em países islâmicos, seguidos de países hinduístas, cristãos (mais baixas em católicos que em protestantes) e budistas, nessa ordem.

O cansaço existencial e as crises constantes também alimentam o desejo de morrer.

“Eu não deveria existir”

Para o filósofo e escritor argelino Albert Camus (1913-1960) só há um problema filosófico verdadeiramente sério sobre o qual o homem deve refletir: o suicídio. Segundo ele, a questão fundamental da filosofia é responder se vale a pena ou não viver. “O homem vive num clima de absurdo e pouco pode esperar da história. Esses obstáculos colocam a existência como um problema. Novamente, a pergunta se impõe: viver vale a pena?”, diz o filósofo Franklin Leopoldo e Silva, da USP. “Na perspectiva de Camus, o suicídio está sempre no horizonte do indivíduo porque a pergunta sobre a validade da vida é permanente. Isso não significa que a morte é a única solução. A saída pode ser o enfrentamento lúcido, ainda que um tanto solitário, desse clima de absurdo.”

Uma reflexão filosófica mais profunda da contemporaneidade revela que a vida não é mais considerada um valor – pois, diante da moderna sociedade de consumo, perdeu gravemente o caráter sagrado – e, por isso, o suicídio também foi banalizado. Tornou-se alternativa descartável. “Já não representa mais um ato de contestação ou um ato exemplar nem parece resultado de uma dor psíquica insuportável, como foi no passado. O significado do suicídio também se perde nessa tendência ao não-pensamento que assola o mundo contemporâneo”, diz a filósofa Olgária Mattos, também da USP.

O materialismo

A sociedade de consumo é falsamente hedonista: promete gratificação imediata e, ao mesmo tempo, frustra as próprias perspectivas que oferece. O suicídio seria também uma conseqüência dessa impulsividade: uma reação às promessas não cumpridas de felicidade e satisfação instantâneas e à decepção que daí decorre. “O suicídio, hoje, vem da dificuldade de entrar em contato consigo mesmo.

A revolta contra Deus

Levado às últimas conseqüências, o suicídio também pode parecer um ato de afronta a Deus. “Tirar a própria vida dá, ao indivíduo, a sensação de fazer algo que é divino e entrar em contato com o mistério”, afirma Denise Ramos. “O suicida passa da extrema impotência – não posso mudar nada – à extrema potência – acabo com a minha vida quando e como eu quero. Nesse momento, em sua fantasia, se iguala a Deus por provocar também um ato que vai além da natureza humana.”

Para o teólogo e filósofo Renold Blank, da Pontifícia Faculdade de Teologia de São Paulo, tal atitude de achar-se o único responsável pela própria vida ultrapassa os limites éticos. “Do ponto de vista ético, a vida de cada ser humano tem sentido não só para si mesmo mas para os outros também”, diz ele. “Por meio da minha vida, dou sentido à vida dos outros e, assim, a minha existência ganha significado. Se acabo com a minha vida, acabo com todas as possibilidades de dar sentido à vida de outras pessoas. Falho em minha responsabilidade com os demais.” As ações de cada indivíduo repercutem no grande sistema de relações sociais e ganham uma dimensão histórica – o que é feito hoje, mesmo em âmbito pessoal, tem sempre uma conseqüência futura. O suicídio funciona, então, como uma brusca ruptura dessa rede.

“O suicídio é um ato privado que não representa somente uma violência contra si mesmo mas também contra mais, pelo menos, seis pessoas. Elas são forçadas a conviver com os sentimentos de vingança, vergonha, culpa, sofrimento psicológico, medo de enlouquecer e de também cometer o suicídio”, afirma o suicidologista australiano Diego De Leo, diretor da Associação Internacional para a Prevenção do Suicídio (IASP, na sigla em inglês), organização não-governamental que reúne profissionais e entidades envolvidas no estudo do comportamento suicida.

“Sei que voceis me perdoarão”

Na próxima postagem continuarei o assunto, falando sobre os motivos que nos revelam porque não vale a pena se suicidar, e também como orientar pessoas suicidas.

Se você precisa de ajuda, me procure, estarei disponível, saiba que sua vida é o dom mais precioso que Deus nos concedeu e toda dor é passageira, depois de uma grande tempestade sempre vem um dia maravilhoso com um sol ensolarado. Por isso Jesus nos diz: Vinde a mim, vós que estais cansados e sobrecarregados de fardos, e Eu lhe darei descando. (cf Mateus 11,28).

Deus abençoe paz e pentecostes!

Texto adaptado de Maria Fernanda Vomero para o blog: Jovens de fogo.

Site:  http://super.abril.com.br/comportamento/por-que-uma-pessoa-se-mata/

 

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