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Javé Nissi

Três conselhos dos Santos para crescer na vida espiritual

Três grandes ideias dominam a espiritualidade de Santa Teresinha, de Santa Margarida Maria e do Beato Monfort que podem ser para nós balsamos na vida espiritual.

  • O abandono filial de Santa Teresinha.
  • A união amorosa de Santa Margarida Maria.
  • A dependência total do Beato Monfort.

Mas no que consiste cada uma delas? Leia mais…

Renovação Carismática, uma corrente de graça para toda a Igreja

Frei Raniero Cantalamessa ao CHARIS: Renovação Carismática, uma corrente de graça para toda a Igreja

 “Parto da convicção, compartilhada por todos nós e frequentemente repetida pelo Papa Francisco, de que a Renovação Carismática Católica (RCC) é “uma corrente de graça para toda a Igreja”. Se a RCC é uma corrente de graça para toda a Igreja, temos o dever de explicar a nós mesmos e à Igreja em que consiste esta corrente de graça e porque ela é destinada e necessária a toda a Igreja. Explicar, brevemente, o que somos e o que oferecemos – melhor, o que Deus oferece – à Igreja com esta corrente de graça.

Até o momento não estivemos em condições – nem podíamos estar – de dizer com clareza o que é a Renovação Carismática. É necessário, portanto, experimentar uma forma de vida antes de poder defini-la. Assim aconteceu sempre no passado, por ocasião do aparecimento de novas formas de vida cristã. Pobres daqueles movimentos e ordens religiosas que nascem com tantas regras e constituições estabelecidas minuciosamente desde o início, para depois colocá-las em prática como um protocolo a ser seguido. É a vida que, progredindo, adquire uma fisionomia e se dá uma regra, como o rio que, avançando, cava seu próprio leito.

Devemos reconhecer que, até o momento, temos dado à Igreja ideias e representações da Renovação Carismática diferentes e, às vezes, contraditórias. Bastaria fazer uma breve sondagem entre as pessoas que vivem fora dela para nos darmos conta da confusão que reina acerca da identidade da Renovação Carismática.

Para alguns, ela é um movimento de “entusiastas”, não diverso dos movimentos “entusiastas e iluminados” do passado, o povo do Aleluia, das mãos erguidas, que rezam e cantam em uma linguagem incompreensível, um fenômeno, no fim das contas, emocional e superficial. Posso afirmá-lo, com conhecimento de causa, pois eu também fui, por certo tempo, daqueles que pensavam assim. Para outros, ela é identificada com pessoas que fazem orações de cura e realizam exorcismos; para outros, ainda, trata-se de uma “infiltração” protestante e pentecostal na Igreja católica. Na melhor das hipóteses, a Renovação Carismática é vista como uma realidade à qual se pode confiar tantas coisas na paróquia, mas com a qual é melhor não se envolver. Como alguém disse, ama-se os frutos da Renovação, mas não a árvore.

Após 50 anos de vida e de experiência, e por ocasião da inauguração do novo organismo de serviço, a CHARIS, talvez tenha chegado o momento de tentar fazer uma releitura desta realidade e dar-lhe uma definição, ainda que não definitiva, estando o seu caminho por nada concluído.

Acredito que a essência desta corrente de graça esteja providencialmente contida em seu nome “Renovação Carismática”, desde que se compreenda o verdadeiro significado destas duas palavras. É o que me proponho a fazer, dedicando a primeira parte da minha exposição ao substantivo “Renovação” e a segunda parte ao adjetivo “carismática”.

PRIMEIRA PARTE: “RENOVAÇÃO”

É necessário fazer uma premissa de caráter geral para entender a relação que existe entre o substantivo “renovação” e o adjetivo “carismático”, e o que cada um deles representa.

Na Bíblia, emergem claramente dois modos de operar do Espírito de Deus. Há, primeiramente, o modo que podemos chamar de carismático. Este consiste no fato de que o Espírito de Deus vem sobre algumas pessoas, em circunstâncias particulares, e lhes confere dons e capacidades além do alcance humano para desempenhar a tarefa que Deus espera delas. Fala-se do Espírito de Deus que vem sobre algumas pessoas e lhes confere dons artísticos para a construção do templo.[1] A característica deste modo de operar do Espírito de Deus é que ele é dado a uma pessoa, mas não para a própria pessoa, para torná-la mais agradável a Deus, mas, antes, pelo bem da comunidade, para o serviço.

Apenas num segundo momento, praticamente após o exílio, inicia-se a falar de um modo diverso de operar do Espírito de Deus, um modo que, em seguida, chamar-se-á ação santificadora do Espírito (2Ts 2,13). Pela primeira vez, no Salmo 51, o Espírito é definido “santo”: “não retireis de mim o vosso Santo Espírito”. O testemunho mais claro é a profecia de Ezequiel 36,26-27:

Eu vos darei um coração novo e porei um espírito novo dentro de vós. Arrancarei do vosso corpo o coração de pedra e vos darei um coração de carne; porei o meu espírito dentro de vós e farei com que sigais a minha lei e cuideis de observar os meus mandamentos.

A novidade deste modo de agir do Espírito é que ele vem sobre uma pessoa e permanece nela, e a transforma desde dentro, dando-lhe um coração novo e uma capacidade nova de observar a lei. Em seguida, a teologia chamará o primeiro modo de agir do Espírito “gratia gratis data”, dom gratuito, e o segundo, “gratia gratum faciens”, graça que torna agradável a Deus.

Passando do Antigo ao Novo Testamento, este dúplice modo de agir do Espírito se torna ainda mais claro. Basta ler primeiramente o capítulo 12 da Primeira Carta aos Coríntios, onde se fala de todo tipo de carismas, e depois passar ao capítulo sucessivo, o 13, onde se fala de um dom único, igual e necessário para todos, que é a caridade. Esta caridade é “o amor de Deus derramado em nossos corações pelo Espírito Santo” (Rm 5,5), o amor – assim o define Santo Tomás de Aquino – “com o qual Deus nos ama e com o qual nos torna capazes de amá-lo e os irmãos”[2].

A relação entre a obra santificadora do Espírito e a sua ação carismática é vista por Paulo como a relação que existe entre o ser e o agir e como a relação que existe entre a unidade e a diversidade na Igreja. A ação santificadora se refere ao ser do cristão, os carismas se referem ao agir, são para o serviço (1Cor 12,7; 1Pd 4,10); a primeira coisa funda a unidade da Igreja, a segunda, a variedade das suas funções. Sobre isso, basta ler Efésios 4, 4-13. Neste, o Apóstolo expõe primeiramente o que funda o ser do cristão e a unidade de todos os fiéis: um só corpo, um só Espírito, um só Senhor, uma só fé, para passar a falar da “graça dada a cada um conforme a medida do dom de Cristo”: apóstolos, evangelistas, mestres…

O Apóstolo não se limita a pôr em evidência os dois modos de operar do Espírito, mas afirma também a prioridade absoluta da ação santificadora sobre a ação carismática. O agir depende do ser (agere sequitur esse), não o contrário. Paulo aborda brevemente a maioria dos carismas – falar todas as línguas, possuir o dom da profecia, conhecer todos os mistérios, distribuir tudo aos pobres – e conclui que, sem a caridade, não serviriam a nada a quem os exerce, ainda que possam servir a quem os recebe.

Tudo o que eu disse sobre a ação renovadora e santificadora do Espírito está contido no substantivo “Renovação”. Por que justamente este termo? Por que chamamos “Seminário de vida nova no Espírito” o instrumento com o qual nos preparávamos para receber o batismo no Espírito? A ideia de novidade acompanha do início ao fim a revelação da ação santificadora do Espírito. Já em Ezequiel, fala-se de um “Espírito novo”. João fala de um “nascer de novo da água e do Espírito (Jo 3,5). Mas é sobretudo São Paulo que vê na “novidade” o que caracteriza toda a “nova aliança” (2Cor 3,6). Ele define o fiel como “homem novo” (Ef 2,15; 4,24) e o batismo como “um banho de renovação no Espírito Santo” (Tt 3,5).

O que deve ser imediatamente posto às claras é que esta vida nova é a vida trazida por Cristo. É ele que, ressurgindo da morte, deu-nos a possibilidade, graças ao nosso batismo, de “levarmos uma vida nova” (Rm 6,4). Ela é, portanto, dom, antes que um dever, um “fato”, antes que um “deve ser feito”. Sobre este ponto, faz-se necessária uma revolução copernicana na mentalidade comum do fiel católico (não na doutrina oficial da Igreja!), e é esta uma das contribuições mais importantes que a Renovação Carismática pode dar – e, em parte, já tem dado – à vida da Igreja. Por séculos, insistiu-se tanto na moral, no dever, no deve ser feito para conquistar a vida eterna, a ponto de se inverter a relação e se pôr o dever antes do dom, fazendo da graça o efeito, ao invés da causa, das nossas boas obras.

A Renovação Carismática, concretamente o batismo no Espírito, operou dentro de mim aquela revolução copernicana de que falei, e, por isso, estou intimamente convencido de que ela pode operá-la em toda a Igreja. E é a revolução da qual depende a possibilidade de reevangelizar o mundo pós-cristão. A fé desabrocha na presença do kerygma, não na presença da didaché, ou seja, não na presença da teologia, da apologética, da moral. Estas coisas são necessárias para “formar” a fé e levá-la à perfeição da caridade, mas não estão em condições de gerá-la. O cristianismo, diferentemente de qualquer outra religião, não começa dizendo aos homens o que devem fazer para salvarem-se; começa dizendo o que Deus fez, em Cristo Jesus, para salvá-los. É a religião da graça.

Em que consiste a vida nova no Espírito

Mas agora chegou o momento de descer mais ao concreto, e ver em que consiste e como se manifesta a vida nova no Espírito, e, portanto, em que consiste a verdadeira “Renovação”. Apoiamo-nos em São Paulo e, mais precisamente, na sua Carta aos Romanos, pois é aí que, quase programaticamente, são expostos os seus elementos constitutivos.

Uma vida vivida na lei do Espírito

A vida nova é, primeiramente, uma vida vivida “na lei do Espírito”.

“Não há mais condenação para aqueles que estão em Cristo Jesus. Pois a lei do Espírito que dá a vida em Jesus Cristo te libertou da lei do pecado e da morte” (Rm 8,1-2).

Não se entende o que significa a expressão “lei do Espírito”, se não a partir do evento de Pentecostes. No Antigo Testamento, existiam duas interpretações fundamentais da festa de Pentecostes. No início, Pentecostes era a festa da colheita (cf. Nm 28,26ss), quando se oferecia a Deus as primícias do trigo (cf. Ex 23,16; Dt 16,9). Mas, sucessivamente, e certamente no tempo de Jesus, a festa se enriquecera de um novo significado. Era a festa que recordava a outorga da lei no Monte Sinai e a aliança estabelecida entre Deus e o seu povo; a festa, enfim, que comemorava os acontecimentos descritos em Ex 19-20. “Este dia da festa das semanas – reza um texto da atual liturgia hebraica de Pentecostes (Shavuot) – é o tempo do dom da nossa Torá”.

O que vem a nos dizer, sobre nosso Pentecostes, esta aproximação? O que significa, em outras palavras, o fato de que o Espírito Santo desce sobre a Igreja justamente no dia em que Israel recordava o dom da lei e da aliança? Já Santo Agostinho se fazia esta pergunta e dava a seguinte resposta. Cinquenta dias após a imolação do cordeiro no Egito, no monte Sinai, o dedo de Deus escreveu a lei de Deus em tábuas de pedra, e eis que, cinquenta dias depois da imolação do verdadeiro Cordeiro de Deus, que é Cristo, novamente o dedo de Deus, o Espírito Santo, escreveu a lei; mas desta vez não em tábuas de pedra, mas nas tábuas de carne dos corações[3].

Esta interpretação se fundamenta, ela mesma, na afirmação de Paulo que define a comunidade da nova aliança como uma “carta de Cristo, escrita não com tinta, mas com o Espírito de Deus vivo, gravada não em tábuas de pedra, mas em tábuas de carne, dos corações” (cf. 2Cor 3,3).

De um lance, iluminam-se as profecias de Jeremias e de Ezequiel sobre a nova aliança: “Esta será a aliança que concluirei com a casa de Israel, depois desses dias, diz o Senhor: imprimirei minha lei em suas entranhas, e hei de inscrevê-la em seu coração; serei seu Deus e eles serão meu povo” (Jr 31,33). Não mais em tábuas de pedra, mas nos corações; não mais uma lei exterior, mas uma lei interior.

Como age, concretamente, esta nova lei, que é o Espírito, e em que sentido pode-se chamar de “lei”? Age através do amor! A nova lei é o que Jesus chama de “mandamento novo” (Jo 13,34). O Espírito Santo escreveu a nova lei em nossos corações, infundindo neles o amor: “O amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado” (Rm 5,5). Este amor, explicou-nos Santo Tomás, é o amor com o qual Deus nos ama e com o qual, contemporaneamente, faz com que nós possamos amá-lo em resposta e amar o próximo. É uma capacidade nova de amar.

Há dois modos com os quais o homem pode ser induzido a fazer, ou a não fazer, uma certa coisa: ou por coerção ou por atração; a lei exterior o induz do primeiro modo, por coerção, com a ameaça do castigo; o amor o induz do segundo modo, por atração. Cada um, de fato, é atraído por aquilo que ama, sem que sofra qualquer coerção do exterior. A vida cristã deve ser vivida por atração, não por coerção, por amor, não por temor.

Uma vida de filhos de Deus

Em segundo lugar a vida nova no Espírito é uma vida de filhos de Deus. Escreve ainda o Apóstolo:

“Todos aqueles que se deixam conduzir pelo Espírito de Deus são filhos de Deus. De fato, vós não recebestes um espírito de escravos, para recairdes no medo, mas recebestes um espírito de filhos adotivos, no qual todos nós clamamos: Abá – ó Pai! O próprio Espírito se une ao nosso espírito para nos atestar que somos filhos de Deus” (Rm 8,14-16).

Esta é uma ideia central da mensagem de Jesus e de todo o Novo Testamento. Graças ao batismo que nos enxertou em Cristo, nós nos tornamos filhos no Filho. O que, portanto, pode trazer de novo a Renovação Carismática neste campo? Algo importantíssimo, isto é, a descoberta e a tomada de consciência existencial da paternidade de Deus, o que tem feito cair em lágrimas mais de uma pessoa no momento do batismo no Espírito. De direito, nós somos filhos pelo batismo, mas, de fato, nós nos tornamos graças a uma ação do Espírito Santo que continua na vida.

Uma vida no senhorio de Cristo

Enfim, a vida nova é uma vida no Senhorio de Cristo. Escreve o Apóstolo:

“Se, com tua boca, confessares Jesus como Senhor e, no teu coração, creres que Deus o ressuscitou dos mortos, serás salvo” (Rm 10,9).

E, de novo, logo depois, na mesma Carta:

Ninguém dentre nós vive para si mesmo ou morre para si mesmo. Se estamos vivos, é para o Senhor que vivemos; se morremos, é para o Senhor que morremos. Portanto, vivos ou mortos, pertencemos ao Senhor. Cristo morreu e ressuscitou exatamente para isto, para ser o Senhor dos mortos e dos vivos. (Rm 14,7-9).

Este conhecimento especial de Jesus é obra do Espírito Santo: “Ninguém pode dizer: Jesus é o Senhor a não ser no Espírito Santo” (1Cor 12,3). O dom mais evidente que eu recebi na ocasião do meu batismo no Espírito foi a descoberta do Senhorio de Cristo. Até então, eu era um estudioso de cristologia, realizava cursos e escrevia livros sobre as doutrinas cristológicas antigas; o Espírito Santo me converteu da cristologia a Cristo. Que emoção ao escutar, em julho de 1977, no estádio de Kansas City, 40 mil fiéis de várias denominações cristãs cantando: He’s Lord, He’is Lord. He’s risen from the dead and He is Lord. Every knee shall bow, every tongue confess that Jesus Christ is Lord” (“Ele é o Senhor, Ele é o Senhor. Ele ressurgiu dos mortos e Ele é o Senhor. Todo joelho se dobre, toda língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor”, N. do T.). Para mim, até então observador externo da Renovação, aquele canto tinha ressonâncias cósmicas, apelava ao que está nos céus, na terra e abaixo dela. Por que não repetir, em uma ocasião como esta, aquela experiência e proclamar juntos, no canto, o senhorio de Cristo…? Cantemos em inglês, quem souber…

O que há de especial, na proclamação de Jesus como Senhor, que a faz tão diversa e determinante? É que, com ela, não se faz apenas uma profissão de fé, mas se toma uma decisão pessoal. Quem a pronuncia, decide o sentido da sua vida. É como se dissesse: “Tu és o meu Senhor; eu me submeto a ti, eu te reconheço livremente como o meu salvador, o meu chefe, o meu mestre, aquele que tem todos os direitos sobre mim. Eu te entrego com alegria as rédeas da minha vida”.

Esta redescoberta luminosa de Jesus como Senhor é talvez a mais bela graça que, em nossos tempos, Deus tem concedido à sua Igreja, através da RCC. No início, a proclamação de Jesus como Senhor (Kyrios) foi, para a evangelização, o que a relha é para o arado: aquela espécie de espada que, primeiro, fende o terreno e permite ao arado traçar o sulco. Sobre este ponto, infelizmente, incide uma mudança na passagem do ambiente judaico ao helenístico. No mundo judaico, o título Adonai, Senhor, sozinho, bastava para proclamar a divindade de Cristo. E, de fato, é com ele que, no dia de Pentecostes, Pedro proclama Jesus Cristo ao mundo: “Que todo o povo de Israel reconheça com plena certeza: Deus constituiu Senhor e Cristo a este Jesus que vós crucificastes” (At 2,36).

Na pregação aos pagãos, esse título não era mais suficiente. Tantos, a partir do imperador romano, faziam-se chamar de Senhores. Nota-o com tristeza o Apóstolo: “Existem muitos deuses e senhores, para nós, porém, existe um só Senhor, Jesus Cristo” (cf. 1Cor 8,5-6). Já no século III, o título de Senhor não é mais compreendido em seu significado kerigmático; é considerado o título próprio para quem ainda está no estágio de “servo” e do temor, inferior, portanto, ao título de Mestre, que é próprio para o “discípulo” e o amigo[4]. Continua-se, certamente, a falar de Jesus “Senhor”, mas este se tornou um título como os outros, ou melhor, mais frequentemente, um dos elementos do nome completo de Cristo: “Nosso Senhor Jesus Cristo”. Mas uma coisa é dizer “nosso Senhor Jesus Cristo”, outra, dizer: “Jesus Cristo é o nosso Senhor!” (com o ponto de exclamação).

Onde está, em tudo isso, o salto de qualidade que o Espírito Santo nos proporciona fazer no conhecimento de Cristo? Está no fato de que a proclamação de Jesus Senhor é a porta que dá acesso ao conhecimento do Cristo ressuscitado e vivo! Não mais um Cristo personagem, mas pessoa; não mais um conjunto de teses, de dogmas (e das heresias correspondentes), não mais apenas objeto de culto e de memória, mas realidade viva no Espírito. Entre este Jesus vivo e o dos livros e das doutas discussões sobre ele, corre a mesma diferença que há entre o céu verdadeiro e um céu desenhado em uma folha de papel. Se quisermos que a nova evangelização não permaneça um pio desejo, devemos recolocar a “relha” na frente do arado, o kerygma na frente da parênese.

A experiência comum do senhorio de Cristo é também o que mais impele à unidade dos cristãos, como vemos que ocorre aqui, entre nós. Uma das tarefas prioritárias da CHARIS, segundo as indicações do Santo Padre, é justamente a de promover, com todos os meios, esta unidade entre todos os fiéis em Cristo, no respeito recíproco da própria identidade.

Uma corrente de graça para toda a Igreja

Creio que, neste ponto, esteja claro porque dizemos que a Renovação Carismática é uma corrente de graça para toda a Igreja. Tudo o que a palavra de Deus nos tem revelado sobre a vida nova em Cristo – uma vida vivida segundo a lei do Espírito, uma vida de filhos de Deus e uma vida no Senhorio de Cristo –, tudo isso não é senão a essência da vida e da santidade cristã. É a vida batismal atuada em plenitude, isto é, não só pensada e acreditada, mas vivida e proposta, e não a algumas almas privilegiadas apenas, mas por todo o povo santo de Deus. Para muitos milhões de fiéis, o batismo no Espírito tem sido a porta que os introduziu a esses esplendores da vida cristã.

Uma das máximas queridas ao Papa Francisco é que “a realidade é superior à ideia”[5], e, portanto, que o vivido é superior ao pensado. Creio que a Renovação Carismática pode ser (e, em parte, tem sido) de grande ajuda para fazer passar as grandes verdades da fé do pensado ao vivido, para fazer passar o Espírito Santo dos livros de teologia à experiência dos fiéis.

São João XXIII concebeu o Concílio Vaticano como a ocasião para um “novo Pentecostes” para a Igreja. O Senhor respondeu a esta oração do Papa além de qualquer expectativa. Mas o que significa “um novo Pentecostes”? Ele não pode consistir apenas em um novo florescimento de carismas, de ministérios, de sinais e prodígios, em um sopro de ar fresco no rosto da Igreja. Estas coisas são o reflexo e o sinal de algo mais profundo. Um novo Pentecostes, para ser realmente tal, deve acontecer na profundidade que nos revelou o Apóstolo; deve renovar o coração da Esposa, não apenas o seu vestido.

Para ser, contudo, a corrente de graça que descrevemos, a Renovação Carismático precisa ela mesma se renovar, e a isso quer contribuir a instituição da CHARIS. “Não se pense – escrevia Orígenes, no século III – que basta se renovar uma única vez; é preciso renovar a mesma novidade: ‘Ipsa novitas innovanda est’”[6]. Não há que se surpreender com isso. É o que acontece em todo projeto de Deus no momento em que é colocado nas mãos do homem.

Logo após a minha adesão à Renovação, um dia, em oração, fui tomado por alguns pensamentos. Parecia-me intuir o que o Senhor estava fazendo de novo na Igreja; peguei uma folha de papel e uma caneta e escrevi alguns pensamentos, dos quais eu mesmo me surpreendi, tão pouco, eram fruto da minha reflexão. Encontram-se publicados em meu livro La sobria ebbrezza dello Spirito (“A sóbria embriaguez do Espírito”, N. do T.), mas me permito compartilhar-lhes de novo, pois me parece ser o ponto do qual devemos reiniciar.

“O Pai quer glorificar o seu Filho Jesus Cristo na terra de maneira nova, com uma invenção nova. O Espírito Santo é agente desta glorificação, pois está escrito: ‘Ele me glorificará e receberá do que é meu’. Uma vida cristã inteiramente consagrada a Deus, sem fundador, nem regra, nem congregação novos. Fundador: Jesus! Regra: o Evangelho interpretado pelo Espírito Santo! Congregação: a Igreja! Não se preocupar com o amanhã, não querer fazer coisas que permaneçam, não querer erguer organismos reconhecidos que se perpetuem com sucessores… Jesus é um Fundador que nunca morre, por isso, não precisa de sucessores. É preciso deixá-lo sempre fazer coisas novas, também amanhã. O Espírito Santo existirá também amanhã na Igreja!”

SEGUNDA PARTE: “CARISMÁTICO”

Agora chegou o momento de passar à segunda parte do meu discurso, que será bem mais breve: o que acrescenta o adjetivo “Carismático” ao nome “Renovação”. Primeiramente, é importante dizer que “carismático” deve permanecer um adjetivo e jamais se tornar um substantivo. Em outras palavras, deve-se evitar absolutamente, de nossa parte, o uso do termo “os carismáticos”, para indicar as pessoas que fizeram a experiência da Renovação. No caso, use-se a expressão “cristãos renovados”, mas não carismáticos. O uso deste nome suscita justamente ressentimento, pois cria discriminação entre os membros do corpo de Cristo, quase como se alguns fossem dotados de carismas e outros não.

Não quero fazer aqui um ensinamento sobre carismas, dos quais há tantas ocasiões para falar. A minha intenção é mostrar como, também enquanto realidade carismática, a Renovação é uma corrente de graça destinada a toda a Igreja. Para ilustrar esta afirmação, é necessário dar uma rápida olhada na história dos carismas na Igreja.

A redescoberta dos carismas no Vaticano II

O que tinha acontecido, na realidade, aos carismas após sua tumultuosa aparição nos inícios da Igreja? Os carismas não tinham desaparecido tanto da vida da Igreja, quanto mais da sua teologia. Se revisitarmos a história da Igreja, tendo em mente as várias listas de carismas do Novo Testamento, devemos concluir que, com exceção talvez do “falar em línguas” e da “interpretação das línguas”, nenhum dos carismas foi completamente perdido.

Então, onde está a novidade que nos permite falar de um despertar dos carismas em nossa época? O que estava ausente antes? Os carismas, do seu âmbito próprio da utilidade comum e da “organização da Igreja”, tinham sido progressivamente confinados no âmbito privado e pessoal. Não mais entravam na constituição da Igreja.

Na vida da comunidade cristã primitiva, os carismas não eram fatos privados, eram o que, juntamente com a autoridade apostólica, delineavam a fisionomia da comunidade. Apóstolos e profetas eram as duas forças que, juntas, guiavam a comunidade. Bem cedo, o equilíbrio entre as duas instâncias – a do ofício e a do carisma – rompe-se em vantagem do ofício. Um elemento determinante foi o surgimento das primeiras falsas doutrinas, especialmente as gnósticas. Foi este fato que fez pender sempre mais a agulha da balança para os detentores do ofício, os pastores. Um outro fato foi a crise do movimento profético difundido por Montano na Ásia Menor no século II, que serviu para desacreditar ainda mais um certo tipo de entusiasmo carismático coletivo.

Deste fato fundamental derivam todas as consequências negativas acerca dos carismas. Os carismas são relegados às margens da vida da Igreja. Desaparecem sobretudo aqueles carismas que tinham como terreno de exercício o culto e a vida da comunidade: o falar inspirado e glossolalia, os chamados carismas pentecostais. A profecia vem a se reduzir ao carisma do magistério de interpretar autenticamente e infalivelmente a revelação (esta era a definição da profecia nos tratados de eclesiologia que se estudavam a meu tempo).

Busca-se justificar também teologicamente esta situação. Segundo uma teoria frequentemente repetida por São João Crisóstomo e depois, até a vigília do Vaticano II, certos carismas seriam reservados à Igreja em seu “estado nascente”, mas depois teriam “cessado”, como não mais necessários à economia geral da Igreja[7].

Outra consequência inevitável é a clericalização dos carismas. Ligados à santidade pessoal, eles acabam por ser associados quase sempre aos representantes habituais desta santidade: pastores, monges, religiosos. Do âmbito da eclesiologia, os carismas passam ao da hagiografia,isto é, ao estudo da vida dos santos. O lugar dos carismas é tomado pelos “Sete dons do Espírito” que, no início (em Isaías 11) e até a Escolástica, não eram outra coisa senão uma categoria particular de carismas, aqueles prometidos ao rei messiânico e, em seguida, àqueles que têm a tarefa do governo pastoral.

Esta é a situação a que o Concílio Vaticano II quis remediar. Em um dos documentos mais importantes do Vaticano II, lemos o conhecido texto:

“O Espírito Santo não só santifica e conduz o Povo de Deus por meio dos sacramentos e ministérios e o adorna com virtudes, mas ‘distribuindo a cada um os seus dons como lhe apraz’ (1Cor 12,11), distribui também graças especiais entre os fiéis de todas as classes, as quais os tornam aptos e dispostos a tomar diversas obras e encargos, proveitosos para a renovação e cada vez mais ampla edificação da Igreja, segundo aquelas palavras: ‘a cada qual se concede a manifestação do Espírito em ordem ao bem comum’ (1Cor 12,7). Estes carismas, quer sejam os mais elevados, quer também os mais simples e comuns, devem ser recebidos com ação de graças e consolação”[8].

Este texto não é uma nota marginal dentro da eclesiologia do Vaticano II; antes, é sua coroação. É o modo mais claro e mais explícito de afirmar que, ao lado da dimensão hierárquica e institucional, a Igreja tem uma dimensão pneumática e que a primeira está em função e a serviço da segunda. Não é o Espírito que está a serviço da instituição, mas a instituição a serviço do Espírito.

A essa altura, concluído o Concílio e reunidos em um volume os seus decretos, o perigo de marginalizar os carismas se reapresentava sob outra forma, não menos perigosa: a de permanecer um belo documento que os estudiosos não se cansam de estudar e os pregadores de citar. O Senhor preveniu, ele mesmo, sobre este perigo, dando a ver com os próprios olhos, àquele que quisera fortemente o texto sobre os carismas, que eles tinham voltado não apenas à teologia, mas também à vida do povo de Deus. Quando, pela primeira vez, em 1973, o Cardeal Leo Suenens, ouviu falar da Renovação Carismática Católica, surgida nos Estados unidos, estava escrevendo um livro intitulado “O Espírito Santo, nossa esperança”, e eis o que ele conta em suas memórias:

“Parei de escrever o livro. Pensei que fosse uma questão da mais elementar coerência prestar atenção na ação do Espírito Santo, porquanto ela pudesse se manifestar de modo surpreendente. Eu estava particularmente interessado na notícia do despertar dos carismas, a partir do momento em que o Concílio tinha invocado um tal despertar”.

E eis o que escreveu após ter constatado com os próprios olhos o que estava acontecendo na Igreja:

“Improvisamente, São Paulo e os Atos dos Apóstolos pareciam se tornar vivos e fazer parte do presente; o que era autenticamente verdadeiro no passado, parecer acontecer de novo sob os nossos olhos. É uma descoberta da verdadeira ação do Espírito Santo que está sempre em ação, como o próprio Jesus prometeu. Ele mantém a sua palavra. É de novo uma explosão do Espírito de Pentecostes, uma alegria que tinha se tornado desconhecida para a Igreja”[9].

Agora está claro, acredito, porque digo que também como realidade carismática, a Renovação é uma corrente de graça destinada e necessária a toda a Igreja. É a própria Igreja que, no Concílio, definiu-o. Resta apenas passar da definição à atuação, dos documentos à vida. E este é o serviço que a CHARIS, em total continuidade com a RCC do passado, é chamada a prestar à Igreja.

Não se trata somente de fidelidade ao Concílio, mas de fidelidade à própria missão da Igreja. Os carismas, lê-se no texto conciliar, são “proveitosos para a renovação e cada vez mais ampla edificação da Igreja” (talvez teria sido mais justo escrever “necessários”, no lugar de “proveitosos”). A fé, hoje, como no tempo de Paulo e dos apóstolos, não se transmite “com discursos persuasivos de sabedoria, mas na manifestação do Espírito e do poder” (cf. 1Cor 2,4-5; 1Ts 1,5). Se, há um tempo, em um mundo que se tornou, pelo menos oficialmente, “cristão”, podia-se pensar que não havia mais necessidade de carismas, de sinais e prodígios, como no início da Igreja, hoje não mais. Nós voltamos a estar mais próximos ao tempo dos apóstolos do que ao de São João Crisóstomo. Eles deviam anunciar o Evangelho a um mundo pré-cristão; nós, pelo menos no ocidente, a um mundo pós-cristão.

Eu disse até aqui que a RCC é uma corrente de graça necessária a toda a Igreja Católica. Devo acrescentar que ela o é duplamente para algumas igrejas nacionais que assistem há tempos a uma dolorosa hemorragia dos próprios fiéis rumo a outras realidades carismáticas. É bem conhecido que um dos motivos mais comuns de tal êxodo é a necessidade de uma expressão da fé que mais responda à própria cultura: com mais espaço dado à espontaneidade, à alegria e ao corpo; uma vida de fé em que a religiosidade popular seja um valor acrescentado e não um substitutivo do senhorio de Cristo.

Fazem-se análises pastorais e sociológicas do fenômeno[10] e se especulam remédios, mas se tem dificuldade em dar-se conta de que o Espírito Santo já proveu, de maneira grandiosa, a esta necessidade. Não se pode mais continuar a ver a RCC como parte do problema do êxodo dos católicos, ao invés de solução do problema. Para que este remédio seja realmente eficaz, não basta, contudo, que os pastores aprovem e encorajem a RCC, permanecendo acuradamente fora dela. É preciso acolher na própria vida a corrente de graça. A isso nos impulsiona o exemplo do Pastor da Igreja universal, também com a instituição da CHARIS.

Não pretendo prolongar-me além sobre o tema carismas e evangelização. Dele, falou-nos o nosso caro coordenador Jean-Luc e nos falará daqui a pouco Mary Healy, que, sobre este tema, além de uma excelente formação teológica, possui também uma notável experiência amadurecida na área. Concluo com uma reflexão sobre o exercício dos carismas.  *  *  *

Como assistente eclesiástico, procurei dar, com este ensinamento, a minha contribuição para uma correta visão da RCC na história e no presente da Igreja. Serão, porém, o moderador e os membros do comitê internacional a ter que carregar o peso maior deste novo início. A todos eles, exprimo a minha fraterna amizade e a minha incondicional colaboração, até quando o Senhor me der a força para fazê-lo. A Carta aos Hebreus recomendava aos primeiros cristãos: “Lembrai-vos de vossos dirigentes, que vos pregaram a palavra de Deus” (Hb 13,7). Nós devemos fazer o mesmo, recordando com afeto e gratidão aqueles que, por primeiro, viveram e promoveram o novo Pentecostes: Patti Mansfield, Ralph Martin, Steve Clark, Kevin e Dorothy Ranagan e todos os outros que, em seguida, serviram à RCC no ICCRS, na Fraternidade Católica e em outros órgãos de serviço.

Concluo com uma palavra profética que proclamei na primeira vez que me encontrei a pregar na presença de São João Paulo II. É a palavra que o profeta Ageu dirigiu aos chefes e ao povo de Israel no momento em que se preparavam para reconstruir o templo:

“Mas agora, toma coragem, Zorobabel, diz o Senhor, coragem, Josué, filho de Josedec, sumo sacerdote; coragem, povo todo desta terra, diz o Senhor dos exércitos; ponde mãos à obra, pois eu estou convosco”(Ag 2,4).

Coragem, Jean-Luc e membros do comitê; coragem, povo todo da RCC; coragem irmãos e irmãs de outras Igrejas cristãs que estão conosco: “ponde mãos à obra, pois eu estou convosco, diz o Senhor!”

fonte: https://cernebrasil.wordpress.com/ acesso dia 10/06/2019

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Estudo profeta Ageu: A glória da segunda casa será maior do que a primeira (Ag 2.9)

O livro do profeta Ageu fala sobre a reconstrução do templo. No ano 586 o primeiro templo construído por Salomão foi destruído pelos babilônios onde ficaram por  70 anos. Mas Deus não abandonou a obra de suas mãos, o Senhor levantou um outro império os persas que através do rei Ciro venceram os babilônios 539 a C, e Ciro no ano 515 a C, assina um decreto dando legalidade para que os Israelitas então cativos pudessem retornar a sua pátria para reconstruir o templo (veja 2 Cr 36,23 e Esdras 1 ,1-4).

O texto faz uma dura crítica aos Israelitas:

5,7 Pois agora, assim diz o Senhor dos exércitos: Prestai atenção ao vosso modo de viver!

Os Israelitas estavam acomodados vivendo em suas casas, enquanto à casa do Senhor não estava sendo construída.

O templo para os Israelitas era um lugar de suma importância, era o vínculo de culto com Deus, lugar onde Deus se manifestava e sua palavra era pronunciada. O aparente desinteresse os mesmos em construir novamente o templo revelava que a fé de muitos estava desfalecendo em seus corações.

Então o Senhor levanta o profeta Ageu e também o profeta Zacarias para exortarem os mesmos a se arrependerem de sua falta de interesse pelas coisas de Deus.

(V,5-8) Pois agora, assim diz o Senhor dos exércitos: Prestai atenção ao vosso modo de viver!

Plantais muito e colheis pouco, comeis e não ficais satisfeitos, bebeis e não matais a sede, vestis as roupas e não esquentais o corpo e o trabalhador está guardando seu salário numa sacola furada. Prestai atenção ao vosso modo de viver! Subi à montanha para tirar madeira e construir minha Casa. Vou gostar dela e vou me sentir honrado, diz o Senhor.

Sobre essa casa o Senhor fez uma grande promessa:

(Ageu 2,9) O esplendor desta Casa será maior que o da antiga, diz o Senhor dos exércitos; e é neste Lugar que concederei a  felicidade, oráculo do Senhor dos exércitos”.

Lições:

1º Não podemos parar as obra de Deus!

A casa de Deus não pode ser abandonada, Ageu exorta: Prestai atenção em vossa maneira de viver! Sem uma busca de santificação diária, nos tornamos semelhantes a trabalhadores que guardam seu salário em uma sacola furada.

2º A glória da segunda casa será maior do que a primeira!

O Senhor em toda Bíblia promete um reavivamento espiritual para seu povo, Deus é fiel e nunca abandonará a obra de suas mãos. Creia o melhor de Deus está por vir!

Dicas práticas para uma boa leitura Bíblica

#CursoBoaSemente

Texto base (Neemias 8.8) Leram clara e distintamente o livro da Lei de Deus e explicaram seu sentido, de maneira que se pudesse compreender a leitura.

Observamos quatro pontos em relação a leitura dos levitas a Palavra da Escritura.

  1. Leram
  2. Interpretaram
  3. Explicaram
  4. Foram didáticos
  1. Estrutura simples para chegar a essa compreensão:

O texto precisa ser lido e compreendido. Procure descobrir o que o autor está querendo dizer. Importe-se com o texto, gaste tempo com o mesmo.  Se o texto não trazer entendimento claro, leia o contexto ou seja o capitulo todo.  Em alguns casos será necessário ler o capítulo anterior ou posterior.

Anote em um bloco de notas os personagens, lugares e palavras chaves, centrais do texto. Se for possível embase com outros textos da Sagrada Escritura que expõe o mesmo tema a ser revelado.

Se o texto apresenta uma questão moral, ou afirmação teológica que te deixe em duvida, busque o respaldo da tradição e magistério da Igreja, a Sagrada escritura nunca se revela contra a unidade da revelação.  

Ao ler por duas ou três vezes pausadamente, faça três perguntas:

  1. O que o texto diz?
  2. O que o texto me diz?
  3. O que trago de aplicação para minha vida.

Após fazer essa leitura, reze com o texto lido e ensine de forma simples para que mais pessoas possam beber dessa grande revelação.

HABACUC – O JUSTO VIVERÁ PELA FÉ

O livro do profeta Habacuc contém apenas três capítulos e pode ser resumido em duas grandes queixas do profeta (cap 1-2) e uma profunda oração de lamentação, que encontramos no (cap 3).

O livro é referente ao século VI, um século após a vitória dos Assírios sobre o reino norte ( 722 a C). Habacuc prevê o avanço de uma nova e mais forte potência, os Babilônios.  Como vemos (Hab 1,6) Farei surgir os caldeus, gente má e violenta que percorre a terra inteira, tomando posse de casas que nunca foram suas.

Os mesmos haviam destruído a cidade de Nínive no ano 612 a C, como profetizou Naum e agora avançavam sobre Judá o reino sul.

Habacuc diante do mal que avança, sofre com umas das maiores crises de um homem espiritual: O silêncio de Deus.

(Hab 1,2) Até quando, SENHOR, ficarei clamando sem que me dês atenção? Até quando gritarei por ti: “Violência!”, sem que me tragas salvação?

Habacuc se questiona por que o Senhor não intervinha diante de tanto sofrimento e exploração. Por que os ímpios prosperavam e os justos sofriam tamanha aniquilação.

A mesma crise sofre o Salmista Azaf no Salmo 73, vendo a prosperidade dos maus.

Pois comecei a ter inveja dos arrogantes, vendo a prosperidade dos maus (v,3; 12-14) Assim são os maus, sempre tranquilos, só fazem aumentar o seu poder. Então foi em vão que conservei puro meu coração e que na inocência lavei minhas mãos? Sou molestado o dia todo e castigado cada manhã.

Mas Asaf no meio da sua crise lembra de sua experiência de Salvação e recorda que no fim os justos embora humilhados terão uma grande vitória, viverão para sempre na casa de Deus. (veja Salmo 73,25-28).

A mesma experiência sofre Habacuc, diante o silêncio de Deus e sua aparente fraqueza que fica calado diante das maldades do ímpio. Habacuc compreende que o justo deve viver pela fé.

“o justo viverá por sua fidelidade” (Hab 2,4).

Habacuc como todo bom judeu compreende que os justos viverão por sua fidelidade. (fé = fidelidade), fidelidade aos mandamentos,  a palavra do Senhor.

Assim no capitulo 3, Habacuc faz uma linda oração de profissão de fé.

1º Ele clama por um grande Avivamento em melodia de lamentação:

(Hab 3,2) Ouvi falar, Senhor, da tua fama, aprendi a respeitar as tuas obras, ó Senhor. Faze-o reviver agora nestes anos, nestes anos manifesta-o. Mesmo irado, não te esqueças do perdão!

Habacuc se recorda dos grandes feitos de Deus na história da Salvação, a libertação do Egito, a forma que conduziu os profetas, reis, sacerdotes, a nação de Israel. E pede ao Senhor “Reaviva suas obras, manifesta, ou seja torne público o seu poder e nos salva dos inimigos.

2º Revelando que mesmo se o Senhor não agir, ainda sim, ele continuará fiel ao Senhor, pois o justo viverá por sua fé.

(Hab 3,17-18) E, mesmo que a figueira não renove seus brotos, mesmo que a parreira deixe de produzir e venha a falhar a produção de azeitonas, se as pastagens nada mais tiverem para alimentar o gado, se as ovelhas desaparecerem dos pastos, mesmo que não haja mais gado no curral, estarei feliz no Senhor, cantando a Deus, meu salvador.

Estudando o profeta Habacuc aprendemos essas duas asas da fé, a esperança e a confiança. Sabemos que Ele é Deus pode agir e mudar qualquer situação, mas mesmo se Ele não agir, continuará sendo Deus. Vivemos não pelas obras, mas por sua presença, sua graça nos basta, em qualquer situação, estaremos

Felizes no Senhor, cantando a Deus, nosso salvador. Aleluia!

A BATALHA DO CARMELO (1 Reis 18,20,24)


Elias no hebraico significa «o Senhor é o meu Deus», o seu nome revela a sua missão levar o povo de Deus a conversão.

Nos séculos IX e VIII Israel no reino norte estava em uma profunda decadência espiritual, os Israelitas haviam abandonado a aliança com o Senhor e servindo Baal.

Baal era um deus cananeu, um deus da fertilidade, da chuva. Em nome de baal os pagãos faziam coisas terríveis: se mutilavam, prostituiam e sacrificavam crianças.

Elias foi levantado por Deus como uma tocha de fogo, e exortou os Israelitas severamente (v,21) Jesus também criticou os homens do seu tempo diante dessa relativização (Mateus 6,24) Ninguém pode servir a dois senhores: ou vai odiar o primeiro e amar o outro, ou aderir ao primeiro e desprezar o outro. Não podeis servir a Deus e ao Dinheiro!

Muitas pessoas hoje falam: Eu não tenho tempo para Deus, trabalho muito, estou cansado, tenho outros compromissos. Jesus exortou a esse respeito: O que adianta o homem ganhar o mundo inteiro se vier a perder a sua alma?

Então para que o povo Israelita pudesse se voltar para Deus unicamente, como revela o primeiro mandamento, Elias propõe um desafio: O Deus que mandar fogo do céu, é o Deus verdadeiro!

O fogo na Bíblia é um símbolo do Espírito Santo, Moisés foi atraído por Deus por meio da sarça ardente. No fogo podemos compreender algumas operações do Espírito Santo:

  1.  O fogo ilumina (dissipa toda treva). –  2) Purifica (as sujeiras, apenas são retiradas com fogo). –3)  O fogo transforma, aliás tudo que o fogo toca transforma.  – 4) Aquece (queima nossos corações).

Elias manda que os Israelitas preparem o lugar: colocando os novilhos cortados como holocaustos e as lenhas como altar.

Primeiramente se lançam ao desafio os profetas de Baal: Os mesmos clamam, se mutilam, de manhã até o meio dia, mas baal permanece calado. Elias confiante do silêncio de Baal, zomba os seus adversários.

Então diante da desistência dos profetas de Baal. Elias se prepara para o desafio, e o profeta toma algumas atitudes:

Essas atitudes são necessárias para que possamos ver o fogo de Deus sendo derramado em nossos corações como em pentecostes, quando Jesus incendiou a sua Igreja para impactar o mundo com a pregação do Evangelho.

  • (v,30)  1º Elias aproxima todo o povo.  Essa é a missão de todo profeta, fazer o povo se voltar para Deus! Quando a Igreja estava vivendo o auge de seu esfriamento espiritual dizendo:  É necessário que a Igreja retorne ao cenáculo para que o Espírito Santo retorne a Igreja.

O fogo do céu cai quando reunimos em Comunidade.

  • Eles refizeram o altar: Altar significa consagração, altar é lugar do sacrifício, entrega total da vida. “Deus nos dá tudo”, mas Ele nos pede tudo, enquanto não houver consagração, ruptura com atos pecaminosos e disposição de viver em santidade o fogo do céu não será derramado.
  • (v,31) Ele recorda Israel de sua eleição “Deus deu um nome, uma identidade a Israel e não Baal”

Precisamos sempre nos recordar que somos eleitos, fomos comprados por um alto preço na cruz, Deus nos ama e quer nossa salvação.

Então diante do novilho colocado em holocausto, Elias faz uma profunda oração (v,37)

“Ouve-me, Senhor, ouve-me, para que o povo reconheça que tu, Senhor és Deus, e que convertes o seu coração!

Bento XVI em uma de suas homilias sobre esse texto, ensina que essa é mais profunda finalidade da oração, levar o homem a conversão do coração. E a resposta a esse anseio maior, é respondida sempre por Deus com fogo.

(V,38-39) Então caiu o fogo do Senhor, que devorou o holocausto, a lenha, as pedras e a poeira, e secou a água que estava no rego.           Vendo isto, o povo todo prostrou-se com o rosto em terra, exclamando: “É o Senhor que é Deus, é o Senhor que é Deus!”

Se queremos ver diante de nossas olhos que só o Senhor é Deus, aquele que manda fogo do céu, precisamos levantar um grande clamor em oração!

Vamos rezar: Caia fogo do céu, queima esse altar, mostra para esse povo que há Deus em Israel!

O Profeta Miqueias: “A esperança é a última que morre”

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 Personalidade e escritos do profeta Miqueias

No mês da Bíblia do ano de 2016, o livro bíblico a ser estudado e meditado é o do profeta Miqueias. O tema é: “A profecia em defesa da vida”. O lema é uma frase do próprio livro de Miqueias: “Praticar o direito, amar a misericórdia, caminhar humildemente com o teu Deus” (Mq 6,8).

1 A vida do profeta Miqueias

Sabemos muito pouco a respeito da vida do profeta Miqueias. O primeiro versículo do livro dele (Mq 1,1) traz cinco breves informações a respeito do nome, do lugar, da época, da missão e do destino das suas profecias. Estas cinco pequenas janelas deixam entrever várias coisas a respeito da vida e da atuação de Miqueias como profeta. Eis o texto:

“Palavra do YHWH dirigida a Miqueias de Morasti, no tempo em que Joatão, Acaz e Ezequias eram reis de Judá. Palavra que lhe foi dirigida em visão a respeito de Samaria e Jerusalém”.

Nome

Miqueias ou Mi-ca-ya significa “Quem é como Yhwh?” Este nome é uma profissão de fé. Deixa entrever a profunda experiência de Deus como Yhwh, que marcou a vida do profeta Miqueias.

Lugar

Miqueias é natural de Morasti. Morasti era um pequeno povoado de camponeses perto da cidade de Gat (cf. Mq 1,14) na fronteira com os Filisteus. Fazia parte do reino de Judá, sendo uma aldeia na fronteira com o território dos Filisteus, que eram inimigos do povo de Deus. Morasti era rodeada por fortalezas e quartéis do reino de Judá com seus soldados e ofi­ciais que deviam garantir a segurança do reino (cf. Mq 5,10). O pagamento dos oficiais do exército do rei era feito com terras, muitas vezes roubadas do povo (cf. 1Sm 8,14-17). Por isso, o ambiente em que Miqueias viveu era marcado por latifúndio, altos impostos, aldeias saqueadas, roubos, tra­balhos forçados e prostituição.

Época

Miqueias atuou como profeta durante os governos dos reis Joatão (740-736), Acaz (736-716) e Ezequias (716-687), isto é, entre os anos 740 e 687. O texto diz que algumas das palavras de Deus para Miqueias se referiam a Samaria, que foi destruída pelos assírios em 722. Nas suas pro­fecias, Miqueias faz alusão a um desastre militar que arrasou grande parte das cidades de Judá (cf. Mq 1,10-16). Trata-se da invasão do exército da Assíria que aconteceu em 701 (cf. Is 5,26-30). Isso significa que a atua­ção profética de Miqueias começou antes de 722 e foi até depois de 701. Miqueias era contemporâneo dos profetas Oseias e Isaías, que atuaram na mesma época: Oseias na Samaria, Isaías em Jerusalém.

Missão

O texto diz que Miqueias recebia a palavra de YHWH em visão. Re­ceber a palavra em visão refere-se à visão de fé com que o profeta costuma olhar para Deus e para povo. Por viverem compenetrados da presença de Deus, os profetas olhavam para a situação do povo com o olhar de Deus, “olhar penetrante” (cf. Nm 24,3.15), e assim descobriam os apelos de Deus que eles deviam anunciar ao povo. Receber a palavra de Deus em visão sig­nifica ainda que não eram palavras que Miqueias inventava, mas sim pala­vras que vinham da parte de Deus para serem transmitidas aos outros.

Destino

O destino das palavras de Deus não era para o próprio Miqueias, mas para os governantes e habitantes das duas capitais: Samaria e Jeru­salém. Samaria era a capital do reino do norte, também chamado reino de Israel. Jerusalém era a capital do reino de Judá, no sul.

Cem anos depois de Miqueias, já na época do profeta Jeremias, em torno do ano 590, a atuação do profeta Miqueias ainda era lembrada pelos anciãos do povo. Foi quando os chefes do governo e os falsos profetas qui­seram matar o profeta Jeremias, que os incomodava. Eis o texto do livro de Jeremias a respeito da atuação de Miqueias:

Os príncipes e todo o povo disseram, então, aos sacerdotes e aos profetas: “Este homem (Jeremias) não merece a morte, pois foi em nome de Yhwh nosso Deus que ele nos falou”. E alguns anciãos do país tomaram, então, a palavra e, dirigindo-se a todo o povo reunido, disseram: “Miqueias de Morasti foi um profeta no tempo de Ezequias, rei de Judá. Ele disse a todo o povo de Judá: ‘Assim disse Yhwh dos Exércitos: Sião será arado como um campo, Jerusalém se tornará um montão de ruínas, e o monte do Tem­plo será uma colina cheia de mato’ (cf. Mq 3,12). Por acaso Ezequias, rei de Judá, ou o próprio povo de Judá mataram Miqueias? Por acaso não temeram a Yhwh e o acalmaram? E de fato, Yhwh desistiu da ameaça que havia lançado contra eles. Nós, porém, estamos para cometer um grande crime contra nós mesmos! (Jr 26,16-19).

Esta informação do livro de Jeremias mostra que Miqueias foi um profeta que marcou a história do povo. Depois de mais de cem anos, suas palavras ainda eram lembradas como palavras de fogo e de grande auto­ridade. Miqueias deve ter tido uma personalidade forte, portadora de uma palavra forte.

2 A personalidade do profeta Miqueias

Mesmo tendo poucas informações diretas sobre a vida de Miqueias, temos as profecias, as palavras que ele pronunciou. Poucas palavras, ape­nas sete capítulos. Apesar disso, permitem adivinhar algo a respeito da personalidade de Miqueias. Eis alguns tópicos que transparecem nas suas profecias:

Miqueias era um homem do povo, bem do interior. Criado na roça, sua linguagem é simples e direta: pão, pão! queijo, queijo! Não usa meio termo e vai direto ao assunto. Ele vive muito identificado com o povo da roça, que era explorado e oprimido pelos grandes (Mq 2,1-2). Miqueias é um lavrador que observava como as terras dos pobres eram tomadas e invadidas (Mq 2,2). Ele denuncia a terrível dominação que os grandes im­punham ao povo trabalhador (Mq 3,3; 3,9-11). Faz denuncias muito fortes contra Judá e contra Samaria e indica as causas: exploração, latifúndio, propinas, corrupção, vontade de ganhar dinheiro sem preocupação com os pobres.

Miqueias era um homem pé no chão, que alimentava sua fé a partir das histórias que ele ouvia do seu povo, desde criança, em casa e nas ce­lebrações, as quais ele deve ter aprofundado nas reuniões da comunidade local. Em suas profecias, ele lembra Abraão e Jacó (Mq 7,20), o Êxodo e os nomes de Moisés, Aarão e Miriam, a irmã de Moisés (Mq 6,4; 7,15). Evoca as histórias de Balac, rei de Moab, e do profeta Balaão (Mq 6,5). Ele lembra “o que aconteceu desde Setim até Guilgal” (Mq 6,5), isto é, por ocasião da travessia do rio Jordão quando o povo entrou na terra prometida (cf. Nm 25,1; Js 2,1; 3,1; 4,19-24). Lembra os “tempos remotos” de quan­do Davi foi ungido como rei em Belém (Mq 5,1; cf. 1Sm 16,1-13). Lembra os crimes e as injustiças praticadas pelos reis Amri e Acab, reis de Israel (cf. Mq 6,16).

Miqueias era um homem de esperança. Ele lembra como era a vida do povo no passado, bem no começo, “nos dias da saída da terra do Egito” (Mq 7,15). Ele espera o mesmo para o futuro: terra ampla, desde Galaad até Basan, desde o Mar Morto até o Mar Mediterrâneo, desde a montanha do Hermon até o Monte Horeb, a montanha de Deus (cf. Mq 7,11-12.14). Assim, ele transforma a saudade em esperança. Compara este passado tão bonito com a situação presente, em que ele e os pequenos eram obrigados a viver. E se pergunta: Por que as coisas são assim? Não deveriam ser assim! Então, como deveriam ser? É aqui que entra o significado do nome. Ele se chama Miqueias, Mi-ca-ya, “quem é como Yhwh!?” Desde pequeno, ele deve ter se perguntado muitas vezes: Por que me deram este nome? O que significa este nome para mim, para minha missão? Todas essas coisas fo­ram provocando as profecias de Miqueias, conservadas nos sete capítulos do livro que traz o seu nome.

Autores: Carlos Mesters e Francisco Orofino

O livro de Abdias: A vitória vem do Senhor

O livro de Abdias é um folhetim. Tão pequeno é o texto que nem foi dividido em capítulos – coisa rara na Bíblia – acontecendo o mesmo somente com quatro livros do Novo Testamento (Carta de Judas, Carta de Paulo a Filêmon, Segunda e Terceira Cartas de João). O texto não só é curto, mas à primeira vista também estranho. Sua teologia nem sempre soa bem aos nossos ouvidos moralistas, afinal onde já se viu fazer oráculos de destruição para os inimigos (Edom ou Esaú), em vez de amá-los como disse Jesus (cf. Mt 5,43-48) e perdoar-lhes até setenta vezes sete (cf. Mt 18,21-22)? Para entender o livro de Abdias, é preciso entender o que se passava dentro da cabeça do povo (seu modo de pensar) e o fora dela, ou seja, o que estava acontecendo naquela época (seu contexto).


Bom, comecemos pela homérica rixa entre Edom e Israel. Israel (também chamado Jacó) é filho de Isaac e Rebeca; assim como seu irmão gêmeo Edom (também conhecido como Esaú), mas que era primogênito, pois nascera primeiro. A briga entre Esaú e Jacó, ou seja, entre Israel e Edom, é coisa de que o povo sempre ouvira falar. Tal é sua extensão que, ao relatar o nascimento das crianças, o escritor sagrado fala de dois povos que brigavam entre si já no ventre da mãe Rebeca e que nasceram disputando o direito de primogenitura. Esaú fora mais esperto e nascera primeiro, mas com Jacó pegando no seu calcanhar, para não ficar para trás[1]. A briga entre os dois se eterniza. Jacó compra o direito de primogenitura de seu irmão por um prato de comida e, mais tarde, na hora de se receber a benção do pai e se apossar dos direitos do primogênito, esquece-se do comercio que havia feito, trapaceando Jacó. Mas Jacó, auxiliado por sua mãe, vai fazer valer o negócio que tinha fechado com seu irmão tempos atrás. Toda essa trama para dizer que este dois povos, apesar de serem irmãos, têm uma inimizade que se prolonga no tempo.

 Posto isso, podemos entender o contexto do oráculo de Abdias contra Edom. Por ocasião da invasão da Babilônia no Reino do Sul (Judá, capital Jerusalém), quando o povo foi deportado para longe de sua terra natal, o povo de Edom se deliciou com a queda do irmão rival. Aproveitou-se da fragilidade da ocasião para invadir Jerusalém e saqueá-la depois dela já ter sido devastada pelos babilônicos. Isso foi demais para Israel perdoar, afinal Edom acabara de “chutar o cachorro morto”, como diz nossa gente. Cresceram raiva e revolta ainda maiores nos israelitas em relação aos edomitas. Nós podemos saber mais sobre esta indignação do povo de Israel no Salmo 137,7-9. Este é também um salmo estranho; é do grupo dos salmos imprecatórios, mas que revela seu modo de pensar. Imprecar é o mesmo que rogar praga, maldizer. No caso, a praga é rogada em forma de oração, pedindo a Deus que vingue o inimigo, devolvendo a ele o mal que fizera até o ponto de desejar ver Deus “agarrar e esmagar seus recém-nascidos contra a rocha”. Uma oração pra lá de extravagante, mas que pode ser entendida sem problemas. O povo pede a vitória a Deus; para ter vitória, o inimigo – que humilhou Israel e continua agora o ameaçando – deve ser destruído; sua raça deve ser eliminada da terra, como um mal que deve ser cortado pela raiz. Num tempo em que o povo vivia sob a lei de Talião, “dente por dente, olho por olho”, Israel só está pedindo que a lei se cumpra, que seu Deus o defenda do inimigo.

Então já entendemos. O contexto é de inimizade de longos tempos, reforçada pela invasão de Edom a Jerusalém por ocasião do exílio. O modo de pensar é: se Deus é por nós, deve ser contra nossos inimigos, logo vai castigá-lo pelo mal que nos fez. É dentro destas categorias que devemos ler o pequenino livro de Abdias. Abdias teria sido um profeta que, vendo as humilhações de Israel provocadas por Edom (cf. v. 10-11), logo após o retorno para Jerusalém, anuncia a Edom castigos de Deus aos edomitas, pois Deus é o seu defensor. Mas são castigos na justa medida da lei de Talião: “Como fizeste aos outros será feito contigo!” (v. 15).

Ao final, Abdias profetiza uma mensagem de esperança para Judá. Apesar de ter sido devastada e humilhada por todos por ocasião do exílio, agora Jerusalém vai ser reerguida: “Jacó será fogo e Esaú será estopa” (v. 18). O povo israelita sairá vitorioso de suas batalhas. Para o inimigo, o dia do Senhor será castigo; para o povo que confia no seu Senhor, este dia será de restauração.

E nós? Será que o livro de Abdias nos diz algo? Claro que sim. Toda a violência da linguagem revoltosa de Israel contra Edom não apaga a beleza do texto. Abdias confia que seu Deus é sua vitória, que ele é quem o defende dos inimigos. Ainda que hoje nossos inimigos devam ser amados e perdoados como disse Jesus, não devemos nos esquecer na hora da tribulação que Deus está conosco e nos dá vitória. Sua força nos sustenta nos embates da vida. E, se entendemos que nossos piores inimigos estão dentro de nós mesmos muito mais que fora de nós, aí é que devemos confiar mesmo no Senhor nesta batalha travada. Vencer estas batalhas da vida, só se for com a força de Deus.

Texto de Solange do Carmo acesso dia 03/05/2019 ás 11h45.

Fonte: http://fiquefirme.com.br/multimedia-archive/10_o_livro_de_abdias_a_vitoria_vem_do_senhor/#

SERMÃO SOBRE A RESSURREIÇÃO DE CRISTO. Por Santo Agostinho

A ressurreição de nosso Senhor Jesus Cristo lê-se estes dias, como é costume, segundo cada um dos livros do santo Evangelho. Na leitura de hoje ouvimos Jesus Cristo censurando os discípulos, primeiros membros seus, companheiros seus porque não criam estar vivo aquele mesmo por cuja morte choravam. Pais da fé, mas ainda não fiéis; mestres – e a terra inteira haveria de crer no que pregariam, pelo que, aliás, morreriam – mas ainda não criam. Não acreditavam ter ressuscitado aquele que haviam visto ressuscitando os mortos. Com razão, censurados: ficavam patenteados a si mesmos, para saberem o que seriam por si mesmos os que muito seriam graças a ele.

E foi deste modo que Pedro se mostrou quem era: quando iminente a Paixão do Senhor, muito presumiu; chegada a Paixão, titubeou. Mas caiu em si, condoeu-se, chorou, convertendo-se a seu Criador.

Eis quem eram os que ainda não criam, apesar de já verem. Grande, pois, foi a honra a nós concedida por aquele que permitiu crêssemos no que não vemos! Nós cremos pelas palavras deles, ao passo que eles não criam em seus próprios olhos.

A ressurreição de nosso Senhor Jesus Cristo é a vida nova dos que crêem em Jesus, e este é o mistério da sua Paixão e Ressurreição, que muito devíeis conhecer e celebrar. Porque não sem motivo desceu a Vida até a morte. Não foi sem motivo que a fonte da vida, de onde se bebe para viver, bebeu desse cálice que não lhe convinha. Por que a Cristo não convinha a morte.

De onde veio a morte?

Vamos investigar a origem da morte. O pai da morte é o pecado. Se nunca houvesse pecado ninguém morreria. O primeiro homem recebeu a lei de Deus, isto é, um preceito de Deus, com a condição de que se o observasse viveria e se o violasse morreria. Não crendo que morreria, fez o que o faria morrer; e verificou a verdade do que dissera quem lhe dera a lei. Desde então, a morte. Desde então, ainda, a segunda morte, após a primeira, isto é, após a morte temporal a eterna morte. Sujeito a essa condição de morte, a essas leis do inferno, nasce todo homem; mas por causa desse mesmo homem, Deus se fez homem, para que não perecesse o homem. Não veio, pois, ligado às leis da morte, e por isso diz o Salmo: “Livre entre os mortos” [Sl 87].

Concebeu-o, sem concupiscência, uma Virgem; como Virgem deu-lhe à luz, Virgem permaneceu. Ele viveu sem culpa, não morreu por motivo de culpa, comungava conosco no castigo mas não na culpa. O castigo da culpa é a morte. Nosso Senhor Jesus Cristo veio morrer, mas não veio pecar; comungando conosco no castigo sem a culpa, aboliu tanto a culpa como a castigo. Que castigo aboliu? O que nos cabia após esta vida. Foi assim crucificado para mostrar na cruz o fim do nosso homem velho; e ressuscitou, para mostrar em sua vida, como é a nossa vida nova. Ensina-o o Apóstolo: “Foi entregue por causa dos nossos pecados, ressurgiu por causa da nossa justificação” [Rm 4,25].

Como sinal disto, fora dada outrora a circuncisão aos patriarcas: no oitavo dia todo indivíduo do sexo masculino devia ser circuncidado. A circuncisão fazia-se com cutelos de pedra: porque Cristo era a pedra. Nessa circuncisão significava-se a espoliação da vida carnal a ser realizada no oitavo dia pela Ressurreição de Cristo. Pois o sétimo dia da semana é o sábado; no sábado o Senhor jazia no sepulcro, sétimo dia da semana. Ressuscitou no oitavo. A sua Ressurreição nos renova. Eis por que, ressuscitando no oitavo dia, nos circuncidou.

É nessa esperança que vivemos. Ouçamos o Apóstolo dizer. “Se ressuscitasses com Cristo…” [Cl 3,1] Como ressuscitamos, se ainda morremos? Que quer dizer o Apóstolo: “Se ressuscitasses com Cristo?” Acaso ressuscitariam os que não tivessem antes morrido? Mas falava aos vivos, aos que ainda não morreram … os quais, contudo, ressuscitaram: que quer dizer?

Vede o que ele afirma: “Se ressuscitasses com Cristo, procurai as coisas que são do alto, onde Cristo está assentado à direita de Deus, saboreai o que é do alto, não o que está sobre a terra. Porque estais mortos!”

É o próprio Apóstolo quem está falando, não eu. Ora, ele diz a verdade, e, portanto, digo-a também eu… E por que também a digo? “Acreditei e por causa disto falei” [Sl 115].

Se vivemos bem, é que morremos e ressuscitamos. Quem, porém, ainda não morreu, também não ressuscitou, vive mal ainda; e se vive mal, não vive: morra para que não morra. Que quer dizer: morra para que não morra? Converta-se, para não ser condenado.

“Se ressuscitasses com Cristo”, repito as palavras do Apóstolo, “procurai o que é do alto, onde Cristo está assentado à direita de Deus, saboreai o que é do alto, não o que é da terra. Pois morrestes e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus. Quando Cristo, que é a vossa vida, aparecer, então também aparecereis com ele na glória”. São palavras do Apóstolo. A quem ainda não morreu, digo-lhe que morra; a quem ainda vive mal, digo-lhe que se converta. Se vivia mal, mas já não vive assim, morreu; se vive bem, ressuscitou.

Mas, que é viver bem? Saborear o que está no alto, não o que sobre a terra. Até quando és terra e à terra tornarás? Até quando lambes a terra? Lambes a terra, amando-a, e te tornas inimigo daquele de quem diz o Salmo: “os inimigos dele lamberão a terra” [Sl 79,9].

Que éreis vós? Filhos de homens. Que sois vós? Filhos de Deus.

Ó filhos dos homens, até quando tereis o coração pesado? Por que amais a vaidade e buscais a mentira? Que mentira buscais? O mundo.

Quereis ser felizes, sei disto. Dai-me um homem que seja ladrão, criminoso, fornicador, malfeitor, sacrílego, manchado por to- dos os vícios, soterrado por todas as torpezas e maldades, mas não queira ser feliz. Sei que todos vós quereis viver felizes, mas o que faz o homem viver feliz, isso não quereis procurar. Tu, aqui, buscas o ouro, pensando que com o ouro serás feliz; mas o ouro não te faz feliz. Por que buscas a ilusão? E com tudo o que aqui procuras, quando procuras mundanamente, quando o fazes amando a terra, quando o fazes lambendo a terra, sempre visas isto: ser feliz. Ora, coisa alguma da terra te faz feliz. Por que não cessas de buscar a mentira? Como, pois, haverás de ser feliz? “Ó filhos dos homens, até quando sereis pesados de coração, vós que onerais com as coisas da terra o vosso coração?” [Sl 4,3] Até quando foram os homens pesados de coração? Foram-no antes da vinda de Cristo, antes que ressuscitasse o Cristo. Até quando tereis o coração pesado? E por que amais a vaidade e procurais a mentira? Querendo tornar-vos felizes, procurais as coisas que vos tornam míseros! Engana-vos o que descaiais, é ilusão o que buscais.

Queres ser feliz? Mostro-te, se te agrada, como o serás. Continuemos ali adiante (no versículo do Salmo): “Até quando sereis pesados de coração? Por que amais a vaidade e buscais a mentira?” “Sabei” – o quê? – “que o Senhor engrandeceu o seu Santo” [Sl 4,3].

O Cristo veio até nossas misérias, sentiu a fone, a sede, a fadiga, dormiu, realizou coisas admiráveis, padeceu duras coisas, foi flagelado, coroado de espinhos, coberto de escarros, esbofeteado, pregado no lenho, traspassado pela lança, posto no sepulcro; mas no terceiro dia ressurgiu, acabando-se o sofrimento, morrendo a morte. Eia, tende lá os vossos olhos na ressurreição de Cristo; porque tanto quis o Pai engrandecer o seu Santo, que o ressuscitou dos mortos e lhe deu a honra de se assentar no Céu à sua direita. Mostrou-te o que deves saborear se queres ser feliz, pois aqui não o poderás ser. Nesta vida não podes ser feliz, ninguém o pode.

Boa coisa a que desejas, mas não nesta terra se encontra o que desejas. Que desejas? A vida bem-aventurada. Mas aqui não reside ela.

Se procurasses ouro num lugar onde não houvesse, alguém, sabendo da sua não existência, haveria de te dizer: “Por que estás a cavar? Que pedes à terra? Fazes uma fossa na qual hás de apenas descer, na qual nada encontrarás!”

Que responderias a tal conselheiro? “Procuro ouro”. Ele te diria: “Não nego que exista o que descias, mas não existe onde o procuras”.

Assim também, quando dizes: “Quero ser feliz”. Boa coisa queres, mas aqui não se encontra. Se aqui a tivesse tido o Cristo, igualmente a teria eu. Vê o que ele encontrou nesta região da tua morte: vindo de outros paramos, que achou aqui senão o que existe em abundância? Sofrimentos, dores, morte. Comeu contigo do que havia na cela de tua miséria. Aqui bebeu vinagre, aqui teve fel. Eis o que encontrou em tua morada.

Contudo, convidou-te à sua grande mesa, à mesa do Céu, à mesa dos anjos, onde ele é o pão. Descendo até cá, e tantos males recebendo de tua cela, não só não rejeitou a tua mesa, mas prometeu-te a sua.

E que nos diz ele?

“Crede, crede que chegareis aos bens da minha mesa, pois não recusei os males da vossa”.

Tirou-te o mal e não te dará o seu bem? Sim, da-lo-á. Pro- meteu-nos sua vida, mas é ainda mais incrível o que fez: ofereceu-nos a sua morte. Como se dissesse: “À minha mesa vos convido. Nela ninguém morre, nela está a vida verdadeiramente feliz, nela o alimento não se corrompe, mas refaz e não se acaba. Eia para onde vos convido, para a morada dos anjos, para a amizade do Pai e do Espírito Santo, para a ceia eterna, para a fraternidade comigo; enfim, a mim mesmo, à minha vida eu vos conclamo! Não quereis crer que vos darei a minha vida? Retende, como penhor a minha morte”.

Agora, pois, enquanto vivemos nesta carne corruptível, mor- ramos com Cristo pela conversão dos costumes, vivamos com Cristo pelo amor da justiça.

Não haveremos de receber a vida bem-aventurada senão quando chegarmos àquele que veio até nós, e quando começarmos a viver com aquele que por nós morreu.

A ressureição e o Pentecostes!

A obra se salvação ainda não estava culminada, era necessário que Jesus derrama-se o seu Espírito, o Senhor já havia vencido o diabo, o pecado e a morte, os aniquilando com o seu preciosíssimo sangue derramado na cruz e ressureição, mas faltava dar o Espírito para que sua Igreja também pudesse ter vida e vida em plenitude. Como nos ensina o Catecismo:

§1708 Por sua paixão, Cristo livrou-nos de Satanás e do pecado. Ele nos mereceu a vida nova no Espírito Santo. Sua graça restaura o que o pecado deteriorou em nós.

Cristo ressuscitou dos mortos.

Por sua morte venceu a morte,

Então Jesus vai ao encontro dos seus discípulos, e os encontrando renova a ação do Pai no jardim do Éden (veja Gn 2,7); Jesus disse, de novo: “A paz esteja convosco. Como o Pai me enviou também eu vos envio”. Então, soprou sobre eles e falou: “Recebei o Espírito Santo. (João 20,20-21). ) “Soprando o folego de vida” para inaugurar um novo tempo de graça.

Aos mortos deu a vida.

Eis aí a maravilha da Igreja! Cristo ressuscita e, ao ressuscitar, traz de volta à vida os membros do seu Corpo místico.


Eis por que se diz: “Desperta, tu que estás dormindo, levanta-te dentre os mortos, e Cristo te iluminará”. (Efesios 5,14).


O nosso corpo miserável e frágil, enquanto caminhamos neste mundo, continuará padecendo, mas pela fé sabemos já que, no fundo de nossa alma, habita Aquele cujo amor vale mais do que a vida presente. E sua força vivificante pode ressuscitar toda morte e esfriamento de fé causado pelo pecado.

Jesus é o Senhor que dá a vida! “Eu vim para que tenham a vida e a vida em abundância” (João 10,10 b). Os Evangelhos nos relatam: ‘Dele saía uma força que curava a todos’ Ao tocar no caixão do filho da viúva de Naim, o Jovem se levantou…

Hoje Jesus quer entrar em seu coração para ressuscitar sua fé, dissipando toda morte. Abra seu coração e clame ao Senhor o seu Espírito de vida.

Que a força do Cristo ressuscitado, nos levante para uma vida nova e triunfante. Amém!

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