Nos cinco capítulos e nas 50 páginas do texto “Daro melhor de si”, se analisa, em síntese a história do fenômeno esportivo, e se oferece uma leitura antropológica do ponto de vista dos valores e outra sobre os desafios e desvios do esporte, para concluir com uma descrição do papel desempenhado pela Igreja no mundo do esporte.
Sobre a perspetiva cristã do esporte e da pessoa
Recebi com alegria a notícia da publicação do documento Dar o melhor de si, sobre a perspetiva cristã do desporto e a pessoa, que o Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida preparou com o objetivo de salientar o papel da Igreja no mundo do desporto, e de como este pode ser um meio de encontro, de formação, de missão e de santificação.
O desporto é um lugar de encontro em que pessoas de todos os níveis e condições sociais se unem para alcançar um objetivo comum. Numa cultura dominada pelo individualismo e pelo descarte das gerações mais jovens e dos mais idosos, o desporto é um âmbito privilegiado em torno do qual as pessoas se encontram sem distinção de raça, sexo, religião ou ideologia, e onde podemos experimentar a alegria de competir para alcançar juntos uma meta, fazendo parte de uma equipa em que o êxito ou a derrota são partilhados e superados; isto ajuda-nos a pôr de parte a ideia de conquistar sozinho um objetivo, centrando-se em si mesmo. A necessidade do outro envolve não apenas os colegas de equipa, mas também o treinador, os adeptos, a família, em suma, todas as pessoas que com a sua entrega e dedicação tornam possível chegar a «dar o melhor de si». Tudo isto torna o desporto num catalisador de experiências de comunidade, de família humana. Quando um pai brinca ou joga com o seu filho, quando os jovens jogam juntos no parque ou na escola, quando o atleta ou desportista celebra a vitória com os seus adeptos, em todas estas situações é possível ver o valor do desporto como lugar de união e encontro entre pessoas. Os grandes objetivos, tanto no desporto como na vida, conseguem-se juntos, como equipa!
O desporto é também um veículo de formação. Hoje, talvez mais do que nunca, devemos fixar o olhar nos jovens, pois, quanto mais cedo se inicie o processo de formação, tanto mais fácil se dará o desenvolvimento integral da pessoa através do desporto. Sabemos como as novas gerações olham e se inspiram nos atletas! Por isso é necessária a participação de todos os atletas, de qualquer nível e idade, para que os que fazem parte do mundo do desporto sejam um exemplo em virtudes como a generosidade, a humildade, o sacrifício, a constância e a alegria. Devem de igual modo contribuir no que diz respeito ao espírito de equipa, ao apreço, competição e solidariedade com os demais. É essencial que todos sejamos conscientes da importância que 4 tem o exemplo na prática desportiva, ele é como o bom arado em terra fértil, que facilitará a colheita, sempre que se cuide e trabalhe adequadamente.
Por último, queria sublinhar o papel do desporto como meio de missão e santificação. A Igreja é chamada a ser um sinal de Jesus no meio do mundo, também através do desporto nos «oratórios», nas paróquias e nas escolas, nas associações, etc. É sempre ocasião de levar a mensagem de Cristo, «em tempo propício e fora dele» (2Tm 4,2). É importante levar, comunicar esta alegria que transmite o desporto, e que não é senão a descoberta das potencialidades da pessoa, que nos chamam a desvelar a beleza da criação e do próprio ser humano, pois está feito à imagem e semelhança de Deus. O desporto pode abrir o caminho a Cristo naqueles lugares ou ambientes em que, por diversos motivos, não é possível anunciá-lo diretamente. E as pessoas, com o seu testemunho de alegria, com a prática desportiva em comunidade, podem ser mensageiras da Boa-Nova.
Dar o melhor de si no desporto é, também, um chamamento a aspirar à santidade. Durante o recente encontro com os jovens, na preparação do Sínodo dos Bispos, manifestei a convicção de que todos os jovens ali presentes, fisicamente ou através das redes sociais, tinham o desejo e a esperança de dar o melhor de si. Eu utilizei a mesma expressão na recente exortação apostólica, recordando que o Senhor tem uma forma única e específica de chamamento à santidade para todos nós: «Importante é que cada crente discirna o seu próprio caminho e traga à luz o melhor de si mesmo, quanto Deus colocou nele de muito pessoal» (Gaudete et exsultate [GE], 11).
É preciso aprofundar a estreita relação que existe entre o desporto e a vida, para que possam iluminar-se reciprocamente, de maneira que o afã de superação numa disciplina atlética sirva também de inspiração para melhorar sempre como pessoa em todos os aspetos da vida. Essa busca, com a ajuda da graça divina, encaminha-nos para aquela plenitude de vida a que chamamos santidade. O desporto é uma fonte riquíssima de valores e virtudes que nos ajudam a melhorar como pessoas. Como o atleta durante o treino, a prática desportiva ajuda-nos a dar o melhor de nós, a descobrir sem medo os nossos próprios limites e a lutar por melhorar cada dia. Desta forma, «cada cristão, quanto mais se santifica, tanto mais fecundo se torna para o mundo» (GE, 33). Portanto, para o desportista cristão, a santidade será viver o desporto como um meio de encontro, de formação da personalidade, de testemunho e de anúncio da alegria de ser cristão, com os que o rodeiam.
Peço ao Senhor, por intercessão da Virgem Santíssima, que este documento produza frutos abundantes tanto no compromisso eclesial em prol da pastoral do desporto, como além do âmbito da Igreja. A todos os desportistas e agentes de pastoral, que se reconhecem [membros] 5 da grande «equipa» do Senhor Jesus, peço-lhes, por favor, que rezem por mim e envio cordialmente a minha bênção.
Vaticano, 1 de junho de 2018.