A transformação dos Apóstolos em Pentecostes

Antes e depois de Cristo

O mundo, antes da vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo, estava numa decadência enorme, pode-se dizer que a humanidade tinha alcançado um auge de maldade inimaginável: por todas as partes imperava a idolatria, observavam-se os costumes mais depravados e a degradação da dignidade atingira profundidades nunca vistas. Se nossos primeiros pais, Adão e Eva, ainda vivessem naquela época, não poderiam crer que, por um só pecado cometido, sua descendência houvesse chegado à situação em que se encontrava no tempo do nascimento de Jesus.

A Encarnação de Nosso Senhor foi um marco histórico que dividiu as eras em antes e depois de Cristo. O fato da Segunda Pessoa da Santíssima Trindade ter assumido a nossa carne e, após cumprir Sua missão redentora, ter subido aos Céus e enviado o Espírito Santo, mudou a face da Terra.

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Muitas vezes, a ação do Espírito Santo nas almas faz-se de modo suave e paulatino, na medida em que estas não oponham  obstáculos, purificando-as de suas culpas e convidando-as a progredir sempre mais na virtude. Em outras ocasiões, porém, essa transformação se opera de modo súbito e fulminante. Tal foi o caso dos Apóstolos.

Durante a Paixão de Jesus, eles revelaram toda a pusilanimidade própria à natureza humana. Temerosos de sofrer o mesmo destino do Mestre, tinham fugido, abandonando- O no momento em que Ele mais necessitava de sua companhia. E se, após aqueles dias de tragédia, ainda se conservavam reunidos no Cenáculo, isto se devia às preces e à ação da Santíssima Virgem, bem como às aparições do Senhor ressurrecto.

Seus corações permaneciam ainda vacilantes, seus bons desejos, mesclados à ambição pelo primeiro lugar, não eram perfeitos e eles mesmos deveriam experimentar um sentimento de indignidade em relação à grandeza da obra que o Senhor lhes confiara. Entretanto, uma esperança os mantinha juntos, perseverando unânimes na oração (cf. At 1,14): era a promessa feita sob juramento pelo próprio Cristo: “Digo-vos a verdade: convém a vós que eu vá! Porque se eu não for, o Paráclito não virá a vós; mas se eu for, vo-lo enviarei” (Jo 16, 7).

Sim, era necessário que Jesus fosse para que viesse o Espírito; convinha que os discípulos, cuja visão do Mestre era por demais humana, sentissem o vazio criado pela Sua ausência e compreendessem, agora distanciados, a origem divina d’Aquele que os congregara.

Essa nova perspectiva só seria atingida por ação do Paráclito que lhes ensinaria “toda a verdade” (Jo 16, 13).

Assim, dez dias após sua ascensão aos céus, realizando a profecia que Ele mesmo fizera, o Filho enviava sobre os discípulos o Defensor prometido. Por cuja ação repentina e eficaz aqueles homens tímidos e cheios de lacunas foram transformados em verdadeiras colunas da Fé.

Simão Pedro, que havia poucas semanas negara seu Senhor por medo de uma criada, não temia agora pregar esse mesmo Crucificado às portas do Templo. Tiago e João, os boanerges, de temperamento colérico e ambicioso, tornavam-se os paladinos da doçura, Apóstolos do “novo mandamento do amor”. Tomé, o incrédulo, faria chegar sua palavra ardorosa até os confins longínquos da Índia. Que força inexplicável para olhos humanos movia-os agora, impelindo- os a conquistar o mundo para Cristo? Que misterioso poder os cumulara de uma nova infusão de dons e dos mais preciosos carismas? Fora, ouvira-se um ruído insólito, vindo do céu, semelhante ao de um vento impetuoso, ao mesmo tempo em que sobre a cabeça de cada um repousara uma língua de fogo. Estes sinais exteriores, que confirmavam a mudança operada em seus espíritos eram símbolos da graça outorgada, do ímpeto da caridade e da grandeza de Deus que descia. O vento, ao qual Jesus já fizera alusão na conversa noturna com Nicodemos (cf. Jo 3, 8), figurava as inspirações repentinas enviadas pelo Espírito, enquanto as línguas, inundando de ígneo resplendor a sala do Cenáculo, indicavam a plenitude de Fé e amor que convinha aos anunciadores da Palavra de Deus.

Dons e frutos do Espírito Santo

Para compreender bem a importância desse acontecimento, cuja comemoração encerra o Ciclo Pascal, é necessário conhecer a magnitude dos dons que ali foram concedidos, não só pessoalmente aos discípulos, mas a toda a Igreja, perpetuando-se pelos Sacramentos do Batismo e do Crisma.

Pelas virtudes infusas, a alma age segundo seu livre-arbítrio auxiliado pela graça, à maneira de um pássaro que voa pelo esforço próprio de suas asas. Os dons, porém, dispõem-na para deixar-se conduzir diretamente sob o impulso do Espírito Santo, como nuvem que se movimenta ao menor sopro de brisa: “Quem são estes, que voam como nuvens?” (Is 60, 8).

Sete são os dons que provêm do Espírito e adornam a alma, conferindo- lhe beleza e atração. Por eles, segundo explicam os Santos Padres e os teólogos, adquire-se força para resistir às principais tentações e afastam-se os obstáculos à vida de perfeição. Quatro desses dons têm por finalidade iluminar a inteligência, enquanto os outros três põem em movimento a vontade.

O dom de sabedoria ilustra a alma para o conhecimento de Deus e a contemplação de seus adoráveis atributos; o dom da ciência faz penetrar com discernimento nas criaturas e julgá-las de modo acertado; o dom de entendimento permite compreender os mistérios divinos; e o dom de conselho rege as ações, de modo a usar ordenadamente os conhecimentos anteriores.

Já o dom de fortaleza opera no campo da vontade, aperfeiçoando a virtude do mesmo nome e robustecendo- a contra o vão temor mundano; o dom da piedade inclina ao amor de Deus e à caridade para com o próximo; por fim, o santo temor opõe-se às inclinações de orgulho e soberba, tão enraizadas no coração humano.

A alma que se deixa inundar pela ação do Espírito Santo não tardará em produzir frutos de santidade, que espargirão ao seu redor o bom odor de Cristo e comunicarão à sua pessoa um encanto todo espiritual. Em seu coração reinarão a paz e a mansidão, a bondade transparecerá no seu relacionamento com os outros, a modéstia brilhará no seu comportamento e o gozo pela posse do Amado acompanhá-la- á constantemente. É por isto que o Espírito Santo é chamado também o Espírito da alegria, pois Sua presença e atuação vêm sempre seguidas de um bem-estar interior que, por vezes, reflete- se no próprio físico, e que constitui o verdadeiro tesouro dos santos.

São Paulo, em sua carta aos Gálatas, enumera esses frutos do Espírito e em seguida aconselha: “Se vivemos pelo Espírito, andemos também de acordo com o Espírito” (Gl 5, 25)

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