“Nós não sentimos necessidade de apoios e alianças, tendo em mãos, para nosso conforto, os livros sagrados” (1Mac 12,9)

INTRODUÇÃO GERAL

A BÍBLIA. “Nós não sentimos necessidade de apoios e alianças, tendo em mãos, para nosso conforto, os livros sagrados” (1Mac 12,9). Assim, em 154 a.C, em nome de toda a nação, da qual era chefe, escrevia Jonatas Macabeu ao rei de Esparta. Nessas suas palavras, já se apresenta o termo usual, o valor singular e o emprego prático da obra cuja versão apresentamos. Do termo: os livros no texto grego um neutro plural tà biblía em nossa língua, através do latim vulgar, formou-se o feminino singular:  a Bíblia.

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Outros sinônimos, encontramo-los freqüentemente na própria Bíblia: a Escritura ou as Escrituras, as santas Escrituras, e mais raramente, as sagradas Letras. A Bíblia, portanto, não é um livro só, mas muitos, uma coletânea, cuja unidade consiste no argumento comum e na origem sobre-humana.

E de “livros santos” que a Bíblia se compõe, porque dentro de sua grande variedade eles coincidem em tratar de religião, tendo um objetivo essencialmente religioso. Com mais razão ainda chamam-se “livros santos” ou “sagrados” porque, como ensina a fé, tanto judaica como cristã, não foram escritos por mero talento humano, mas sob a influência de inspiração divina especial.

Ê desta origem sobrenatural que a Bíblia recebe a sua dignidade de “livro por excelência” e o seu lugar único na vida dos povos que tiveram o primado na civilização. Ela é, com efeito, o fundamento e o alimento da fé para todos os povos cristãos, e nenhum outro livro no mundo pode ser a ela comparado, nem de longe, seja pelo número de tiragens de edições, quer manuscritas, quer impressas, seja pela influência sobre a vida individual e pública, sobre a literatura e as artes figurativas. Qualquer fiel sinceramente apegado à sua religião tem-na, por assim dizer, constantemente em mão, como Jonatas o apontava, para nela encontrar conforto em todas as vicissitudes da vida.

DIVISÃO E NÚMERO DE LIVROS. CÂNON. Com o nome de Bíblia, pois, compreendem-se os livros sagrados da religião cujo centro é Jesus Cristo. Partindo deste ponto de convergência, a Bíblia divide-se em duas séries desiguais, a primeira, anterior a Jesus Cristo, a segunda, posterior. A primeira chama-se Antigo Testamento, a segunda Novo Testamento, conceito e vocábulo esses tomados da própria Bíblia.

O Antigo Testamento consta dos livros seguintes, comumente agrupados em quatro classes:

V Pentateuco ou cinco livros de Moisés: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números, Deuteronômio.

Livros históricos: Josué, Juízes, Rute, Reis, Crônicas, Esdras e- Neemias, Tobias, Judite, Ester, Macabeus.

3? Livros didáticos ou poéticos: Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes, Cântico dos Cânticos, Sabedoria, Eclesiástico (ou Sabedoria de Jesus, filho de Sirac).

Livros proféticos: Isaías, Jeremias, Lamentações, Baruc, Ezequiel, Daniel, os Doze profetas menores, isto é: Amós, Oséias, Joel, Abdias, Jonas, Miquéias, Naum, Habacuc, Sofonias, Ageu, Zacarias, Malaquias.

No Novo Testamento, o primeiro e mais conspícuo lugar compete aos quatro Evangelhos: segundo Mateus, Marcos, Lucas, João. Seguem-se: um livro histórico, os Atos dos Apóstolos; catorze epístolas de S. Paulo: aos Romanos, duas aos Coríntios, aos Gálatas,aos Efésios, aos Filipenses, aos Colossenses, duas aos Tessalonicenses, duas a Timóteo, uma a Tito, a Filemon, aos Hebreus; sete epístolas chamadas católicas, ou canónicas: uma de Tiago, duas de Pedro, três de João, uma de Judas; finalmente, um livro profético, o Apocalipse.

O elenco oficial dos livros sagrados chama-se cânon, no sentido de norma. Expusemos aqui o cânon católico, formado já no séc. IV nas cartas pontifícias e nos concílios provinciais da África, sancionado depois solenemente pelos concílios ecumênicos de Florença (1441) e de Trento (1546) e confirmado pelo Concílio Vaticano I (1870). Para a integridade do cânon não importa a ordem dos livros, porque, exceto o primeiro lugar reservado constantemente, no Antigo Testamento, ao Pentateuco e no Novo, aos Evangelhos, no restante diferem muito entre si os manuscritos, os autores, os catálogos oficiais de igrejas e de seitas.

 

 

Os livros históricos mais extensos do Antigo Testamento, Samuel-Reis e Crônicas, na antiquíssima versão grega (dos LXX, veja abaixo), por razões práticas foram divididos em dois; além disso, considerando Samuel e Reis como uma obra só, chegou-se a contar 4 livros dos Reis e dois das Crônicas, costume esse que se estendeu aos latinos e dura ainda em parte entre nós. No texto hebraico, adotada semelhante divisão, conhecem-se dois livros de Samuel, dois dos Reis, dois das Crônicas. Esdras e Neemias são chamados também de primeiro e segundo de Esdras. Também dos Macabeus contam-se dois livros, que na realidade são duas obras perfeitamente distintas. Na Vulgata, a Carta de Jeremias constitui o último cap. (6?) de Baruc. Tudo bem calculado, o Antigo Testamento consta de quarenta e seis livros, o Novo, de vinte e sete.

Por razões igualmente práticas, desde os primeiros séculos da nossa era, cada livro foi dividido em seções de várias extensões, conforme sistemas bastante diversos para lugares e épocas. Para eliminar os inconvenientes dessas antigas divisões e facilitar o estudo uniforme, no início do séc. XIII, na Universidade de Paris, Estêvão Langton (depois cardeal) introduziu a divisão em capítulos de extensão mediana, que depois, pela sua utilidade prática, propagou-se em todas as escolas e em todas as edições, e é ainda hoje de uso universal, agora insubstituível.

Mais tarde, no séc. XVI, os mesmos capítulos foram divididos em versículos numerados (por Sante Pagnini, para o Antigo Testamento [1528], por Roberto Estêvão, para o Novo [1550]), tendo sido também essa numeração, pela comodidade das citações, aceita logo e perdura até agora em toda parte. Entende-se, entretanto, que essas divisões são apenas de valor prático, não científico.

LÍNGUAS ORIENTAIS E CÂNONES DIVERSOS. O Novo Testamento inteiro foi escrito em grego; só o Evangelho de Mateus, conforme testemunhos de antigos, teve uma primeira redação em aramaico, a qual, porém, se perdeu sem deixar vestígios; em lugar dela temos uma tradução, ou melhor, uma redação grega.

Quanto ao Antigo Testamento, temos três idiomas originais. A maior parte foi escrita e chegou até nós em língua hebraica. Alguns capítulos dos livros de Esdras e de Daniel, e um versículo de Jeremias, estão em aramaico, que foi o idioma falado na Palestina depois do exílio babilónico (séc. VI a.C). Dois livros, o segundo dos Macabeus e a Sabedoria, foram escritos originariamente em grego. Dos livros de Judite, Tobias, Baruc, Eclesiástico e parte também de Daniel e Ester, perdeu-se, como no caso do Evangelho de Mateus, o texto original, hebraico ou aramaico, sendo substituído pela versão grega.

Essas diferenças lingüísticas não deixaram de exercer a sua influência sobre a extensão do cânon dos livros sagrados. Enquanto os judeus disseminados no mundo greco-romano não tinham dificuldades em introduzir os livros redigidos em grego, os judeus da Palestina não queriam conformar-se com isso. Além disso, foi-se formando entre eles a opinião de que, depois de Esdras (séc. V a.C), faltando ou sendo incerto o dom profético (veja IMac 4,46; 14,41), nem sequer admitiam pudessem ser escritos livros inspirados por Deus. Por isso, quando nos fins do séc. I d.C, os doutores da Sinagoga fixaram o cânon das Sagradas Escrituras, foram excluídos até os livros escritos em hebraico depois daquela época, como o Eclesiástico. Daí resultou um cânon hebraico em que faltam sete livros: Tobias, Judite, os dois dos Macabeus, Sabedoria, Eclesiástico, Baruc e a Carta de Jeremias, e mais algumas partes de Ester e de Daniel.

O veredito dos doutores hebreus não deixou de repercutir na Igreja cristã. Enquanto no uso comum se difundia o cânon mais pleno, concretizado na versão dos LXX, empregada e recomendada pelos apóstolos, alguns escritores (Melitão de Sardes, Sto. Atanásio de Alexandria, S. Gregório de Nazianzo, entre os gregos; Sto. Hilário de Poitiers, Rufino de Aquilêia e principalmente S. Jerônimo, entre os latinos) adotaram o cânon mais restrito dos hebreus, e, devido à autoridade desses antigos doutores cristãos, toda hesitação entre os católicos não foi eliminada senão pelo sagrado Concílio de Trento (1546).

No entanto, em virtude de tais vozes discordantes da crença comum, chegou-se a fazer distinção entre “livros reconhecidos” (homologúmenos), admitidos por todos (os do cânon hebraico), e “livros controversos” (antilogúmenos), não admitidos por todos, os oito acima enumerados, constantes do cânon cristão. Na terminologia moderna, os primeiros se chamam protocanônicos, os segundos deuterocanônicos, ou seja, canónicos de primeira e de segunda época, à medida que a unanimidade a seu respeito foi alcançada logo no começo ou só mais tarde. Entende-se, porém, que, com esses vocábulos, não se queria distinguir o valor ou a autoridade das duas categorias de livros, e sim lembrar somente um fato histórico e servir para maior brevidade e clareza no tratamento destas matérias. Analogamente, no Novo Testamento, por outras razões, porém, alguns livros nem sempre foram admitidos, e nem em todas as Igrejas, entre as divinas Escrituras; tais como a Epístola aos Hebreus, a de Tiago, a segunda de Pedro, a segunda e terceira de João, a de Judas e o Apocalipse; aos quais, por isso, também se aplicou a designação de deuterocanônicos, no sentido explicado.

Tudo o que foi dito até aqui vale para os autores católicos. Compreende-se que os hebreus rejeitem, em sua totalidade, o Novo Testamento, além dos deuterocanônicos do Antigo. Os protestantes ocupam uma posição de meio termo. No Novo Testamento, depois das primeiras incertezas de seus fundadores admitiram integralmente e sem distinção o Cânon católico. No An-tigo Testamento, ao invés, seguindo o cânon mais restrito dos hebreus, rejeitam, como fora da série dos livros sagrados, sob o nome de “apócrifos”, os que nós chamamos deuterocanônicos.

Para os católicos, os apócrifos são certos livros antigos, semelhantes a livros bíblicos, quer do Novo, quer do Antigo Testamento, o mais das vezes atribuídos a personagens bíblicas, mas não inspirados, como os livros canónicos, e nem sempre escritos por pessoas fidedignas, nem de doutrina segura. Os apócrifos do Antigo Testamento .são chamados “pseudo-epígrafospelos protestantes.

 link de acesso: http://www.pr.gonet.biz/biblia.php  

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