Jovens de fogo
Três grandes ideias dominam a espiritualidade de Santa Teresinha, de Santa Margarida Maria e do Beato Monfort que podem ser para nós balsamos na vida espiritual.
- O abandono filial de Santa Teresinha.
- A união amorosa de Santa Margarida Maria.
- A dependência total do Beato Monfort.
Mas no que consiste cada uma delas? Leia mais…
O livro do profeta Zacarias é escrito em duas partes e duas épocas distantes:
1ª Parte: Zacarias 1-8, o livro fala sobre a volta do Exílio e as promessas de restauração com a vinda do messias. Com uma data precisa 520 a C.
2º Parte Zacarias 9-14, o Autor profetiza uma coleção de oráculos anônimos, do século 3 a C.
Contexto: A volta do exilio e a restauração do templo ano 515 a C, como vimos no estudo anterior do profeta Ageu.
Zacarias começa sua obra com uma dura exortação:
“O Senhor ficou extremamente irritado contra os vossos antepassados. Dirás, então, a eles: Assim diz o Senhor dos exércitos: Voltai para mim, que eu voltarei a vós!, diz o Senhor dos exércitos (Zac 1,2-3).
O profeta recorda os Israelitas sobre a infidelidade dos primeiros pais. A primeira geração que foi libertada do Egito, mas pereceu sem entrar na terra prometida por causa da dureza de coração. Esse foi o real motivo da destruição do primeiro templo no ano 586 pelas mãos dos Babilônios, e depois de setenta anos a mesma desgraça não deveria acontecer. Por isso o profeta chama os mesmos a conversão para que a mão de Deus possa abençoar toda a nação: “Voltai para mim, que eu voltarei a vós!”
O templo foi restaurado pelas mãos do governador Zorobabel e do sacerdote Josué. Eles são o “germe” (Zac 3,8; Zac 6,12), da estirpe de Davi.
Zacarias profetizou que essa restauração não aconteceria por forças humanas, mas pelo poder do Espírito Santo: “Respondeu: ‘Esta é a palavra do Senhor para Zorobabel: Não será com a força nem com o poder e sim com o meu espírito, diz o Senhor dos exércitos”.
Zacarias tem visões desse acontecimento e vibra com a vinda do messias, messias que viria em um jumentinho ‘“Dança de alegria, filha de Sião, dá vivas, filha de Jerusalém, pois agora o teu rei está chegando, justo e vitorioso. Ele é pobre, vem montado num jumento, num burrico, filhote de jumenta” (Zac 9,9). Os apóstolos recordaram dessa profecia, e virão o cumprimento em Jesus, quando ele entrou em Jerusalém em glória sentado em um jumentinho (João 12,15).
Esse é um temas mais fortes do livro: A restauração que acontecerá com a vinda do messias!
Zacarias revela o motivo de por que o messias virá: O Senhor é apaixonado por Jerusalém!
“Assim diz o Senhor dos exércitos: Sou muito apaixonado por Sião, estou fervendo de paixão por ela.Assim diz o Senhor: Voltarei para Sião, vou morar de novo dentro de Jerusalém. Jerusalém será chamada ‘cidade fiel’. A montanha do Senhor dos exércitos terá o nome de Montanha Santa” (Zac 8,2-3).
Zacarias revela que o amor de Deus pelo seu povo, o amarra e prende de zelo pela restauração de Israel, assim aqueles que se levantam contra Jerusalém levantam contra o próprio Senhor:
(Zac 2,12) Pois assim diz o Senhor dos exércitos, cuja glória me enviou às nações que vos roubaram: Quem toca em vós está tocando na pupila dos meus olhos!
Uma outra característica do livro de Zacarias é sua linguagem apocalíptica, Zacarias apresenta oito visões que são revelações de Deus agindo na história de forma simbólica, para concluir apresento alguns significados que facilitarão sua leitura bíblica:
• Cavalo: Poder
• Corda: Extensão, alargar.
• Veste de gala: Gloria de Deus
• Candelabro: Jerusalém, Igreja.
• Oliveira: lugar de descanso,
• Azeite: Unção
• O livro: A palavra da profecia
• Sete olhos: conhecimento de Deus.
• Carruagem: Deus agindo na história.
O livro de Zacarias é uma bela exortação profética para nossos dias: “Voltai para mim e eu voltarei para vós” o Senhor nos ama e vibra por nossa restauração, por isso nunca desistira de nós.
O livro do profeta Ageu fala sobre a reconstrução do templo. No ano 586 o primeiro templo construído por Salomão foi destruído pelos babilônios onde ficaram por 70 anos. Mas Deus não abandonou a obra de suas mãos, o Senhor levantou um outro império os persas que através do rei Ciro venceram os babilônios 539 a C, e Ciro no ano 515 a C, assina um decreto dando legalidade para que os Israelitas então cativos pudessem retornar a sua pátria para reconstruir o templo (veja 2 Cr 36,23 e Esdras 1 ,1-4).
O texto faz uma dura crítica aos Israelitas:
5,7 Pois agora, assim diz o Senhor dos exércitos: Prestai atenção ao vosso modo de viver!
Os Israelitas estavam acomodados vivendo em suas casas, enquanto à casa do Senhor não estava sendo construída.
O templo para os Israelitas era um lugar de suma importância, era o vínculo de culto com Deus, lugar onde Deus se manifestava e sua palavra era pronunciada. O aparente desinteresse os mesmos em construir novamente o templo revelava que a fé de muitos estava desfalecendo em seus corações.
Então o Senhor levanta o profeta Ageu e também o profeta Zacarias para exortarem os mesmos a se arrependerem de sua falta de interesse pelas coisas de Deus.
(V,5-8) Pois agora, assim diz o Senhor dos exércitos: Prestai atenção ao vosso modo de viver!
Plantais muito e colheis pouco, comeis e não ficais satisfeitos, bebeis e não matais a sede, vestis as roupas e não esquentais o corpo e o trabalhador está guardando seu salário numa sacola furada. Prestai atenção ao vosso modo de viver! Subi à montanha para tirar madeira e construir minha Casa. Vou gostar dela e vou me sentir honrado, diz o Senhor.
Sobre essa casa o Senhor fez uma grande promessa:
(Ageu 2,9) O esplendor desta Casa será maior que o da antiga, diz o Senhor dos exércitos; e é neste Lugar que concederei a felicidade, oráculo do Senhor dos exércitos”.
Lições:
1º Não podemos parar as obra de Deus!
A casa de Deus não pode ser abandonada, Ageu exorta: Prestai atenção em vossa maneira de viver! Sem uma busca de santificação diária, nos tornamos semelhantes a trabalhadores que guardam seu salário em uma sacola furada.
2º A glória da segunda casa será maior do que a primeira!
O Senhor em toda Bíblia promete um reavivamento espiritual para seu povo, Deus é fiel e nunca abandonará a obra de suas mãos. Creia o melhor de Deus está por vir!
Personalidade e escritos do profeta Miqueias
No mês da Bíblia do ano de 2016, o livro bíblico a ser estudado e meditado é o do profeta Miqueias. O tema é: “A profecia em defesa da vida”. O lema é uma frase do próprio livro de Miqueias: “Praticar o direito, amar a misericórdia, caminhar humildemente com o teu Deus” (Mq 6,8).
1 A vida do profeta Miqueias
Sabemos muito pouco a respeito da vida do profeta Miqueias. O primeiro versículo do livro dele (Mq 1,1) traz cinco breves informações a respeito do nome, do lugar, da época, da missão e do destino das suas profecias. Estas cinco pequenas janelas deixam entrever várias coisas a respeito da vida e da atuação de Miqueias como profeta. Eis o texto:
“Palavra do YHWH dirigida a Miqueias de Morasti, no tempo em que Joatão, Acaz e Ezequias eram reis de Judá. Palavra que lhe foi dirigida em visão a respeito de Samaria e Jerusalém”. |
Nome
Miqueias ou Mi-ca-ya significa “Quem é como Yhwh?” Este nome é uma profissão de fé. Deixa entrever a profunda experiência de Deus como Yhwh, que marcou a vida do profeta Miqueias.
Lugar
Miqueias é natural de Morasti. Morasti era um pequeno povoado de camponeses perto da cidade de Gat (cf. Mq 1,14) na fronteira com os Filisteus. Fazia parte do reino de Judá, sendo uma aldeia na fronteira com o território dos Filisteus, que eram inimigos do povo de Deus. Morasti era rodeada por fortalezas e quartéis do reino de Judá com seus soldados e oficiais que deviam garantir a segurança do reino (cf. Mq 5,10). O pagamento dos oficiais do exército do rei era feito com terras, muitas vezes roubadas do povo (cf. 1Sm 8,14-17). Por isso, o ambiente em que Miqueias viveu era marcado por latifúndio, altos impostos, aldeias saqueadas, roubos, trabalhos forçados e prostituição.
Época
Miqueias atuou como profeta durante os governos dos reis Joatão (740-736), Acaz (736-716) e Ezequias (716-687), isto é, entre os anos 740 e 687. O texto diz que algumas das palavras de Deus para Miqueias se referiam a Samaria, que foi destruída pelos assírios em 722. Nas suas profecias, Miqueias faz alusão a um desastre militar que arrasou grande parte das cidades de Judá (cf. Mq 1,10-16). Trata-se da invasão do exército da Assíria que aconteceu em 701 (cf. Is 5,26-30). Isso significa que a atuação profética de Miqueias começou antes de 722 e foi até depois de 701. Miqueias era contemporâneo dos profetas Oseias e Isaías, que atuaram na mesma época: Oseias na Samaria, Isaías em Jerusalém.
Missão
O texto diz que Miqueias recebia a palavra de YHWH em visão. Receber a palavra em visão refere-se à visão de fé com que o profeta costuma olhar para Deus e para povo. Por viverem compenetrados da presença de Deus, os profetas olhavam para a situação do povo com o olhar de Deus, “olhar penetrante” (cf. Nm 24,3.15), e assim descobriam os apelos de Deus que eles deviam anunciar ao povo. Receber a palavra de Deus em visão significa ainda que não eram palavras que Miqueias inventava, mas sim palavras que vinham da parte de Deus para serem transmitidas aos outros.
Destino
O destino das palavras de Deus não era para o próprio Miqueias, mas para os governantes e habitantes das duas capitais: Samaria e Jerusalém. Samaria era a capital do reino do norte, também chamado reino de Israel. Jerusalém era a capital do reino de Judá, no sul.
Cem anos depois de Miqueias, já na época do profeta Jeremias, em torno do ano 590, a atuação do profeta Miqueias ainda era lembrada pelos anciãos do povo. Foi quando os chefes do governo e os falsos profetas quiseram matar o profeta Jeremias, que os incomodava. Eis o texto do livro de Jeremias a respeito da atuação de Miqueias:
Os príncipes e todo o povo disseram, então, aos sacerdotes e aos profetas: “Este homem (Jeremias) não merece a morte, pois foi em nome de Yhwh nosso Deus que ele nos falou”. E alguns anciãos do país tomaram, então, a palavra e, dirigindo-se a todo o povo reunido, disseram: “Miqueias de Morasti foi um profeta no tempo de Ezequias, rei de Judá. Ele disse a todo o povo de Judá: ‘Assim disse Yhwh dos Exércitos: Sião será arado como um campo, Jerusalém se tornará um montão de ruínas, e o monte do Templo será uma colina cheia de mato’ (cf. Mq 3,12). Por acaso Ezequias, rei de Judá, ou o próprio povo de Judá mataram Miqueias? Por acaso não temeram a Yhwh e o acalmaram? E de fato, Yhwh desistiu da ameaça que havia lançado contra eles. Nós, porém, estamos para cometer um grande crime contra nós mesmos! (Jr 26,16-19).
Esta informação do livro de Jeremias mostra que Miqueias foi um profeta que marcou a história do povo. Depois de mais de cem anos, suas palavras ainda eram lembradas como palavras de fogo e de grande autoridade. Miqueias deve ter tido uma personalidade forte, portadora de uma palavra forte.
2 A personalidade do profeta Miqueias
Mesmo tendo poucas informações diretas sobre a vida de Miqueias, temos as profecias, as palavras que ele pronunciou. Poucas palavras, apenas sete capítulos. Apesar disso, permitem adivinhar algo a respeito da personalidade de Miqueias. Eis alguns tópicos que transparecem nas suas profecias:
Miqueias era um homem do povo, bem do interior. Criado na roça, sua linguagem é simples e direta: pão, pão! queijo, queijo! Não usa meio termo e vai direto ao assunto. Ele vive muito identificado com o povo da roça, que era explorado e oprimido pelos grandes (Mq 2,1-2). Miqueias é um lavrador que observava como as terras dos pobres eram tomadas e invadidas (Mq 2,2). Ele denuncia a terrível dominação que os grandes impunham ao povo trabalhador (Mq 3,3; 3,9-11). Faz denuncias muito fortes contra Judá e contra Samaria e indica as causas: exploração, latifúndio, propinas, corrupção, vontade de ganhar dinheiro sem preocupação com os pobres.
Miqueias era um homem pé no chão, que alimentava sua fé a partir das histórias que ele ouvia do seu povo, desde criança, em casa e nas celebrações, as quais ele deve ter aprofundado nas reuniões da comunidade local. Em suas profecias, ele lembra Abraão e Jacó (Mq 7,20), o Êxodo e os nomes de Moisés, Aarão e Miriam, a irmã de Moisés (Mq 6,4; 7,15). Evoca as histórias de Balac, rei de Moab, e do profeta Balaão (Mq 6,5). Ele lembra “o que aconteceu desde Setim até Guilgal” (Mq 6,5), isto é, por ocasião da travessia do rio Jordão quando o povo entrou na terra prometida (cf. Nm 25,1; Js 2,1; 3,1; 4,19-24). Lembra os “tempos remotos” de quando Davi foi ungido como rei em Belém (Mq 5,1; cf. 1Sm 16,1-13). Lembra os crimes e as injustiças praticadas pelos reis Amri e Acab, reis de Israel (cf. Mq 6,16).
Miqueias era um homem de esperança. Ele lembra como era a vida do povo no passado, bem no começo, “nos dias da saída da terra do Egito” (Mq 7,15). Ele espera o mesmo para o futuro: terra ampla, desde Galaad até Basan, desde o Mar Morto até o Mar Mediterrâneo, desde a montanha do Hermon até o Monte Horeb, a montanha de Deus (cf. Mq 7,11-12.14). Assim, ele transforma a saudade em esperança. Compara este passado tão bonito com a situação presente, em que ele e os pequenos eram obrigados a viver. E se pergunta: Por que as coisas são assim? Não deveriam ser assim! Então, como deveriam ser? É aqui que entra o significado do nome. Ele se chama Miqueias, Mi-ca-ya, “quem é como Yhwh!?” Desde pequeno, ele deve ter se perguntado muitas vezes: Por que me deram este nome? O que significa este nome para mim, para minha missão? Todas essas coisas foram provocando as profecias de Miqueias, conservadas nos sete capítulos do livro que traz o seu nome.
Autores: Carlos Mesters e Francisco Orofino
INTRODUÇÃO AOS PROFETAS MENORES
OSÉIAS
O profeta Oséias era natural do reino de Israel ou Efraim, como se costuma chamar. Profetizou sob o reinado de Jeroboão II e de seu sucessor, a partir da queda de Samaria e de todo o reino (721 a.C).
Os três primeiros capítulos do livro de Oséias formam um conjunto todo especial. Sob a forma de drama simbólico é-nos posta diante dos olhos a infidelidade do povo de Israel para com o seu Deus, representada, figuradamente, na infidelidade duma esposa para com seu legítimo marido; anuncia-se o seu castigo, mas também o seu arrependimento, a sua reconciliação e, enfim, sua vida renovada e mais feliz (2,16-24; cf. 2,1-2; 3,5).
Nos capítulos restantes (4-14) voltam os mesmos motivos, a saber: a culpa de Israel, principalmente as práticas idolátricas, o culto do bezerro de Betei, as alianças com os poderosos pagãos, a Assíria e o Egito, a falta de confiança e de apelo ao único Deus; daí os castigos proporcionados às culpas. Nem faltam vislumbres dum retorno a Deus e dum futuro melhor. Nesta sucessão de quadros, o mais das vezes obscuros, pode-se notar certo progresso. No c. 1 os acontecimentos políticos que, entre 745 e 725 a.C. elevaram tantos reis ao trono e outros tantos derrubaram dele, aparecem como fatos já passados; no c. 13 o castigo do povo ingrato é anunciado já como sentença irrevogável de uma destruição total do reino, e no último, o 14, com cores mais ricas e suaves promete-se a salvação definitiva.
No estilo de Oséias sucedem-se, em breves sentenças, pinceladas rápidas, imagens ousadas, passagens bruscas e como por saltos. Seu vocabulário ê rico, e seu estilo característico, devido, talvez, às particularidades do dialeto de sua região. Por estas mesmas razões o seu texto, maltratado pelos copistas, conservou-se num estado assaz deplorável. Desse complexo de causas origina-se a obscuridade desmesurada deste livro. Escrito no reino de Israel, foi-nos conservado e transmitido por mãos judaicas, através das quais é verossímil que tenha sofrido retoques lingüísticos e talvez também algum acréscimo, como a menção do reino de Judá nalguns contextos onde menos se esperariam (cf. 5,5;6, 11).
Das páginas de Oséias transparece um caráter impressionante, ardente e patético a um só tempo, mas sensível sobretudo às ternuras e às fogosidades do amor. Sob este aspecto é um precursor de Jeremias. Particularmente suas são as muitas reminiscências da antiga história do povo de Israel, sobretudo do patriarca Jacó, que tornam duplamente precioso o seu livro, cuja extensão supera, em três ou quatro partes a maioria dos doze profetas menores.
O método de Oséias se destaca peta descrição das relações entre Deus e Israel propostas sob a figura do amor conjugal. Ele é o primeiro profeta que recorre a esta comparação tão fecunda e repetida pelos profetas seguintes. A bem dizer, ele insiste mais no aspecto negativo do matrimônio, nas infidelidades e nas rupturas, do que no amor propriamente dito. A descrição deste amor será reservada ao Cântico dos Cânticos. A Oséias, pelo contrário, Deus faz sentir as suas amarguras de esposo traído, ameaçando e executando os duros castigos que o caso reclama. Tudo termina com a expectativa da reconciliação dos esposos a da restauração.
JOEL
O nome de Joel (hebr. Jõ’el = Javé é Deus) ocorre umas quinze vezes no Antigo Testamento. Discute-se até agora a respeito da época em que teria vivido o profeta Joel; mas pouco nos adianta examinarmos sua vida, pois chegaremos às mais desencontradas conclusões. Com maior atenção devemos, por isso, entregar-nos à leitura do próprio texto.
Distingue-se Joel pela amplitude e vivacidade das descrições, que constituem quase toda a matéria do seu livro. Ao contrário dos grandes profetas, Joel jamais especifica as faltas censuradas por ele; contenta-se com a exortação geral: “Voltai a Deus de todo o coração” (2, 12). Além disso, jamais menciona rei ou reino. Isso induziu a maior parte dos modernos a situar o profeta numa época posterior ao exílio, à qual parecem convir melhor as condições sociais e históricas próprias de sua mensagem. Joel conhece a dispersão do povo de Israel entre as nações e descreve sumariamente os seus horrores (3,1-6). Na sua mensagem já não se dirige aos reis, mas somente aos anciãos (1,2) e aos sacerdotes (1, 13). São indícios que mostram que a organização prê-exílica acabou, e, que, portanto, o livro não é dessa época.
Importante ê o (<Dia de Javé” (em nossa tradução “Dia do Senhor”,), na primeira parte, referência a um castigo grave, mas transitório. Na segunda parte, com cores sombrias e insistência, refere-se ao castigo definitivo dos infiéis.
AMOS
Os críticos modernos consideram Amós, e com razão, como o primeiro dos profetas escritores (cf. Am 1,1 com Os 1,1 e Is 1,1). O seu livro, por raros méritos de estilo e de substância, é realmente digno de abrir a inestimável literatura profética de Israel. Acrescentam valor às suas mensagens as humildes origens do profeta e sua vocação, na qual brilha tanto mais intensamente a força do seu espírito sobre-humano.
O profeta Amós é distinto de Amós, pai do profeta Isaías (Is 1,1: os dois nomes são de grafia diferente no hebraico). O livro fornece-nos bastante pormenores sobre sua vida. Natural de Técua, aldeia situada a uns 8 km ao sul de Belém, tirava o seu sustento do pastoreio de rebanhos e do cultivo de sicómoros, cujos frutos constituíam o alimento da gente pobre (Am 1,1;7,14). Corriam os tempos dos longos e prósperos reinados de Ozias, em Judá (cf. 2Rs 15,2.5) e de Jeroboão II, em Israel (783-743 a.C), que davam à nação poder e riqueza de que há muito tempo não gozava. Daí que a própria religião auferia vantagens, pela abundância das vítimas imoladas nos altares e pela pompa dos ritos. Mas ficaram prejudicadas a moral e a piedade sincera, os costumes pioravam, e os israelitas, deslumbrados pela prosperidade, caminhavam alegres e inconscientes para a ruína. Crescia, para infelicidade deles, o poderio assírio. Nesta altura, o humilde pastor de Técua sente-se chamado a pregar o arrependimento aos desavisados, revelando aos culpados os castigos iminentes. E ei-lo a percorrer, vaticinando, as cidades de Israel Enfrentou corajosamente a oposição dos sacerdotes de Betel, o principal santuário do reino (Am 7,10-17); depois, não se sabe qual tenha sido o seu fim. Uma tradição conservada pelo ignoto autor das “Vidas dos profetas” e acolhida no Martirológio Romano a 31 de março, narra que, ferido na têmpora com uma maçã, pelo filho do sacerdote Amasias, foi levado agonizante à própria aldeia, onde morreu pouco depois.
O livro de Amós nos apresenta, mais do que qualquer outro dos profetas, uma disposição clara e uma bela ordem das mensagens.
O estilo simples e não obstante cheio de dignidade, a forma escorreita, a pureza e o vigor da linguagem fazem do livro de Amós um modelo de literatura hebraica. Para torná-lo mais atraente, acrescenta-se a feliz circunstância de que o texto geralmente foi bem conservado como poucos outros.
Acima dos méritos literários, porém, estão a elevação de pensamento, a doutrina moral e religiosa. O monoteísmo ético puro atinge o auge. O Deus de Israel não é somente o único verdadeiro Deus, criador e governador de todo o Universo, mas por sua santidade essencial é também o autor e guarda zeloso de uma lei moral, cuja observância ele exige de todos os povos, e pune o delito onde quer que sua onisciência o descubra. A escolha especial e gratuita do povo de Israel não é nenhum privilégio sob este aspecto (3,2;9,7-10). Para lhe tributar as honras a que tem direito, é necessária antes de mais nada a santidade de costumes, sem a qual nada valem os atos dum culto cerimonioso e os sacrifícios de numerosas vítimas (5, 21-24). Amós condena a moleza, o luxo, a ambição (6,4-6;8,5-7), e também, com mais energia e maior freqüência, a injustiça e a crueldade para com o próximo, seja ele quem for, a opressão dos pobres.
ABDIAS
Com o nome de Abdias, que quer dizer “Servo de Javé”, temos o mais breve escrito do Antigo Testamento: consta de um só e não longo capítulo de 21 versículos.
Ê todo ele uma mensagem dirigida contra os edomitas ou idumeus, dos quais se recriminam:
1. O orgulho e a ousada confiança que depositam na posição geográfica, defendida pelos fortes baluartes naturais de seu país (vv. 2-9).
2. Sua cumplicidade e alegria feroz a quando da desgraça dos hebreus (vv. 10-15).
3. O castigo até o aniquilamento, em contraste com a restauração de Israel em suas possessões e até no predomínio deste sobre a Iduméia (vv. 16-21).
Muito se tem discutido sobre a desgraça nacional de Israel a que se alude nos vv. 10,14; comparando-se esta passagem com SI 136,7; Ez 25,12;35,5 e Jer 49,7-18, não resta dúvida de que se trata da queda de Jerusalém nas mãos dos caldeus em 587 a.C.
Com isso temos a época aproximada em que o autor viveu. Escreveu talvez quando os acontecimentos aos quais alude eram ainda recentes, isto é, na primeira metade do séc. VI a.C. Era, portanto, um contemporâneo de Jeremias e de Ezequiel. Não se pode, pois, identificá-lo, como fizeram outrora judeus e cristãos, com Abdias, mordomo do rei Acab, que tanto se esforçou em favor dos profetas.
JONAS
Um “profeta Jonas, filho de Hamitai, nascido em Gad-Heber” (na Galiléia, cf. Jos 19,13), é mencionado em 2Rs 14,25, referindo-se a uma predição verificada sob o reinado de Jeroboão II de Israel (783-743 a.C). Esse profeta deve ter vivido no início do séc VIII a.C, e trata-se, sem dúvida, do Jonas do presente livro.
Com isso não está ainda afirmado que o próprio Jonas tenha escrito o livro que traz seu nome. Diferentemente de todos os demais livros proféticos, o presente tem a singularidade de ser apenas uma narração, e seu objeto não é a transmissão de uma mensagem profética, e sim apresenta, na prática, na narração do acontecimento, uma elevada lição de doutrina religiosa. Propriamente, pertence ao gênero narrativo.
Duas coisas ressaltam nesta narração: a mesquinhez do espírito humano (nos temores e nas iras do profeta) e a infinita bondade e clemência de Deus. Não menos importante é, porém, o universalismo religioso. Temos o caso único de um profeta de Israel ser enviado a pregar a gentios, e vemos o Deus de Israel dispensar tanto cuidado a uma nação idólatra. Pressentimos já o conceito universalista do cristianismo (Rom 3,29-30; Col 3,11). Largueza de espírito e de coração da segunda parte.
Outro aspecto de grande alcance na história religiosa apresenta-nos a primeira parte. No episódio de Jonas saindo vivo do ventre do peixe, depois de passar três dias ali, Jesus viu uma figura de sua ressurreição dos mortos, prova máxima da sua divindade (Mt 12,38-40). Daí também o renome de Jonas na literatura e na arte cristã. O mesmo divino Mestre intima os ninivitas convertidos pela pregação de Jonas, a deporem contra os judeus que não acreditam na palavra dele, que é muito mais que Jonas (Mt 12, 41; Lc 11,52). Sem dúvida não é necessário mais do que isso para compreender a importância religiosa deste livro.
Bastaria isto também para provar-lhe o caráter histórico? Notamos que a sua finalidade é dar uma lição moral quanto à largueza de espírito e à bondade de coração. Ora, um ensinamento pode ser dado também, e não em último lugar, com uma construção imaginária. O próprio divino Mestre disso nos deu o mais ilustre exemplo com as suas parábolas. Seria, portanto — pode-se perguntar — o livro de Jonas uma parábola, e não o relato de fatos realmente ocorridos? É o que pensam hoje muitos, fora da Igreja católica e também alguns de seus membros. Mas não se apresentam razões decisivas para essa afirmação. Aquilo que a obra nos conta de maravilhoso, não constitui dificuldade para quem admite, como se deve admitir, a possibilidade do milagre. O fim didático funda a possibilidade, não a necessidade de uma ficção literária. Os fatos reais têm igualmente força para instruir a mente e maior eficácia para mover a vontade. Estando assim neste ponto as conclusões, não é de prudência cristã duvidar da realidade histórica dos fatos, levada em conta pelo próprio Jesus.
MIQUÉIAS
Miquéias profetizou sob os mesmos monarcas que Isaías, exceto sob o primeiro, Osias, em cujo último ano de reinado e de vida Isaías foi chamado ao ministério profético. Miquéias era, portanto, contemporâneo de Isaías, florescendo entre 738 e 700 a.C, mais ou menos. A idade, a terra natal, o livro de Miquéias nos são confirmados (felicidade única para um escritor bíblico) pela citação pública dum célebre vaticínio seu (3,12), feita apenas um século depois (608 a.C.) e conservada no livro canônico de Jeremias (Jer 26,18). Nasceu o profeta numa obscura aldeia a sudoeste da Judeia, a atual Bet-Gibrin e parece que na mesma região tenha desenvolvido o seu ministério profético (cf. 1,10-12) com feliz resultado, como se pode deduzir do que lemos em Jer 26,19. Mais do que isso não sabemos a respeito dele. O autor das Vidas dos profetas, que o dá como martirizado sob o reinado de “Jorão, filho de Acab”, mostra tê-lo confundido com outro profeta homônimo, filho de Jemla, mais antigo, pelo menos de um século (1Rs 22,9-28), e por isso não merece fé.
O livro de Miquéias, ainda que lhe falte a bela ordem de Amós, e se aproxime antes do estilo patético de Oséias, apresenta, todavia, seções bastante nítidas.
O argumento dos vaticínios de Miquéias é, portanto, semelhante aos de Isaías, especialmente Is cc. 1-12. Os dois profetas têm até mesmo em comum um dos mais belos vaticínios messiânicos (Is 2,2-4 = Miq 4,1-3). Em Miquéias, porém, o lado positivo da mensagem, isto é, a promessa de um futuro melhor, ocupa um lugar relativamente mais amplo. Notável é também que entre as culpas exprobradas por Miquéias aos hebreus de seu tempo, têm grande prevalência as faltas de justiça e de humanitarismo para com o próximo, os crimes contra a boa ordem social. Redunda em honra singular para o profeta e o seu livro o fato de que duas das suas mais insignes predições sejam expressamente citadas à letra, quer pelo Antigo Testamento (3,12: em Jer 26, como já foi dito), quer pelo Novo (5,1: em Mt 2,5-6; cf. Jo 7,42), e que o próprio Jesus, na instrução aos seus apóstolos, expressou um ponto do seu programa (Mt 10,35-36) com as palavras de Miquéias (7,6).
NAUM
O livro do profeta Naum é a única fonte que a ele se refere. Dá-nos a conhecer tão somente a terra natal do profeta, Elcos, lugar jamais citado em outra passagem da Bíblia. Os informantes judeus de S. Jerônimo (Prefação ao seu comentário) o situam na Galiléia. Outra tradição, menos antiga, e acolhida pelo autor das Vidas dos Profetas, localizava-o na Judéia, próximo de Eleuterópolis ou Bet-Gibrin. A época de Naum deve ser posta entre a queda de Tebas, no Egito, sob as armas do assírio Assurbanípal, em 663 a.C, e a queda de Nínive, sob os golpes conjugados dos babilônios e dos persas, em 612. A primeira é recontada no seu livro (3,8-10) como acontecimento passado; a segunda constitui o objeto quase único de sua mensagem profética.
Em confronto com os demais profetas menores, o conteúdo ideal de Naum não é novo, mas a todos supera em lances líricos e na expressão. Infelizmente, o texto em muitos lugares está corrompido, deixando por vezes o sentido incerto.
HABACUC
Na Bíblia hebraica o nome Habacuc (Habaqquq encontra-se somente nos títulos dos cc. 1 e 3 deste livro a ele atribuído, o qual, outra notícia expressa não nos oferece, além daquela que se refere ao nome pessoal do profeta. Resta-nos unicamente o conteúdo para deduzirmos a época em que viveu e o espírito que o animava.
O livro versa todo sobre um ponto crucial da doutrina religiosa: o problema de saber se há uma justiça que governa o mundo e por que os bons são domina-nados pelos maus. O tema é desenvolvido em três seções: duas queixais em forma de diálogo e um canto final à maneira de contemplação.
A mensagem de Habacuc tem em comum com a de Jeremias, o fato de pôr em discussão o problema moral da prosperidade dos maus (Jer 12,1-3), e com a de Isaías o pensamento de que Deus se serve das ambições humanas, da tirania estrangeira, para castigar os pecados do seu povo, sem, porém, deixar impunes os excessos dos tiranos (10,3-19). Especial em Habacuc é o grande princípio, promulgado com insólita solenidade (2,4), de que a fonte da vida é a fé em Deus, que são Paulo fará um dos pontos básicos da sua doutrina religiosa.
Na Bíblia grega o nome deste profeta é “Ambacum”, e da mesma maneira está grafado o nome daquele “profeta na Judéia”, que, agarrado pelos cabelos por um anjo, levou a refeição a Daniel na cova dos leões, em Babilônia (Dan 14,33-39). Por razões cronológicas, quando não por outras, as duas personagens são consideradas distintas.
SOFONIAS
De oito dos dezesseis profetas escritores não conhecemos sequer o nome do pai, ao qual se restringe na maior parte a genealogia dos outros (Isaías, Jeremias, Ezequiel, Oséias, Joel, Jonas). De Zacarias, além do pai, cita-se também o avô. Sofonias, singular entre todos, prolonga a cadeia ascendente até ao trisavô, chamado Ezequias (cf. 1,1, nota) . Pensou-se que este Ezequias se identificasse com o conhecido rei de Judá, filho de Acaz, que reinou de 720 a 690 a.C, mais ou menos. Visto que Sofonias profetizou durante o reinado de Josias, o terceiro sucessor e bisneto de Ezequias (ib.), a cronologia não opõe dificuldades insuperáveis a essa opinião. O silêncio, porém, quer da história» quer do próprio profeta em torno dessa sua relação com a dinastia régia, torna-a de todo improvável. Além disso, esse nome não é raro na Bíblia.
O tempo em que vaticinou Sofonias pode ser deduzido da sua mensagem. Pregando sob Josias e entre outras coisas acusando os jerosolimitanos de perversões idólatras e práticas gentilicias em religião (1,4-6), isso deve ter acontecido antes da célebre reforma religiosa de Josias, que se iniciou em 621 a.C. (cf. 2Rs 22,3-23,20). Diremos, portanto, que Sofonias exercitou o seu ministério profético pelo ano 625 a.C, quando surgiu também o profeta Jeremias no mesmo ministério.
AGEU
Afora o que nos refere o seu breve escrito, que ocupa o décimo lugar na série canônica dos profetas menores, a respeito do profeta Ageu sabemos apenas que foi contemporâneo do profeta Zacarias, com o qual compartilhou a missão de assistir os repatriados na obra de construção do templo.
A atividade do profeta Ageu desenvolveu-se durante poucos meses, no segundo ano de Dario I (cf. Ag 1,1;2,11), rei da Pérsia, de 521 a 485 a.C
Sem valor especial quanto ao estilo ou à poesia, o escrito de Ageu recebe sua eficácia e interesse da grande paixão do profeta pelo templo. Animada pela recordação do esplendor do antigo templo, contemplado talvez numa juventude muito remota, esta paixão é alimentada sobretudo pela certeza de que a reconstrução do templo é a premissa indispensável para um renascimento seguro da vida nacional. A isso acrescenta-se a visão sobrenatural daquilo que o novo templo é destinado a simbolizar e como que a preludiar: a gloriosa construção espiritual do futuro reino messiânico. Certo deste destino, o profeta encontra palavras inflamadas para sacudir o povo de seu letargo, torna-se ousado diante dos tímidos representantes oficiais da nação e arrasta todos a um grande fervor.
ZACARIAS
Do profeta Zacarias (em hebr. “]avé se recordou”) fala também Esdr 5,1 ;6,
14. Era filho de Baraquias (Zac 1,1.7) e neto de Ado (Zac 1,1.7; Esdr 5,1 ;6, 14), provavelmente o mesmo citado entre o$ sacerdotes que voltaram de Babilônia com Zorobabel, no ano 537 (cf. Ne 12,4). Isso pareceria confirmado também pela indicação de Ne 12,16, segundo a qual um certo Zacarias era chefe da família sacerdotal de Ado, no tempo do sumo sacerdote Jesus, contemporâneo de Zorobabel (cf. Zac 4, 14; Ag 1,1; Esdr 3,2).
Como a Ageu, coube também a Zacarias a missão de apoiar os repatriados na obra de reconstrução do templo.
Zacarias iniciou a sua atividade profética alguns meses depois de Ageu (cf. Ag 1,1 e Zac 1,1.7), no mesmo segundo ano do rei persa Dario I (520 a.C.), mas a estendeu por mais tempo. Ao menos, pelo que se narra nos oito primeiros capítulos do seu livro, alcançou-se o quarto ano do reinado do mesmo soberano (cf. Zac 7,1).
Pertence o livro por inteiro ao profeta do qual traz o nome? A maioria dos críticos estima a segunda parte como uma compilação, feita em época mais recente, de escritos de autores diversos e desconhecidos. Segundo alguns, os escritos seriam de origem helenista (séc. IV a.C); segundo outros, do tempo da revolta dos Macabeus (175-161 a.C.) ou de ambas as épocas.
Não obstante as múltiplas diferenças de argumentos, de perspectiva, de gênero literário e de estilo entre a primeira e a segunda parte, os católicos geralmente aderem hoje também à opinião tradicional que atribui todo o livro ao profeta Zacarias.
O livro inteiro é perpassado por uma profunda espiritualidade. Ressalta nele a doutrina sobre os anjos, que velam pela sorte do reino de Deus e desempenham, cuidadosos, a missão de intermediários entre o céu e a terra. Expondo os diversos motivos sobre o Messias e o seu reino futuro, Zacarias realça o elemento interior da santidade e o da luta contínua contra o mal até o surgimento de seu último estádio, glorioso e sem fim.
MALAQUIAS
O último escrito profético traz na Bíblia grega o título, mais comum entre nós, de Malaquias, que em hebraico quer dizer “Anjo [ou mensageiro] de Javé”, e como nome próprio se encontra alhures no texto bíblico. A Bíblia hebraica intitula-o de Malaqui,que pode ser forma abreviada do precedente, ou significar, por si, “Anjo [mensageiro] meu”.
Para determinar a época da atividade profética de Malaquias, não estamos melhor informados; devemos contentar-nos exclusivamente com os dados fornecidos pela análise interna do seu escrito. A semelhança, e às vezes a identidade, entre os abusos que Malaquias repreende e aqueles contra os quais tiveram de lutar freqüentemente Esdras e Neemias, nos levam a supor, com bastante fundamento, que também o presente profeta viveu durante o período persa, numa época mais ou menos próxima da dos dois grandes reformadores do séc. V.
A ressurreição de nosso Senhor Jesus Cristo lê-se estes dias, como é costume, segundo cada um dos livros do santo Evangelho. Na leitura de hoje ouvimos Jesus Cristo censurando os discípulos, primeiros membros seus, companheiros seus porque não criam estar vivo aquele mesmo por cuja morte choravam. Pais da fé, mas ainda não fiéis; mestres – e a terra inteira haveria de crer no que pregariam, pelo que, aliás, morreriam – mas ainda não criam. Não acreditavam ter ressuscitado aquele que haviam visto ressuscitando os mortos. Com razão, censurados: ficavam patenteados a si mesmos, para saberem o que seriam por si mesmos os que muito seriam graças a ele.
E foi deste modo que Pedro se mostrou quem era: quando iminente a Paixão do Senhor, muito presumiu; chegada a Paixão, titubeou. Mas caiu em si, condoeu-se, chorou, convertendo-se a seu Criador.
Eis quem eram os que ainda não criam, apesar de já verem. Grande, pois, foi a honra a nós concedida por aquele que permitiu crêssemos no que não vemos! Nós cremos pelas palavras deles, ao passo que eles não criam em seus próprios olhos.
A ressurreição de nosso Senhor Jesus Cristo é a vida nova dos que crêem em Jesus, e este é o mistério da sua Paixão e Ressurreição, que muito devíeis conhecer e celebrar. Porque não sem motivo desceu a Vida até a morte. Não foi sem motivo que a fonte da vida, de onde se bebe para viver, bebeu desse cálice que não lhe convinha. Por que a Cristo não convinha a morte.
De onde veio a morte?
Vamos investigar a origem da morte. O pai da morte é o pecado. Se nunca houvesse pecado ninguém morreria. O primeiro homem recebeu a lei de Deus, isto é, um preceito de Deus, com a condição de que se o observasse viveria e se o violasse morreria. Não crendo que morreria, fez o que o faria morrer; e verificou a verdade do que dissera quem lhe dera a lei. Desde então, a morte. Desde então, ainda, a segunda morte, após a primeira, isto é, após a morte temporal a eterna morte. Sujeito a essa condição de morte, a essas leis do inferno, nasce todo homem; mas por causa desse mesmo homem, Deus se fez homem, para que não perecesse o homem. Não veio, pois, ligado às leis da morte, e por isso diz o Salmo: “Livre entre os mortos” [Sl 87].
Concebeu-o, sem concupiscência, uma Virgem; como Virgem deu-lhe à luz, Virgem permaneceu. Ele viveu sem culpa, não morreu por motivo de culpa, comungava conosco no castigo mas não na culpa. O castigo da culpa é a morte. Nosso Senhor Jesus Cristo veio morrer, mas não veio pecar; comungando conosco no castigo sem a culpa, aboliu tanto a culpa como a castigo. Que castigo aboliu? O que nos cabia após esta vida. Foi assim crucificado para mostrar na cruz o fim do nosso homem velho; e ressuscitou, para mostrar em sua vida, como é a nossa vida nova. Ensina-o o Apóstolo: “Foi entregue por causa dos nossos pecados, ressurgiu por causa da nossa justificação” [Rm 4,25].
Como sinal disto, fora dada outrora a circuncisão aos patriarcas: no oitavo dia todo indivíduo do sexo masculino devia ser circuncidado. A circuncisão fazia-se com cutelos de pedra: porque Cristo era a pedra. Nessa circuncisão significava-se a espoliação da vida carnal a ser realizada no oitavo dia pela Ressurreição de Cristo. Pois o sétimo dia da semana é o sábado; no sábado o Senhor jazia no sepulcro, sétimo dia da semana. Ressuscitou no oitavo. A sua Ressurreição nos renova. Eis por que, ressuscitando no oitavo dia, nos circuncidou.
É nessa esperança que vivemos. Ouçamos o Apóstolo dizer. “Se ressuscitasses com Cristo…” [Cl 3,1] Como ressuscitamos, se ainda morremos? Que quer dizer o Apóstolo: “Se ressuscitasses com Cristo?” Acaso ressuscitariam os que não tivessem antes morrido? Mas falava aos vivos, aos que ainda não morreram … os quais, contudo, ressuscitaram: que quer dizer?
Vede o que ele afirma: “Se ressuscitasses com Cristo, procurai as coisas que são do alto, onde Cristo está assentado à direita de Deus, saboreai o que é do alto, não o que está sobre a terra. Porque estais mortos!”
É o próprio Apóstolo quem está falando, não eu. Ora, ele diz a verdade, e, portanto, digo-a também eu… E por que também a digo? “Acreditei e por causa disto falei” [Sl 115].
Se vivemos bem, é que morremos e ressuscitamos. Quem, porém, ainda não morreu, também não ressuscitou, vive mal ainda; e se vive mal, não vive: morra para que não morra. Que quer dizer: morra para que não morra? Converta-se, para não ser condenado.
“Se ressuscitasses com Cristo”, repito as palavras do Apóstolo, “procurai o que é do alto, onde Cristo está assentado à direita de Deus, saboreai o que é do alto, não o que é da terra. Pois morrestes e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus. Quando Cristo, que é a vossa vida, aparecer, então também aparecereis com ele na glória”. São palavras do Apóstolo. A quem ainda não morreu, digo-lhe que morra; a quem ainda vive mal, digo-lhe que se converta. Se vivia mal, mas já não vive assim, morreu; se vive bem, ressuscitou.
Mas, que é viver bem? Saborear o que está no alto, não o que sobre a terra. Até quando és terra e à terra tornarás? Até quando lambes a terra? Lambes a terra, amando-a, e te tornas inimigo daquele de quem diz o Salmo: “os inimigos dele lamberão a terra” [Sl 79,9].
Que éreis vós? Filhos de homens. Que sois vós? Filhos de Deus.
Ó filhos dos homens, até quando tereis o coração pesado? Por que amais a vaidade e buscais a mentira? Que mentira buscais? O mundo.
Quereis ser felizes, sei disto. Dai-me um homem que seja ladrão, criminoso, fornicador, malfeitor, sacrílego, manchado por to- dos os vícios, soterrado por todas as torpezas e maldades, mas não queira ser feliz. Sei que todos vós quereis viver felizes, mas o que faz o homem viver feliz, isso não quereis procurar. Tu, aqui, buscas o ouro, pensando que com o ouro serás feliz; mas o ouro não te faz feliz. Por que buscas a ilusão? E com tudo o que aqui procuras, quando procuras mundanamente, quando o fazes amando a terra, quando o fazes lambendo a terra, sempre visas isto: ser feliz. Ora, coisa alguma da terra te faz feliz. Por que não cessas de buscar a mentira? Como, pois, haverás de ser feliz? “Ó filhos dos homens, até quando sereis pesados de coração, vós que onerais com as coisas da terra o vosso coração?” [Sl 4,3] Até quando foram os homens pesados de coração? Foram-no antes da vinda de Cristo, antes que ressuscitasse o Cristo. Até quando tereis o coração pesado? E por que amais a vaidade e procurais a mentira? Querendo tornar-vos felizes, procurais as coisas que vos tornam míseros! Engana-vos o que descaiais, é ilusão o que buscais.
Queres ser feliz? Mostro-te, se te agrada, como o serás. Continuemos ali adiante (no versículo do Salmo): “Até quando sereis pesados de coração? Por que amais a vaidade e buscais a mentira?” “Sabei” – o quê? – “que o Senhor engrandeceu o seu Santo” [Sl 4,3].
O Cristo veio até nossas misérias, sentiu a fone, a sede, a fadiga, dormiu, realizou coisas admiráveis, padeceu duras coisas, foi flagelado, coroado de espinhos, coberto de escarros, esbofeteado, pregado no lenho, traspassado pela lança, posto no sepulcro; mas no terceiro dia ressurgiu, acabando-se o sofrimento, morrendo a morte. Eia, tende lá os vossos olhos na ressurreição de Cristo; porque tanto quis o Pai engrandecer o seu Santo, que o ressuscitou dos mortos e lhe deu a honra de se assentar no Céu à sua direita. Mostrou-te o que deves saborear se queres ser feliz, pois aqui não o poderás ser. Nesta vida não podes ser feliz, ninguém o pode.
Boa coisa a que desejas, mas não nesta terra se encontra o que desejas. Que desejas? A vida bem-aventurada. Mas aqui não reside ela.
Se procurasses ouro num lugar onde não houvesse, alguém, sabendo da sua não existência, haveria de te dizer: “Por que estás a cavar? Que pedes à terra? Fazes uma fossa na qual hás de apenas descer, na qual nada encontrarás!”
Que responderias a tal conselheiro? “Procuro ouro”. Ele te diria: “Não nego que exista o que descias, mas não existe onde o procuras”.
Assim também, quando dizes: “Quero ser feliz”. Boa coisa queres, mas aqui não se encontra. Se aqui a tivesse tido o Cristo, igualmente a teria eu. Vê o que ele encontrou nesta região da tua morte: vindo de outros paramos, que achou aqui senão o que existe em abundância? Sofrimentos, dores, morte. Comeu contigo do que havia na cela de tua miséria. Aqui bebeu vinagre, aqui teve fel. Eis o que encontrou em tua morada.
Contudo, convidou-te à sua grande mesa, à mesa do Céu, à mesa dos anjos, onde ele é o pão. Descendo até cá, e tantos males recebendo de tua cela, não só não rejeitou a tua mesa, mas prometeu-te a sua.
E que nos diz ele?
“Crede, crede que chegareis aos bens da minha mesa, pois não recusei os males da vossa”.
Tirou-te o mal e não te dará o seu bem? Sim, da-lo-á. Pro- meteu-nos sua vida, mas é ainda mais incrível o que fez: ofereceu-nos a sua morte. Como se dissesse: “À minha mesa vos convido. Nela ninguém morre, nela está a vida verdadeiramente feliz, nela o alimento não se corrompe, mas refaz e não se acaba. Eia para onde vos convido, para a morada dos anjos, para a amizade do Pai e do Espírito Santo, para a ceia eterna, para a fraternidade comigo; enfim, a mim mesmo, à minha vida eu vos conclamo! Não quereis crer que vos darei a minha vida? Retende, como penhor a minha morte”.
Agora, pois, enquanto vivemos nesta carne corruptível, mor- ramos com Cristo pela conversão dos costumes, vivamos com Cristo pelo amor da justiça.
Não haveremos de receber a vida bem-aventurada senão quando chegarmos àquele que veio até nós, e quando começarmos a viver com aquele que por nós morreu.