Estudo do Evangelho de João

Para aprofundarmos no Evangelho de João primeiro meditaremos sobre o próprio João. Mas afinal: Quem foi o Evangelista João?

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João foi… O discípulo amado (cf João 13,23; 19,26) essa é a forma que o jovem João se revela em seu Evangelho ao qual não assina com seu nome.

Este discípulo é um dos doze que foram escolhidos por Jesus para estar e ser enviados por ele. João se destaca por seu um dos preferidos de Jesus, que nas horas mais importantes sempre chamava os três: Pedro, Tiago e João.

Mas em diferença aos outros dois João foi o único que não abandonou o Senhor no momento do calvário, o mesmo estava lá de pé com Maria a mãe de Jesus (João 19,25).

João era irmão de Tiago, os dois eram filhos de um pescador chamado Zebedeu, sua mãe se chamava Salomé (cf Mateus 27,56 e Marcos 15,40), que era irmã de Maria, mãe de Jesus, portanto João era primo de Jesus.

João assim como os outros tinha um forte sentimento religioso, o mesmo vivia  a espera do messias prometido a Israel, por isso acompanhava o movimento penitencial de João Batista (cf João 1,35-41), mas quando o próprio João Batista mostrou quem era o messias esperado, desligou-se do discipulado de João Batista e passou a seguir Jesus.

Assim João ficou fascinado em Jesus, tanto que mesmo depois de muito velho, não esquece a hora exata que se encontrou com Jesus “Era às quatro horas da tarde, nós encontramos o cristo!” veja (João 1,4—41). Desse encontro nasceu um relacionamento intimo muito forte, que foi crescendo e atingiu um alto grau de conhecimento, como na ultima ceia onde João pousou a cabeça no peito de Jesus, João era o primeiro a receber toda a revelação que vinha do Senhor ( cf João 13,25).

Esse relacionamento intimo deu a João a graça de penetrar no mistério do homem-Deus um elemento que será desenvolvido em todo seu Evangelho. Através da humanidade de Jesus, João descobre a divindade do Senhor, e encontra nela o meio pelo qual Deus se faz presente na vida dos homens:

Nos outros evangelhos (sinóticos) os atos extraordinários de Jesus são chamados de milagres, enquanto no Evangelho de João são chamados de sinais. Justamente porque o sinal é algo que presenta uma outra realidade; assim por exemplo: a fumaça e sinal da presença do fogo.

João no final da sua vida foi exilado na ilha de patmos (Apocalipse 1,9) durante a perseguição Domiciana (81-96 d C) onde recebeu revelações e escreveu o Apocalipse. Depois foi solto da prisão, durante o reinado de Trajano (98 -117 d C), voltou para Éfeso, onde passou os últimos anos da sua vida.

CARACTERÍSTICAS DE SEU EVANGELHO

João é conhecido como Águia, enquanto os Evangelistas apresentam Jesus como um mestre que sintetiza para o aluno da forma mais clara:

  1. Marcos: Jesus como o filho de Deus que veio para servir e dar a vida pelo resgaste de muitos.
  2. Lucas: Apresentando Jesus em relato ordenado em uma investigação detalhada, da infância até a ressurreição.
  3. Mateus: Revelando que Jesus é o messias esperado pelos Judeus.

João apresenta Jesus como um teólogo colocando já de inicio a profundidade de sua obra: “ O verbo de Deus se fez carne e nós vimos a sua glória”  aprofundando os ensinamentos que foram pincelados pelos outros Evangelistas: Encarnação, sacramentos, Espírito Santo, juízo, a vida em Deus…

Palavras como: Verbo e carne – não estão presentes nos outros Evangelhos, palavras que eram refletidas em um ambiente da filosofia gnóstica.  João combate as heresias do seu tempo revelando a pré-existência de Jesus, afirmando sua humanidade e divindade por pontos sempre novos.

João tinha em mente fazer com que a comunidade alcançasse intimamente o sentido dos sinais e a Pessoa de Jesus. Por isso os fatos por muitas vezes vinham acompanhados por uma grande reflexão teológica.

Exemplos:

FATO REFLEXÃO TEOLÓGICA
João 6,1-14 João 6,26-58
9,1-7 9,8-41
11,38-44 11,1-37

A IMAGEM DE JESUS

Diferente dos outros Evangelhos Jesus esta no centro não por suas obras (atos ou ensinamentos) mas quanto ao significado de sua presença.

Para João, Jesus é a manifestação da obra salvifica de Deus em ato no mundo (cf João 3,16).

Jesus é apresentado me duplo aspecto:

  1. Na sua função para com os homens.
  2. Na sua relação com o Pai.

Nos outros Evangelhos Jesus não fala de si, enquanto em João, Jesus fala de si o tempo todo, ele é testemunha de si mesmo. Isso por que “ninguém viu o Pai, só Jesus o conhece e pode dar a conhece-lo”. Assim Jesus tenta a todo momento levar o conhecimento do Pai aos homens.

Vamos ver Jesus falando de si mesmo: Antes de tudo ressalto que toda revelação de Jesus é acompanhada da expressão:  “Eu sou” 

A expressão Eu sou é uma referência ao nome de Deus revelado a Moisés (Êxodo 3,13-15), quando Jesus atribui a mesma a si, Ele revela claramente que esta no mesmo nível de Jahvé, essa afirmação levou os religiosos a planejarem a sua morte, já que os mesmos não ousavam nem mesmo a pronunciar o nome de Deus.

– (João 8,24) Eu vos disse que morrereis nos vossos pecados. De fato, se não acreditais que ‘eu sou’, morrereis nos vossos pecados”.

– (João 8,28) Por isso, Jesus continuou: “Quando tiverdes elevado o Filho do Homem, então sabereis que ‘eu sou’, e que nada faço por mim mesmo, mas falo apenas aquilo que o Pai me ensinou.

– (João 8,58) Jesus respondeu: “Em verdade, em verdade, vos digo: antes que Abraão existisse, eu sou”.

– (João 13,19) Desde já, antes que aconteça, eu vo-lo digo, para que, quando acontecer, acrediteis que eu sou.

Quando Jesus usa a expressão “EU SOU EM FORMA COMPARATIVA” seu objetivo é revelar a superioridade de sua divindade, Ele é Deus, objeto de nossa fé, salvador mediante a nossos pecados, maior que Abraão e todos os profetas.

Em outras vezes Jesus não usa a expressão Eu sou em forma comparativa como vimos acima, mas de forma absoluta com a finalidade de promover ao homem um relacionamento com a sua Pessoa.

“Eu sou o pão da vida.” João 6,48

“Jesus continuou a dizer à multidão: Eu sou a luz do mundo. Quem me segue não andará em trevas, mas terá a luz da vida. João 8,12

 “Eu sou a porta. Todo aquele que entrar por mim, salvar-se-á. Entrará e sairá, e achará pastagens.”João 10,9

“Eu sou o bom pastor; eu conheço as minhas ovelhas, e as minhas ovelhas me conhecem.” João 10,14

 “Disse Jesus: Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá; e todo aquele que vive e crê em mim, nunca morrerá. Crês isto?” João 11,25,26

 “Respondeu-lhe Jesus: Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vem ao Pai, senão por mim.” João 14,6

“Eu sou a videira, vós sóis os ramos. Se alguém permanece em mim, e eu nele, esse dá muito fruto; sem mim nada podeis fazer.” João 15,5

Pão, luz, porta, caminho, pastor, videira, ressureição… Podemos relacionar com ele em cada um desses elementos, João quer mais que revelar o acontecimento mas deseja levar a comunidade a uma profunda reflexão.

JESUS E SEU RELACIONAMENTO COM O PAI

Jesus era tão intimo do Pai,  que não via nenhuma separação com o mesmo (João 10,30) quem me vê, vê o Pai. O Pai estava nele e Ele no pai, sem aniquilar a individualidade e essência de ambos. Por isso Jesus se relacionava com o Pai, em profunda dialogo, as vezes agradecia (João 11,41), implorava (João 12,27) fazia pedidos (João 17,11-24)…

Jesus sabe que é o amado do Pai (João 5,20) e também o ama. Por isso cumpre a sua vontade (João 4,31) e é justamente cumprindo a sua vontade que Jesus mostrará definitivamente o amor do Pai para com os homens. Mesmo sabendo que levar a termo essa vontade lhe custará a vida, mas faz por amor, amando a amando até o fim (João 13,1).

Jesus se revelou como um enviado do Pai, para que os homens conhecessem o Pai (João 17,3) para que não fossem acusados (João 5,45) mas para que todos, através Dele mesmo, recebessem a vida e alcançassem a casa do Pai (João 14,1-3).

O RELACIONAMENTO COM OS HOMENS

A vocação do homem é a amizade com Deus, viemos dele e precisamos voltar a Ele, estar unidos em comunhão, recebendo a sua graça, de glória em glória até atingirmos a perfeição.  Essa unidade foi quebrada por causa do pecado, então o Pai enviou seu filho ao mundo para que os homens pudessem voltar ao estado original de amizade com Deus.

Essa amizade precisa ser total, como um ramo depende da videira para dar frutos (João 15,1-16). Quem o acolhe permite que a vida de Jesus penetre no mais profundo da alma, se torna morada de Deus, no poder do Espírito Santo (João 14,20-23);  Essa intimidade produzirá como reflexo uma grande unidade com os irmãos. Será esse o sinal revelador da presença de Cristo e o que caracteriza o verdadeiro Cristão.

 Eu vos dou um novo mandamento: amai-vos uns aos outros. Como eu vos amei, assim também vós deveis amar-vos uns aos outros. Nisto conhecerão todos que sois os meus discípulos: se vos amardes uns aos outros” (João 13,34-35).

Porem a mesma maneira que a semente precisa de tempo e substancias nutritivas para se desenvolver plenamente, assim também essa unidade com Deus e com os irmãos também precisa crescer, para alcançar a plenitude. Pois bem: é o próprio Cristo que se oferece como alimento (veja João 6,58) como sustento para tamanho crescimento.

É ele o pão da vida (João 6,32-35), é ele a agua da vida (João 4,13-14). Alimentar-se dele é a condição indispensável para poder viver e permanecer nele:

Quem se alimenta com a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia. (João 6,53).

Para concluir algumas palavras fortes no Evangelho de João:

Crer: Ato de professar a Jesus como o filho de Deus que veio na carne.

Permanecer: Mais que ficar por algum tempo, mas perseverar, manter-se unido a Ele.

Hora:  A vontade absoluta do Pai. (Morte e ressureição).

Julgamento: Crer ou não em Jesus. Quem não crer, já esta condenado.

Glória de Deus: O Espírito Santo em sua ação.

Verdade:  Doutrina revelada por Jesus. A verdade liberta.

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