Imaculados ou Santos?

Confira a reflexão de Bneto VI sobre a Solenidade da Imaculada Conceição.

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Gênesis 3, 9-15.20; Efésios 1, 3-6.11-12; Lucas 1, 26-38

Para que a solenidade da Imaculada Conceição não fique em mera celebração dos «privilégios» de Maria, mas nos toque e nos implique profundamente, devemos compreendê-la à luz das palavras de Paulo na segunda leitura: «Deus Pai nos elegeu em Jesus Cristo antes da criação do mundo para sermos santos e imaculados em sua presença, no amor». Todos, portanto, estamos chamados a ser santos e imaculados, é nosso verdadeiro destino; é o projeto de Deus sobre nós. Pouco mais adiante, na mesma Carta aos Efésios, Paulo contempla este plano de Deus referindo-o não já aos homens singularmente considerados, cada um por sua conta, mas à Igreja Universal, esposa de Cristo: «Cristo amou a Igreja e se entregou por ela, para santificá-la, purificá-la mediante o batismo e a palavra, e apresentá-la resplandecente a si mesmo, sem que tenha mancha nem ruga nem coisa parecida, mas que seja santa e imaculada» (Ef 5, 25- 27).

Uma humanidade de santos e imaculados: eis aí o grande projeto de Deus ao criar a Igreja. Uma humanidade que possa, por fim, comparecer ante Ele, que já não tenha que fugir de sua presença, com o rosto cheio de vergonha, como Adão e Eva após o pecado. Uma humanidade, sobretudo, que Ele possa amar e estreitar em comunhão consigo, mediante seu Filho, no Espírito Santo.

O que representa, neste projeto universal de Deus, a Imaculada Conceição de Maria que celebramos? A Liturgia responde a esta pergunta no prefácio da Missa do dia, quando, dirigindo-se a Deus, canta: «Nela, nos destes as primícias da Igreja, esposa de Cristo, sem ruga e sem mancha, resplandecente de beleza. (…) Escolhida, entre todas as mulheres, modelo de santidade…». Eis aqui, então, o que celebramos nesta solenidade em Maria: o início da Igreja, a primeira realização do projeto de Deus, na qual existe como a promessa e a garantia de que todo o plano irá para seu cumprimento: «Nada é impossível para Deus!». Maria é a prova disso. Nela brilha já todo o esplendor futuro da Igreja, como em uma gota de orvalho em uma manhã serena se reflete o azul do céu. Também, e sobretudo por isso, Maria é chamada «mãe da Igreja».

Maria não se apresenta, no entanto, só como aquela que está atrás de nós, no começo da Igreja, mas também como que está à nossa frente «como modelo para o povo de Deus». Nós não nascemos imaculados como, por singular privilégio de Deus, Ela nasceu; e ainda mais, o mal reside em nós em todas as fibras e de todas as formas. Estamos cheios de «rugas» que é preciso retirar, e de «manchas» que é preciso lavar. É neste trabalho de purificação e de recuperação da imagem de Deus que Maria está ante nós como poderoso chamado.

A liturgia fala d’Ela como de um «modelo de santidade». A imagem é justa, sob a condição de que superemos as analogias humanas. A Virgem é como as modelos humanas que posam imóveis, para deixar-se pintar pelo artista. Ela é um modelo que atua conosco e dentro de nós, que nos dá a mão para representar as linhas do modelo por excelência, seu e nosso, que é Jesus Cristo, para fazer-nos «conformes a sua imagem» (Rm 8, 29). Ela é, de fato, «advogada de graça» antes ainda que modelo de santidade. A devoção a Maria, quando é iluminada e eclesial, em verdade não desvia os fiéis do único Mediador, mas os leva a Ele. Quem teve a experiência autêntica da presença de Maria na própria vida sabe que esta se determina por inteiro em uma experiência do Evangelho e em um conhecimento mais profundo de Cristo. Ela está idealmente ante todo o povo cristão, repetindo sempre o que disse em Caná: «Fazei o que Ele vos disser».

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