As quatro leis da oração.
O cristão de amanha será um místico alguém que experimentou alguma coisa, ou não será nada (Karl Rahner).
Confira essa reflexão na íntegra
1º Quanto mais se ora, mais se quer orar.
Como a corça deseja as águas correntes, assim a minha alma anseia por ti, ó Deus. A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo: quando hei de ir ver a face de Deus? (Salmo 42.1-2).
O homem tem sede de Deus. O homem é um nômade em busca do absoluto, pensemos por exemplo nos atletas que vivem insatisfeitos, buscando a perfeição a cada dia em busca de ir além alcançando novos recordes. Ou na sede de riqueza, como explicar que um politico no final da sua vida, mesmo depois de ter adquirido riquezas e até mesmo fortunas, continua roubando, praticando inúmeros crimes e corrupção, sabendo que não terá meios de gastar e usufruir o que sua ganancia fez conquistar seu coração?
O homem nunca estará satisfeito, ele sempre continuará sedento, e depois que satisfazer suas necessidades momentâneas se lançará em busca de novas riquezas e sensações.
No plano espiritual, o homem é, segundo o pensamento de Santo Agostinho, como uma seta disparada para o universo (Deus) que, como o centro do universo exerce uma atração irresistível, e quanto mais se aproxima desse universo, maior velocidade adquire.
Quanto mais de ama a Deus mais se quer amá-lo. Quanto mais nos relacionamos com ele, mais queremos nos relacionar, a atração esta sempre na proporção da proximidade.
Tudo isso está implícito na Escritura, o autor dos Salmos sente-se sequioso de Deus, como a corça que busca freneticamente matar a sede encontrando a fonte de agua fresca, como Jesus que levanta no meio da noite, “roubando” horas de sono e descanso, subindo ao monte para encontrar com o Pai.
O contrário também é verdade: 2ª Quanto menos se reza, menos se tem vontade de rezar!
Existe uma doença chamada anemia. É uma enfermidade perigosa, silenciosa que pode levar a morte. A mesma consiste nisso: Quanto menos se come, menos apetite, quando menos apetite, menos se come e sobrevém a anemia aguda. Um circulo silencioso e mortal que pode levar a morte.
Na vida interior também se apresenta o mesmo ciclo: Começa-se a deixar de rezar por razões aparentemente validas, e gradativamente a vida interior vai sendo minada, até que no lugar da adoração aparecem às distrações, o desanimo, a dispersão, vamos perdendo a fome de Deus e automaticamente vamos alimentando dos prazeres do mundo. Assim começa a declinar a fome de Deus na medida em que aumenta a dificuldade de estar alegremente com ele. Entramos nessa espiral de morte, morte da experiência de Deus em nossa vida.
Ao rezar pouco, sentimos a dificuldade de rezar, e pouco a pouco sentimos inclinados a abandonar a oração, pela terrível lei do menos esforço. É o que São Paulo exorta na Carta aos Gálatas: Ó Galatas insensatos, quem vos enfeitiçou, ao ponto de depois de começardes no Espírito quereis terminar na carne? (cf Gl 3.3.).
3º Quanto mais se reza, Deus é “mais” Deus em nós.
Deus não muda. É imutável, quem muda somos nós, somos chamados a sermos transformados de glória em glória no Espírito do Senhor (cf 1 Cor 3.18). A oração é a principal via pelo qual o Espírito Santo faz resplandecer em nós a face de Cristo. Nesse mistério o Espírito Santo infunde em nossos corações a graça, e quanto mais deixamos nos transformar pelo Espírito com mais profundidade Deus encontra espaço para agir em nós. Quando os franceses iam à Ars para ver o Santo sacerdote João Maria Batista Vianney eles voltavam dizendo: “Fui a Ars ver um homem e vi Deus”. É isso que o salmista expressa quando diz: “Mas tu Senhor, puseste em meu coração mais alegria do que quando abundam o trigo e o vinho (Salmo 4). O trigo e o vinho simbolizam todas as compensações, emoções, e prazeres que o coração humano pode experimentar. Para aqueles que saborearam quão suave é o Senhor (Salmo 34.8); Deus tem o sabor de um vinho embriagador, é mais saboroso que todas as delicias da terra.
4º Quanto menos se reza menos Deus é “menos” Deus em nós.
Quando menos se reza, a presença de Deus a chama do Deus vivo vai se apagando em nós. O Senhor gradativamente de Pessoa, vai se tornando em apenas um conceito uma ideia. Existe muitos líderes que falam muito de Deus, mas que não falam com Ele.
Se deixarmos de rezar Deus se tornará um “ninguém” em nossas vidas. Decretamos a morte de Deus, não em si mesmo, pois o Deus é eterno e imortal, mas em nossos corações, como uma planta ressequida que não foi regada. Por isso Jesus nos exorta: Tenho, porém, contra ti que deixaste o teu primeiro amor.
Lembra-te, pois, de onde caíste, e arrepende-te, e pratica as primeiras obras; quando não, brevemente a ti virei, e tirarei do seu lugar o teu castiçal, se não te arrependeres.
Apocalipse 2.4,5
Finalizo essa breve reflexão proclamando: A oração não é tudo só 100%. Façamos de tudo para retomarmos a nossa vida interior.
As idéias centrais dessa reflexão são retiradas acerca do livro Mostra-me o teu rosto de Inácio Larrañaga.