A importância da formação para o cristão

É interessante contemplar e entender como o Espírito Santo age através da formação.

Formar significa alinhar, dar forma a algo, ordenar, constituir, orientar o crescimento; é essencialmente um ato de amor, um grande gesto de promoção humana. O profeta Oséias já denunciava: “porque meu povo se perde por falta de conhecimento”.[5] É evidente que essa falta de conhecimento denunciada pelo profeta difere da eventual carência de cultura acadêmica; reflete o desconhecimento interior dos conteúdos da fé, reflete a ausência do “conhecer” bíblico, isto é, do conhecimento que conduz à experiência de Deus para relacionar-se de uma maneira nova com Ele. Portanto, formar significa garantir a caminhada de um povo pela verdadeira estrada, pelo verdadeiro sentido que é Jesus Cristo, povo este que é dirigido e amparado pelo Paráclito, o Consolador.

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A Palavra de Deus assim nos diz: “Mas o Paráclito, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, ensinar-vos-á todas as coisas e vos recordará tudo o que vos tenho dito”[1]. Deste pequeno texto bíblico logo percebemos duas ações do Espírito Santo: ensinar e recordar. É apropriado ao Espírito Santo nos ensinar e isso significa que Ele aguça a nossa visão espiritual para enxergarmos a abrangência, a beleza, a atualidade e a efetividade daquilo que nos está sendo transmitido, além de escrever em nossos corações os conteúdos da fé, a sã doutrina de Nosso Senhor Jesus Cristo, confiada à sua Igreja, Mãe e Mestra, e ministrados pelos seus servos formadores. É, inclusive, por isso que São Paulo nos diz que somos uma carta de Cristo escrita pelo Espírito Santo[2]. Ao mesmo tempo, o Espírito Santo potencializa as nossas audição e percepção espirituais acerca do que se está aprendendo, de modo a captarmos de uma forma particular aquilo que é normativo para todos, gerando em nós frutos de santidade conforme as nossas características únicas.

 

De outro lado, é igualmente apropriado ao Espírito nos “recordar” tudo o que Jesus nos ensinou. Em outras palavras, isso significa nos dar a capacidade de aplicar os conteúdos da fé às diversas situações do nosso dia a dia. Diante de cada situação o Espírito traz à tona algo que já aprendemos, isto é, algo que Ele mesmo escreveu a fogo em nossos corações e mentes, levando-nos a discernir corretamente as nossas ações, palavras, postura, tomada de decisões, etc. Precisamente a esse respeito o Senhor nos exorta que não devemos nos preocupar com o que haveremos de falar em nossa defesa quando formos levados às sinagogas, aos tribunais, porque o Espírito Santo nos inspirará naquela hora o que deveremos dizer…[3] Trata-se de aplicar o que se aprendeu à realidade que se impõe. É realmente maravilhosa a obra do Espírito em nós através da formação!

 

São Tomás de Aquino nos ensina que “a fé não termina nas fórmulas, mas na realidade. Entretanto, é através das fórmulas que se chega à realidade”[4]. Depreende-se daqui que é absolutamente necessário viver os conteúdos da fé que se professa, isto é, ser coerente; entretanto, isso só será plenamente possível na medida em que conhecermos e nos aprofundarmos nas fórmulas (enunciados) da fé, através de uma formação gradual, continuada. A vivência abrangente da fé só se torna possível a partir do seu conhecimento, enraizado e potencializado pelo Espírito Santo. Aqui é importante salientar um equívoco que muitas vezes ouvimos por aí: há quem diga, que a formação “enquadra” ou até “extingue” o Espírito Santo. Vimos que é justamente o contrário: o Espírito age poderosamente em nós através da formação, levando-nos a traduzi-la na vida, capacitando-nos de forma mais arrojada para toda boa obra, ampliando a nossa visão, gerando em nós frutos de santidade, de inserção e de comunhão eclesial, dando-nos a segurança necessária para anunciarmos a Boa-Nova do Reino com parresia, isto é, com audácia apostólica, com ousadia, com ardor.

Formar significa alinhar, dar forma a algo, ordenar, constituir, orientar o crescimento; é essencialmente um ato de amor, um grande gesto de promoção humana. O profeta Oséias já denunciava: “porque meu povo se perde por falta de conhecimento”.[5] É evidente que essa falta de conhecimento denunciada pelo profeta difere da eventual carência de cultura acadêmica; reflete o desconhecimento interior dos conteúdos da fé, reflete a ausência do “conhecer” bíblico, isto é, do conhecimento que conduz à experiência de Deus para relacionar-se de uma maneira nova com Ele. Portanto, formar significa garantir a caminhada de um povo pela verdadeira estrada, pelo verdadeiro sentido que é Jesus Cristo, povo este que é dirigido e amparado pelo Paráclito, o Consolador. O Catecismo da Igreja Católica nos ensina que “a finalidade definitiva da catequese (formação) é levar à comunhão com Jesus Cristo; só Ele pode conduzir ao amor do Pai no Espírito e fazer-nos participar da vida da Santíssima Trindade. Na catequese (formação), é Cristo, Verbo Encarnado e Filho de Deus, que é ensinado tudo o mais o é em referência a Ele. E só Cristo ensina. Todo e qualquer outro o faz apenas na medida em que é seu porta-voz, consentindo em que Cristo ensine pela sua boca.[6]” Neste mesmo raciocínio, eis o que nos ensina o Documento de Aparecida: “A missão principal da formação é ajudar os membros da Igreja a se encontrar sempre com Cristo, e assim reconhecer, acolher, interiorizar e desenvolver a experiência e os valores que constituem a própria identidade e missão cristã no mundo”.[7]

O processo formativo, potencializado pelo Espírito Santo, nos leva a uma caminhada interior e ao mesmo tempo, exterior. Interior porque nos conscientiza acerca do nosso Batismo que é fonte inesgotável de vida e graça; leva-nos a mergulhar de forma sempre mais amadurecida em nossa Identidade levando-nos a assumi-la com todas as suas consequências; conduz-nos a um autoconhecimento que é fator tão essencial para identificarmos limitações, defeitos, desvios, habilidades, talentos, e a partir de então nos aceitamos e nos amamos mais; leva-nos ao discernimento exato acerca de nosso chamado, de nossa vocação; dá-nos maturidade na fé e perseverança no seguimento de Jesus Cristo (discipulado). Paralelamente, exterior porque impulsiona-nos à missão responsável, ao compromisso efetivo com a Igreja no mundo, ao amor filial e sentimento de pertença a esta Igreja Mãe e Mestra, ao exercício equilibrado e coerente dos carismas. Faz-nos agentes de transformação social, autênticos Apóstolos da Efusão do Espírito Santo, construtores da Civilização do Amor. Enfim, formação é um poderoso instrumento que Deus utiliza para nos curar e libertar.

Nesse sentido, o Sagrado Magistério da Igreja não cessa de nos exortar acerca da importância vital da formação para os cristãos. O Catecismo da Igreja Católica nos recorda que “a catequese está intimamente ligada a toda a vida da Igreja. Dependem essencialmente dela não só a expansão geográfica e o crescimento numérico, mas também, e muito mais ainda, o crescimento interior da Igreja e a sua conformidade com o desígnio de Deus”[8] e que “os períodos de renovação da Igreja são também tempos fortes de catequese”.[9] Ora, sendo esse o tempo da primavera, o tempo de uma ação poderosa do Espírito no meio de nós, sem dúvida alguma é tempo forte de catequese (de formação). Além disso, o Concílio Vaticano II em diversos de seus Documentos destaca a importância da formação e exorta os fieis a buscá-la com amor e boa disposição. Vejamos alguns destes textos: “Todos os missionários, cada um seja preparado e formado de acordo com a sua condição, para se acharem à altura das exigências do trabalho futuro”[10]; “O apostolado não pode atingir eficácia plena, senão por meio da formação múltipla e integral”[11]; “os grupos e as associações de leigos, quer se dediquem ao apostolado, quer a outros fins sobrenaturais, devem fomentar com diligência e assiduidade a formação para o apostolado”[12].

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O Frei Raniero Cantalamessa – Pregador da Casa Pontifícia – na Igreja Católica a fase querigmática é só o começo. “Depois daquela decisão, abre-se o caminho para o crescimento e a plenitude da vida cristã e, graças à sua riqueza sacramental, ao magistério, ao exemplo de muitos santos.”[19] Isso não significa dizer que esta fase é menos importante ou apenas um resumo dos conteúdos de fé. Ao contrário, é o alicerce sobre o qual se constrói o homem interior e contém a Revelação em sua totalidade, que é, contudo, aprofundada na catequese. Portanto, na perspectiva do Processo Formativo da Renovação Carismática Católica, segue-se ao Módulo Básico de Formação – antes denominada Escola Paulo Apóstolo – dando início à fase catequética/formativa desse processo.

Nesta mesma linha de exortação, o Papa João Paulo II nos ensina que “a formação doutrinal dos fieis leigos mostra-se hoje cada vez mais urgente, não só pelo natural dinamismo de aprofundar a sua fé, mas também pela exigência de ‘racionalizar a esperança’ que está dentro deles, perante o mundo e os seus problemas graves e complexos”[13] e conclui com a sabedoria que lhe era peculiar que “a formação não é o privilégio de uns poucos, mas sim um direito e um dever para todos.”[14] Das palavras do Sumo Pontífice João Paulo II, portanto, detectamos claramente o apelo do Senhor dirigido a todos nós: a formação não deve ser vista como algo facultativo para quem se decidiu pelo seguimento incondicional do Senhor. Ao mesmo tempo, alegra-nos ser um direito de todos sermos formados aos pés do Mestre e sob a ação do Espírito Santo.

 

Tudo isso está ao nosso dispor; não podemos e não devemos desperdiçar esta graça. Ela é para nós e para todos aqueles que o Senhor nos confiar. É como nos exorta São Paulo: “Na qualidade de colaboradores seus, exortamo-vos a que não recebais a graça de Deus em vão. Pois ele diz: Eu te ouvi no tempo favorável e te ajudei no dia da salvação (Is. 49, 8). Agora é o tempo favorável, agora é o dia da salvação.”[20]

Texto: Vinícius Rodrigues Simões

Site: http://www.catolicoscomjesus.com/2014/10/sao-joao-vianney-ser-guiado-pelo.html#more

Nota:

 

[1] Jo. 14, 26  [2] Cf. II Cor. 3,3   [3] Cf. Lc. 12, 11-12   [4] Cf. Suma Teológica, II-II, 1,2 ad 2

[5] Os. 4, 6ª   [6] Catec. 426/427   [7] V CELAM – Documento de Aparecida, 279

[8] Catec. 7   [9] Idem, 8  [10] CV II. Decreto Ad Gentes, 26

[11] CV II. Decreto Apostolicam Actuositatem, 28  [12] Idem, 30

[13] João Paulo II, Exortação Apostólica Christifideles Laici, 60.   [14] Idem, 63

[15] V CELAM, Documento de Aparecida, 276   [16] Bento XVI, Carta Apostólica Porta Fidei, 10

[17] Idem, 9  [18] Cf. I Pd. 3, 15

[19] Trecho da 1ª Pregação do Advento/2012   [20] II Cor. 6, 1-2

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