Autenticidade dos carismas: os frutos que produzem!

Como discernir se um carisma vem de Deus?

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São Paulo estabelece uma regra fundamental para o uso e discernimento dos carismas : a edificação da Igreja na caridade. (cf. 1Cor 12,7)

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Tomando por referência  os frutos dos carismas e da ação do Espírito Santo, visto que são frutos de sua ação na Igreja (LG 4), podemos enumerar uma série de frutos que autenticam a manifestação carismática.

  1. Unidade:

“O Espírito Santo orienta a Igreja para toda a verdade (cf. Jo 16,8.15-16 e unifica-a em comunhão e caridade.” “E assim, toda a Igreja surge cano um povo reunido em virtude da unidade do Pai e do Filho e do Fspírito Santo.” (Lumen gentium 4).

É o mesmo fruto que produz naqueles que são utilizados como canais do Espírito Santo, e nos que deles se beneficiam.

A própria realidade íntima do Espírito Santo, isto é, ser o traço de união entre o Pai e o Filho, como amor de ambos entre si, está exigindo esse fruto naqueles que se abrem para sua ação. Assim, tudo que tenha a marca da desunião é sinal de outra força, bem diferente daquela que tem o Espírito Santo.

  1. b) Santidade:

“Consumada a obra que o Pai encomendou ao Filho realizar na terra (cf Jo 17,4), o Espírito Santo foi enviado no dia de Pentecostes, com a finalidade de santificar indefinidamente a Igreja, e para que, assim, os fiéis tenham acesso ao Pai por meio de Cristo, no Espírito Santo (cf. Ef 2,18)” (Lumen Gentium 4).

A missão do Espírito Santo, derramado em nossos corações (Rm 5,5), é reproduzir em nós a imagem de Jesus Cristo (Rm 8,29), para que Ele seja o primogênito entre muitos irmãos. Portanto, é procurarmos nos santificar de maneira progressiva, de modo que nosso pensamento, nossos desejos, nossa ação sejam cada vez mais semelhantes aos de Jesus Cristo. Esta é a santidade que atua na Igreja como Esposa de Jesus (Ef 5,23), a santidade que Ele deseja realizar nos membros do corpo místico de Cristo. Isso vai sendo realizado em uma crescente conversão, que opera no tempo, com nossa colaboração.

O bom uso dos carismas, manifestações da presença e da ação do Espírito Santo, também deve contribuir para essa conversão, que se aprofundar na alma, que nos torna semelhantes, nos aproxima e nos faz aderir a Jesus Cristo, a partir de dentro.

Por agir nos carismas com poder, o Espírito Santo há de irradiar seu influxo na vida concreta do “carismático” e há .de manifestar-se na sua santidade de vida. Sem sua ação não é possível que Jesus seja de fato o Senhor de nossas vidas (1Cor 12,2-3). Por isso, um critério de discernimento dos carismas autênticos é sua orientação e contribuição para a santificação da pessoa e da comunidade agraciada com carismas.

  1. c) Vida de comunidade:

“‘E o Senhor acrescentava cada dia ao seu número os que seriam salvos.” (Integrava-os pela força do Espírito Santo) (At 2,4). Não sabemos  que somos um templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em nós, orando em nós e dando testemunho de nossa adoção como filhos? (cf .Gl 4,6; Rm 8,15- 16 e 26, Lumen Gentium 4; 1Cor 3,16; 9,19)

Uma característica marcante da ação do Espírito Santo na alma é a criação de um coração aberto, uma integração na comunidade. Talvez tenha sido este o mais bonito fruto da vinda do Espírito de Pentecostes: a “nova” comunidade, o novo povo de Deus, nascido por impulso do Espírito Santo. Os Atos dos Apóstolos são um maravilhoso testemunho desta verdade. Assim nasceu oficialmente a Igreja, pela força do Espírito Santo. E esse mesmo Espírito ia acrescentando fiéis a ela, dando a todos eles um mesmo coração (At 4,32).

Sendo a mesma Pessoa divina, que atua enviada por Jesus, a mando do Pai, o Espírito Santo só poderia criar a mesma integração entre os fiéis. E o faz também através dos carismas. Nos Atos, os carismas aparecem como elemento fundamental de que se vale o Espírito Santo para sua obra de integração. E também é a criação do espírito de catolicidade, que se verifica e se robustece na Igreja. Ao lado da Igreja Una e Santa aparece a catolicidade. E em cada fiel utilizado pelo Senhor com carismas ou beneficiado por eles, deve verificar-se este sinal que é inseparável da obra do Espírito Santo em suas manifestações.

Aqui entra a dimensão da abertura para o próximo, para todos que precisam de nossa ajuda, em especial aqueles a quem o Senhor privilegiou com sua atenção durante sua vida, coisa que agora deseja continuar fazendo por nosso intermédio: os pobres, os oprimidos, os doentes, os pecadores.

  1. d) Missão Apostólica:

Em outras palavras, é o Espírito de Apostolicidade. (Lumen Gentium 7 – 8).

É a certeza de que pertencemos a uma Igreja na qual a sucessão dos apóstolos e do Vigário de Cristo continua sem interrupção, com a assistência de Jesus em seu Espírito.

É um profundo amor por aqueles que foram colocados como pastores, para dirigi-la, ensiná-la e santificá-la, não obstante os defeitos que possam ser encontrados no seu seguimento de Cristo, a quem servem em seus irmãos.

É a adesão à autêntica doutrina da Igreja, e a fidelidade em seguir a norma viva da própria existência. Portanto, é a obediência às suas diretrizes, embora isto não represente uma inibição da sadia liberdade de manifestação de nossa opinião em matérias nas quais possamos ser versados.

É compromisso em e com a Igreja, cuja missão fundamental é a evangelização. Portanto, é o compromisso e nossa adequada contribuição na pastoral da própria diocese e da própria paróquia, dentro das nossas possibilidades individuais e de nossa identidade. É emprestar com entusiasmo e criatividade as qualidades humanas, as habilidades, os dons sobrenaturais, como voluntária colaboração para realizar os planos de trabalho da paróquia. Assim, nada faltará à missão peculiar do secular de evangelizar o mundo, a partir de sua profissão e através dela. O Vaticano II é excepcionalmente iluminador a este respeito. (cf. Lumen Gentium e Apastolicam Actuositatem).

O Espírito Santo age e nos leva a entregarmo-nos, com generosidade, a uma Igreja da qual recebemos sobrenaturahnente o que somos. E tudo isso, a unidade, a santidade, a vida comunitária e a missão apostólica, como preciosos frutos da ação carismática, envolvido na humildade daquele que entende ser “nada” perante Deus, mas que é tudo, porque é filho querido do Pai Celestial. A maior de todas as coisas é a caridade. (1Cor 13,13).

  1. e) Caridade concreta: (1Cor 13)

Esta é a pedra de toque do bom uso dos carismas

Precisamente este capítulo foi inserido para esclarecer, por via do discernimento, a má compreensão de alguns membros da comunidade.

São Paulo diz aos Coríntios que o que precisam mesmo é de amor, de caridade. A falha fundamental que manifestam é a carência de amor. Isso não os dissuade nem impede de usar os carismas: ao contrário, alenta-os nesse sentido. Mas o que importa, acima de qualquer outra coisa, é caminhar no amor (1Cor 12,2).

Sem amor, nem os próprios carismas, mesmo os mais importantes, são coisa alguma. Paulo refere-se de maneira especial aos carismas que pareciam ser os mais desejados e talvez pior usados: os da sabedoria, da ciência e do conhecimento, assim como o dom das curas, o da profecia e o de orar em línguas. Nenhum que não seja formado no amor e não procure aumentar a caridade merece ser considerado.

A falta de amor entre os coríntios, por mais que o Espírito Santo tenha distribuído seus dons entre eles, levou-os a rivalidades, à inveja e a sérios pecados. Através de toda a epístola em questão, São Paulo expressa-se em termos de forte e paternal reprimenda. Mas, ao mesmo tempo, explícita ou implicitamente, mostra toda a importância dos carismas, como graças e presentes gratuitos do Espírito Santo, como manifestações de sua presença, para a construção, em Cristo, da comunidade, da Igreja. Orientados por seus sábios conselhos, nós todos podemos, ainda hoje, fazer um bom uso dessas “ferramentas”, necessárias para a edificação comum.

O Vaticano II deixou bem claro seu pensamento sobre a importância dos carismas, no crescimento e no processo de enraizamento em Cristo, das pessoas, da comunidade e da Igreja do Senhor Jesus.[1]

É um erro desconhecer de propósito ou menosprezar os carismas, de que o próprio Jesus esteve repleto, em sua Santa Humanidade.

Assim como tudo o mais, até as coisas sagradas têm seus próprios perigos. Além disso, o espírito do mal está sempre em ação, tentando fazer com que tiremos de foco e até tornemos prejudiciais esses instrumentos valiosos e necessários no mundo moderno,. invadido pela auto-suficiência. O Senhor está disposto a nos ajudar com Seu Espírito, para que superemos os perigos e possamos viver os carismas com a caridade que se compromete, que compartilha e que serve como Jesus.

[1] os textos a respeito deste ensino foram citados anteriormente.

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