Hoje é dia de pentecostes – Por JoséMaria Escrivá

Hoje é dia de pentecostes – Por JoséMaria Escrivá

Confira nessa formação, um belo ensino sobre o derramamento do Espírito Santo no dia de pentecostes, por JoséMaria Escrivá  retirada do livro é cristo que passa. Leia mais…

Os Atos dos Apóstolos, ao narramos os acontecimentos daquele dia de Pentecostes em que o Espírito Santo desceu em forma de línguas de fogo sobre os discípulos de Nosso Senhor, levam-nos a assistir à grande manifestação do poder de Deus com que a Igreja iniciou a sua caminhada por entre as nações. A vitória que Cristo obtivera sobre a morte e sobre o pecado – com a sua obediência, a sua imolação na Cruz e a sua Ressurreição – revelou-se então em todo o seu esplendor divino.

Os discípulos, que já tinham sido testemunhas da glória do Ressuscitado, experimentaram em si a força do Espírito Santo: as suas inteligências e os seus corações abriram-se a uma nova luz. Tinham seguido Cristo e recebido com fé a sua doutrina; mas nem sempre conseguiam penetrar totalmente no sentido desta. Era necessário que viesse o Espírito de Verdade para lhes fazer compreender todas as coisas. Sabiam que só em Jesus podiam encontrar palavras de vida eterna e estavam dispostos a segui-Lo e a dar a vida por Ele; mas eram fracos e, quando chegou a hora da provação, fugiram, deixaram-nO só.

No dia de Pentecostes tudo isso passou: o Espírito Santo, que é espírito de fortaleza, tornou-os firmes, seguros, audazes. A palavra dos Apóstolos ressoa então, forte e vibrante, pelas ruas e praças de Jerusalém.

Os homens e as mulheres vindos das mais diversas regiões, que naqueles dias povoam a cidade, escutam assombrados. Partos, medos e elamitas, e os que habitam a Mesopotâmia, a Judeia e a Capadócia, o Ponto e a Ásia, a Frígia e a Panfília, o Egipto e várias partes da Líbia que é vizinha de Cirene, e os que vieram de Roma, tanto judeus como prosélitos,, cretenses e árabes, todos os ouvimos falar, nas nossas próprias línguas, das maravilhas de Deus. Estes prodígios, que se realizam diante dos seus olhos, levam-nos a prestar atenção à pregação apostólica. O mesmo Espírito Santo, que actua nos discípulos do Senhor, tocou-lhes também nos corações e conduziu-os à Fé.

Conta-nos S. Lucas que, depois de S. Pedro ter falado, proclamando a Ressurreição de Cristo, muitos dos que o rodeavam se aproximaram, perguntando: que havemos de fazer, irmãos?. E o Apóstolo respondeu-lhes: Fazei penitência, e cada um de vós seja baptizado em nome de Jesus Cristo para remissão dos vossos pecados; e recebereis o dom do Espírito Santo. E o texto sagrado termina dizendo-nos que nesse dia se incorporaram na Igreja cerca de três mil pessoas.

A vinda solene do Espírito Santo no dia de Pentecostes não foi um acontecimento isolado. Quase não há uma página dos Atos dos Apóstolos em que se não fale d’Ele e da ação pela qual guia, dirige e anima a vida e as obras da primitiva comunidade cristã. É Ele que inspira a pregação de S. Pedro, que confirma na fé os discípulos, que sela com a sua presença o chamamento dirigido aos gentios e, que envia Saulo e Barnabé para terras distantes, a fim de abrirem novos caminhos à doutrina de Jesus. Numa palavra, a sua presença e a sua atuação dominam tudo.

O pentecostes hoje!

O renascimento batismal

Esta realidade profunda que o texto da Sagrada Escritura nos dá a conhecer não é uma simples recordação do passado, de uma espécie de idade de ouro da Igreja, perdida na História. Por cima das misérias e dos pecados de cada um de nós, continua a ser a realidade da Igreja de hoje e da Igreja de todos os tempos. Eu rogarei ao Pai – anunciou o Senhor aos seus discípulos – e Ele vos dará outro Consolador, para que fique convosco eternamente. Jesus cumpriu as suas promessas: ressuscitou, subiu aos Céus e, em união com o Eterno Pai, envia-nos o Espírito Santo para nos santificar e nos dar a vida.

A força e o poder de Deus iluminam a face da Terra. O Espírito Santo continua a assistir à Igreja de Cristo, para que ela seja – sempre e em tudo – sinal erguido diante das nações, anunciando à Humanidade a benevolência e o amor de Deus. Por maiores que sejam as nossas limitações, nós, homens, podemos olhar com confiança para os Céus e sentir-nos cheios de alegria: Deus ama-nos e liberta-nos dos nossos pecados. A presença e a ação do Espírito Santo na Igreja são o penhor e a antecipação da felicidade eterna, dessa alegria e dessa paz que Deus nos prepara.

Também nós, tal como aqueles primeiros que se aproximaram de S. Pedro no dia de Pentecostes, fomos batizados. No baptismo, o Nosso Pai, Deus, tomou posse das nossas vidas, incorporou-nos na vida de Cristo e enviou-nos o Espírito Santo. O Senhor, diz-nos a Sagrada Escritura, salvou-nos fazendo-nos renascer pelo batismo, renovando-nos pelo Espírito Santo, que Ele difundiu sobre nós abundantemente por Jesus Cristo, nosso Salvador, a fim de que, justificados pela sua graça, sejamos herdeiros da vida eterna, segundo a esperança.

A experiência da nossa debilidade e das nossas faltas, a desedificação que pode produzir o espetáculo doloroso da pequenez ou mesmo mesquinhez de alguns que se chamam cristãos, o aparente fracasso ou a desorientação de algumas iniciativas apostólicas, tudo isso – a comprovação da realidade do pecado e das limitações humanas – pode constituir, no entanto, uma provação para a nossa fé e fazer com que se insinuem em nós a tentação e a dúvida: onde estão a força e o poder de Deus? É o momento de reagirmos, de pormos em prática da maneira mais pura e firme a nossa esperança e, portanto, de procurarmos ser mais firme na nossa fidelidade.

Vale a pena jogar a vida, entregar-se por inteiro, para corresponder ao amor e à confiança que Deus deposita em nós. Vale a pena, acima de tudo, que nos decidamos a tomar a sério a nossa fé cristã. Quando recitamos o Credo, professamos crer em Deus Pai Todo-Poderoso, em seu Filho Jesus Cristo que morreu e foi ressuscitado, no Espírito Santo, Senhor que dá a vida. Confessamos que a Igreja una, santa, católica e apostólica, é o corpo de Cristo, animado pelo Espírito Santo. Alegramo-nos com a remissão dos nossos pecados e com a esperança da futura ressurreição. Mas, essas verdades penetrarão até ao fundo do coração ou ficarão apenas nos lábios? A mensagem divina de vitória, alegria e paz do Pentecostes deve ser o fundamento inquebrantável do modo de pensar, de reagir e de viver de todo o cristão.

Força de Deus e fraqueza humana!

A mão de Deus não diminuiu (Isaías 59,1-2); Deus não é menos poderoso hoje do que em outras épocas, nem é menos verdadeiro o seu amor pelos homens.

A ação do Espírito Santo pode passar-nos despercebida, porque Deus não nos dá a conhecer os seus planos e porque o pecado do Homem turva e obscurece os dons divinos. Mas a Fé recorda-nos que o Senhor age constantemente: Ele é que nos criou e nos conserva no ser; Ele, com a sua graça, conduz a criação inteira para a liberdade da glória dos filhos de Deus.

Por isso, a Tradição cristã resumiu a atitude que devemos adotar para com o Espírito Santo num só conceito: docilidade.

Sermos sensíveis àquilo que o Espírito divino promove à nossa volta e em nós mesmos: aos carismas que distribui, aos movimentos e instituições que suscita, aos efeitos e decisões que faz nascer nos nossos corações… O Espírito Santo realiza no Mundo as obras de Deus. Como diz o hino litúrgico, é dador das graças, luz dos corações, hóspede da alma, descanso no trabalho, consolo no pranto. Sem a sua ajuda nada há no homem que seja inocente e valioso, pois é Ele que lava o que está sujo, que cura o que está doente, que aquece o que está frio, que corrige o extraviado, que conduz os homens ao porto da salvação e do gozo eterno.

                               Nós, os cristãos, trazemos em vasos de barro os grandes tesouros da graça: Deus confiou os seus dons à frágil e débil liberdade humana e, embora a sua força certamente nos assista, a nossa concupiscência, o nosso comodismo e o nosso orgulho repelem-na por vezes e levam-nos a cair em pecado.

Podemos chegar a desconfiar dos homens, e cada um está obrigado a desconfiar pessoalmente de si mesmo. Mas não temos o direito de duvidar de Deus. E duvidar da Igreja, da sua origem divina, da eficácia salvífica da sua pregação e dos seus sacramentos, é duvidar do próprio Deus; é não acreditar plenamente na realidade da vinda do Espírito Santo.

Antes de Cristo ser crucificado, – escreve S. João Crisóstomo – não havia nenhuma reconciliação. E, enquanto não houve reconciliação, não foi enviado o Espírito Santo… A ausência do Espírito Santo era sinal da ira divina. Agora que O vês enviado em plenitude, não duvides da reconciliação. Mas, se perguntarem: onde está agora o Espírito Santo? Falar da sua presença quando se davam milagres, quando eram ressuscitados os mortos e curados os leprosos, era possível; mas como saber, agora, que está deveras presente? Não vos preocupeis. Hei-de demonstrar-vos que o Espírito Santo está também agora entre nós…

Se não existisse o Espírito Santo, não poderíamos dizer Senhor, Jesus, pois ninguém pode invocar Jesus como Senhor senão no Espírito Santo (I Cor. 12,3).

Se não existisse o Espírito Santo, não poderíamos dizer Senhor, Jesus, pois ninguém pode invocar jesus como Senhor senão no Espírito Santo (I Cor 12,3). Se não existisse o Espírito Santo, não poderíamos orar com confiança, porque ao rezar dizemos Pai Nosso, que estais nos Céus (Mat. 6,9). Se não existisse o Espírito Santo, não poderíamos chamar Pai a Deus. Como sabemos isso? É porque o Apóstolo nos ensina: E, porque somos filhos, Deus mandou aos nossos corações o Espírito do seu Filho, que clama: Abba Pai (Gal, 4,6).

Portanto, quando invocares Deus Pai, recorda-te de que foi o Espírito Santo que, ao mover a tua alma, te deu essa oração. Se não existisse o Espírito Santo, não haveria na Igreja palavra alguma de sabedoria ou de ciência, pois está escrito: Porque… a um é dada pelo Espírito a palavra da sabedoria (I Cor, 12, 8)… Se o Espírito Santo não estivesse presente, a Igreja não existiria. Mas, se a Igreja existe, é certo que o Espírito Santo não falta.

Acima das deficiências e limitações humanas, repito, a Igreja é isto: sinal e, de certo modo – não no sentido estrito em que dogmaticamente se definiu a essência dos sete sacramentos da Nova Aliança – o sacramento universal da presença de Deus no Mundo.

Ser cristão é ter sido regenerado por Deus e enviado aos homens para lhes anunciar a salvação. Se tivéssemos fé firme e viva e déssemos a conhecer Cristo com audácia, veríamos que ante os nossos olhos se realizariam milagres como os da era apostólica.

Porque a verdade é que também agora se dá vista aos cegos, que tinham perdido a capacidade de olhar para o Céu e de contemplar as maravilhas de Deus; também agora se dá liberdade a coxos e entrevados, que se encontravam tolhidos pelas próprias paixões e cujo coração já não sabia amar; também agora se dá ouvido aos surdos, que não desejavam o conhecimento de Deus, e se consegue que falem os mudos, que tinham amordaçada a língua por não quererem confessar as suas derrotas; também agora se ressuscitam mortos, em que o pecado destruíra a vida. Mais uma vez se verifica que a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais penetrante do que qualquer espada de dois gumes. E, como os primeiros fiéis cristãos, também nós nos alegramos ao admirar a força do Espírito Santo e a sua acção na inteligência e na vontade das suas criaturas.

Se cremos na ação do Espírito Santo peçamos ardentemente, que Ele venha renovar a face da terra!

Por JoséMaria Escrivá – livro é Cristo que passa. Com grifos meus. Pág 167-174

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