Esdras: o ensino e a observância da Lei (538 aC a 515 aC)
Estamos continuando o estudo dos livros Históricos, agora dando ênfase no período pós- exílio ao qual Israel volta para sua pátria com a missão de restaurar o templo e voltar a aliança com YHWH por meio da observância da lei.
Quem foi Esdras?
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O nome Esdras significa (“Deus é auxílio”) e foi justamente o que Esdras fez em sua missão, Esdras era sacerdote e especialista na lei judaica (Esd 7,6s). Esdras foi o auxilio de Deus diante da maior necessidade do povo eleito no período pós- exílico, voltar-se para Deus de forma genuína através da observância da lei. Sua autoridade baseava-se no fato de ser escriba e também por ser alto funcionário da corte do Império Persa, assim tinha respaldo para atuar em nome do rei e em nome de Deus.
Conforme Ne 8,9, Esdras e Neemias teriam atuado juntos em alguns momentos. Mas isso provavelmente não é verdade, uma vez que a intenção do redator é fazer com que Esdras, sacerdote e escriba, prevaleça sobre o leigo Neemias. A missão de Esdras reforça e legitima as reformas promovidas pelo governador Neemias.
Missão de Esdras:
Ensinar a Lei de Moisés aos judeus e legitimar teologicamente as reformas culturais e religiosas decretadas pelo governador Neemias. Esdras estava a serviço do império. Desobedecer à Lei de Moisés era também desobedecer à lei do imperador (cf Esd 7,26). A concessão de autonomia aos judeus, incluindo liberdade de observar as suas próprias leis, faz parte da estratégia persa de assegurar a lealdade de Judá ao império.
Nesse momento de crise e de risco de perda da identidade nacional e cultural, a Lei exerceu um papel decisivo. Ele teve função central na manutenção da identidade do povo. Sem ela talvez os judeus tivesse desaparecido como outros povos.
Uma consideração: Hoje temos uma visão negativa da lei, sobretudo por causa das criticas que os Evangelhos e certas epístolas fizeram à forma como certos grupos a observavam no tempo de Jesus e das primeiras comunidades cristãs. Mas a lei foi dada como graça, a Lei de Deus significa o seu ensino, sua vontade, sua instrução. A finalidade da Lei era promover uma vida digna e feliz. A mesma era considerada ao menos pela comunidade repatriada e por judeus que permaneciam na Babilônia, como o maior dom de YHWH:
(Sl 19, 8-10). ‘A Lei do Senhor é perfeita, ela dá a vida; A Lei do Senhor é segura, torna perspicaz o simples. Os preceitos do Senhor são retos, alegram o coração; o mandamento do Senhor é límpido, ilumina os olhos. O temor do Senhor é puro, subsiste para sempre; as decisões do Senhor são a verdade, todas elas são justas”.
Observe no contexto Bíblico que as criticas de Jesus não era em relação à lei, mas ao legalismo, que levava a hipocrisia e opressão, exclusão dos mais pobres e simples.
O livro de Esdras pode ser dividido em duas partes:
- Dos capítulos 1-6: Encontramos a volta do exílio, o reinicio do culto e reconstrução do templo, sob a liderança do príncipe Zorababel e o sacerdote Josué. Nesse contexto exercem o ministério profético: Ageu e Zacarias (cf Esdras 5.1).
Um destaque nessa primeira parte são as oposições dos rivais (cf Esd 4.1-3):
Os judeus, especialmente os moradores de Jerusalém tinham uma grande rivalidade com os povos vizinhos. Nunca aceitaram a separação das tribos do Norte. Com o passar do tempo a tensão foi aumentando, até que os samaritanos foram excluídos no momento da reconstrução do Templo o que gerou uma grande oposição da parte dos mesmos.
Mas vamos ver no capitulo cinco que ninguém pode paralisar a obra de Deus (cf Esd 5.1). Os mesmos foram reanimados e mesmo em meia a tantas tribulações o templo foi inaugurado (cf Esd 6.14-15).
E a segunda parte dos capítulos 7-10
Nessa segunda parte temos o inicio do ministério do Sacerdote e escriba Esdras que promove uma reforma religiosa. Esdras é conhecido como “pai do judaísmo antigo”
Esdras deu à fé judaica uma estrutura bem definida, centralizada na observância da Lei de Moisés. Em torno dela, a comunidade judaica pôde manter-se unida, mesmo dispersa por todo o mundo. A Lei tornou-se até mais importante do que o Templo. O Judaísmo tornou-se preponderantemente uma “religião do Livro”, uma comunidade sujeita à Lei de Moisés. Essa nova concepção da religião judaica proporcionou aos judeus um forte espírito de comunidade e os libertou do centralismo do Templo. Graças a isso, é que o Judaísmo sobreviveu à destruição do 2º Templo pelos romanos em 70 E.C.
O dia do nascimento do Judaísmo pode ser considerado o da leitura pública da Lei de Moisés narrada em Ne 8. Se pudermos considerar que o fundador de Israel foi Moisés, então também podemos dizer que Esdras foi a pessoa que lhe deu aquela estrutura que criou as condições para sobreviver através dos séculos.
Que possamos ser como Esdras através desse estudo Bíblico, levando toda a Igreja ao alinhamento da pratica da lei, o Espírito é dado aqueles que lhe obedecem (cf Atos 5.32); Como dizia Santo Agostinho: A lei foi dada para que se buscasse a graça, e a graça dada para que se praticasse a lei.