Browsing Tag

O Profeta Miqueias: “A esperança é a última que morre”

O Profeta Miqueias: “A esperança é a última que morre”

0814micah-prophet0010

 Personalidade e escritos do profeta Miqueias

No mês da Bíblia do ano de 2016, o livro bíblico a ser estudado e meditado é o do profeta Miqueias. O tema é: “A profecia em defesa da vida”. O lema é uma frase do próprio livro de Miqueias: “Praticar o direito, amar a misericórdia, caminhar humildemente com o teu Deus” (Mq 6,8).

1 A vida do profeta Miqueias

Sabemos muito pouco a respeito da vida do profeta Miqueias. O primeiro versículo do livro dele (Mq 1,1) traz cinco breves informações a respeito do nome, do lugar, da época, da missão e do destino das suas profecias. Estas cinco pequenas janelas deixam entrever várias coisas a respeito da vida e da atuação de Miqueias como profeta. Eis o texto:

“Palavra do YHWH dirigida a Miqueias de Morasti, no tempo em que Joatão, Acaz e Ezequias eram reis de Judá. Palavra que lhe foi dirigida em visão a respeito de Samaria e Jerusalém”.

Nome

Miqueias ou Mi-ca-ya significa “Quem é como Yhwh?” Este nome é uma profissão de fé. Deixa entrever a profunda experiência de Deus como Yhwh, que marcou a vida do profeta Miqueias.

Lugar

Miqueias é natural de Morasti. Morasti era um pequeno povoado de camponeses perto da cidade de Gat (cf. Mq 1,14) na fronteira com os Filisteus. Fazia parte do reino de Judá, sendo uma aldeia na fronteira com o território dos Filisteus, que eram inimigos do povo de Deus. Morasti era rodeada por fortalezas e quartéis do reino de Judá com seus soldados e ofi­ciais que deviam garantir a segurança do reino (cf. Mq 5,10). O pagamento dos oficiais do exército do rei era feito com terras, muitas vezes roubadas do povo (cf. 1Sm 8,14-17). Por isso, o ambiente em que Miqueias viveu era marcado por latifúndio, altos impostos, aldeias saqueadas, roubos, tra­balhos forçados e prostituição.

Época

Miqueias atuou como profeta durante os governos dos reis Joatão (740-736), Acaz (736-716) e Ezequias (716-687), isto é, entre os anos 740 e 687. O texto diz que algumas das palavras de Deus para Miqueias se referiam a Samaria, que foi destruída pelos assírios em 722. Nas suas pro­fecias, Miqueias faz alusão a um desastre militar que arrasou grande parte das cidades de Judá (cf. Mq 1,10-16). Trata-se da invasão do exército da Assíria que aconteceu em 701 (cf. Is 5,26-30). Isso significa que a atua­ção profética de Miqueias começou antes de 722 e foi até depois de 701. Miqueias era contemporâneo dos profetas Oseias e Isaías, que atuaram na mesma época: Oseias na Samaria, Isaías em Jerusalém.

Missão

O texto diz que Miqueias recebia a palavra de YHWH em visão. Re­ceber a palavra em visão refere-se à visão de fé com que o profeta costuma olhar para Deus e para povo. Por viverem compenetrados da presença de Deus, os profetas olhavam para a situação do povo com o olhar de Deus, “olhar penetrante” (cf. Nm 24,3.15), e assim descobriam os apelos de Deus que eles deviam anunciar ao povo. Receber a palavra de Deus em visão sig­nifica ainda que não eram palavras que Miqueias inventava, mas sim pala­vras que vinham da parte de Deus para serem transmitidas aos outros.

Destino

O destino das palavras de Deus não era para o próprio Miqueias, mas para os governantes e habitantes das duas capitais: Samaria e Jeru­salém. Samaria era a capital do reino do norte, também chamado reino de Israel. Jerusalém era a capital do reino de Judá, no sul.

Cem anos depois de Miqueias, já na época do profeta Jeremias, em torno do ano 590, a atuação do profeta Miqueias ainda era lembrada pelos anciãos do povo. Foi quando os chefes do governo e os falsos profetas qui­seram matar o profeta Jeremias, que os incomodava. Eis o texto do livro de Jeremias a respeito da atuação de Miqueias:

Os príncipes e todo o povo disseram, então, aos sacerdotes e aos profetas: “Este homem (Jeremias) não merece a morte, pois foi em nome de Yhwh nosso Deus que ele nos falou”. E alguns anciãos do país tomaram, então, a palavra e, dirigindo-se a todo o povo reunido, disseram: “Miqueias de Morasti foi um profeta no tempo de Ezequias, rei de Judá. Ele disse a todo o povo de Judá: ‘Assim disse Yhwh dos Exércitos: Sião será arado como um campo, Jerusalém se tornará um montão de ruínas, e o monte do Tem­plo será uma colina cheia de mato’ (cf. Mq 3,12). Por acaso Ezequias, rei de Judá, ou o próprio povo de Judá mataram Miqueias? Por acaso não temeram a Yhwh e o acalmaram? E de fato, Yhwh desistiu da ameaça que havia lançado contra eles. Nós, porém, estamos para cometer um grande crime contra nós mesmos! (Jr 26,16-19).

Esta informação do livro de Jeremias mostra que Miqueias foi um profeta que marcou a história do povo. Depois de mais de cem anos, suas palavras ainda eram lembradas como palavras de fogo e de grande auto­ridade. Miqueias deve ter tido uma personalidade forte, portadora de uma palavra forte.

2 A personalidade do profeta Miqueias

Mesmo tendo poucas informações diretas sobre a vida de Miqueias, temos as profecias, as palavras que ele pronunciou. Poucas palavras, ape­nas sete capítulos. Apesar disso, permitem adivinhar algo a respeito da personalidade de Miqueias. Eis alguns tópicos que transparecem nas suas profecias:

Miqueias era um homem do povo, bem do interior. Criado na roça, sua linguagem é simples e direta: pão, pão! queijo, queijo! Não usa meio termo e vai direto ao assunto. Ele vive muito identificado com o povo da roça, que era explorado e oprimido pelos grandes (Mq 2,1-2). Miqueias é um lavrador que observava como as terras dos pobres eram tomadas e invadidas (Mq 2,2). Ele denuncia a terrível dominação que os grandes im­punham ao povo trabalhador (Mq 3,3; 3,9-11). Faz denuncias muito fortes contra Judá e contra Samaria e indica as causas: exploração, latifúndio, propinas, corrupção, vontade de ganhar dinheiro sem preocupação com os pobres.

Miqueias era um homem pé no chão, que alimentava sua fé a partir das histórias que ele ouvia do seu povo, desde criança, em casa e nas ce­lebrações, as quais ele deve ter aprofundado nas reuniões da comunidade local. Em suas profecias, ele lembra Abraão e Jacó (Mq 7,20), o Êxodo e os nomes de Moisés, Aarão e Miriam, a irmã de Moisés (Mq 6,4; 7,15). Evoca as histórias de Balac, rei de Moab, e do profeta Balaão (Mq 6,5). Ele lembra “o que aconteceu desde Setim até Guilgal” (Mq 6,5), isto é, por ocasião da travessia do rio Jordão quando o povo entrou na terra prometida (cf. Nm 25,1; Js 2,1; 3,1; 4,19-24). Lembra os “tempos remotos” de quan­do Davi foi ungido como rei em Belém (Mq 5,1; cf. 1Sm 16,1-13). Lembra os crimes e as injustiças praticadas pelos reis Amri e Acab, reis de Israel (cf. Mq 6,16).

Miqueias era um homem de esperança. Ele lembra como era a vida do povo no passado, bem no começo, “nos dias da saída da terra do Egito” (Mq 7,15). Ele espera o mesmo para o futuro: terra ampla, desde Galaad até Basan, desde o Mar Morto até o Mar Mediterrâneo, desde a montanha do Hermon até o Monte Horeb, a montanha de Deus (cf. Mq 7,11-12.14). Assim, ele transforma a saudade em esperança. Compara este passado tão bonito com a situação presente, em que ele e os pequenos eram obrigados a viver. E se pergunta: Por que as coisas são assim? Não deveriam ser assim! Então, como deveriam ser? É aqui que entra o significado do nome. Ele se chama Miqueias, Mi-ca-ya, “quem é como Yhwh!?” Desde pequeno, ele deve ter se perguntado muitas vezes: Por que me deram este nome? O que significa este nome para mim, para minha missão? Todas essas coisas fo­ram provocando as profecias de Miqueias, conservadas nos sete capítulos do livro que traz o seu nome.

Autores: Carlos Mesters e Francisco Orofino

Open chat
Pular para a barra de ferramentas