O poder das relíquias ( 2 Reis 13.21)

Nos dias 22 a 30 de setembro de 2017 durante a novena de Santa Teresinha recebemos em nossa casa de formação Santa Teresinha, Comunidade Betânia uma graça: As relíquias da carne de Santa Teresinha e o pedaço dos ossos de seus pais.  Afim de formar aqueles que frequentam a casa de formação escrevo esse ensino sobre o poder das relíquias, ao qual a tradição e o magistério da Igreja ensinam que devemos zelar, e pedir graças, pois por intermédio das mesmas Deus realiza milagres extraordinários.

Confira o ensino na íntegra

O culto das relíquias está ligado ao culto de veneração (não adoração) dos santos; e é algo espontâneo e faz parte dos sentimentos humanos. O costume das relíquias dos santos vem desde o início do cristianismo. Primeiramente os mártires foram cultuados; o povo de Deus recolhia seus corpos e os sepultava com reverência. As sepulturas dos mártires eram visitadas por peregrinos; muitos queriam ser sepultados junto a um mártir pois julgavam que este mais intercederia por eles no Céu.

Santo Agostinho dizia que os corpos dos Santos são instrumentos dos quais se serve o Espírito Santo para realizar suas obras. Por isto os seus restos mortais são honrados desde o início da Igreja. Por exemplo, as Atas do Martírio de S. Policarpo (+156) de Esmirna, como já vimos, dizem que após a morte do mártir, entregue ao fogo, os fiéis foram recolher as suas cinzas.

Algumas pessoas ficam assustadas ao saberem que em pleno século XXI a Igreja Católica permite o culto das relíquias, ou seja, a veneração pelo corpo de santos falecidos ou mártires e que até mesmo que guardem com cuidado pedaços desses corpos. Não seria isso uma coisa macabra, uma realidade malsã, e mais que cristianismo, essa prática traga em si mesma resquícios de superstição pagã, uma vez que eram eles quem veneravam os antepassados?

A melhor forma de responder a esse tipo de acusação está na Suma Teológica de Santo Tomás de Aquino que diz: “Por isso, o próprio Deus honra como convém as suas relíquias, pelos milagres que faz na presença deles.”[01] Apesar disso, mesmo que não se creia nos relatos de inúmeros milagres e curas que ocorreram pelo contato com os corpos ou roupas dos santos da Igreja, não se pode negar o conteúdo da Sagrada Escritura:

Certa vez, alguns homens que estavam a enterrar um morto avistaram um desses bandos. Atiraram o corpo para dentro do túmulo de Eliseu e fugiram. Aconteceu que o morto, ao tocar nos ossos de Eliseu, voltou à vida e pôs-se de pé. (2 Reis 13, 21)

Logo, é o próprio Deus quem venera os restos mortais (relíquias) de seus santos, conforme explicou Santo Tomás. E o que se vê no Antigo está presente também no Novo Testamento, como no caso de São Paulo que, enquanto era vivo servia de instrumento para Deus realizar milagres e, mais pontualmente, o que diz a passagem abaixo extraída dos Atos dos Apóstolos:

Deus realizava milagres extraordinários pelas mãos de Paulo, a tal ponto que pegavam em lenços e aventais usados por Paulo para os colocar sobre os doentes, e estes eram libertados das suas doenças e os espíritos maus eram afastados. (Atos 19, 11-12).

Eis os fundamentos das chamadas “relíquias de segunda classe”. As de primeira classe são os restos mortais propriamente ditos, já os objetos que estiveram em contato com o santo são as de segunda classe. Alguns citam ainda as de terceira classe, contudo, essas poderiam ser chamadas mais adequadamente de “lembranças”, pois são objetos que tocaram o túmulo daquele santo. No entanto, tudo pode ser usado por Deus para realizar milagres. É claro que o próprio corpo do santo não realiza milagres – isso seria mentalidade mágica – mas, trata-se de uma ocasião utilizada por Deus.

A Igreja Católica, malgrado as acusações em contrário, sempre valorizou o corpo humano. A adoração ao Corpo de Nosso Senhor Jesus Cristo, a união dos corpos no ato sexual é um sacramento, entre outros exemplos, demonstram que ela sempre quis defender o valor do corpo. No Concílio de Trento, os padres conciliares aprovaram o “Decreto sobre a invocação, a veneração e as relíquias dos santos e sobre as imagens sagradas”, em 03 de dezembro de 1563, que diz:

Devem ser venerados pelos fiéis os santos corpos dos santos mártires e dos outros que vivem com Cristo, corpos que foram membros vivos do mesmo Cristo e templo do Espírito Santo, que por ele devem ser ressuscitados para a vida eterna e glorificados e pelos quais Deus concede aos homens muitos benefícios. Por isso, os que afirmam que às relíquias dos santos não se deve veneração nem honra, ou que inutilmente os fiéis as honram como também a outros monumentos sagrados, e que em vão frequentam as memórias dos Santos para obter o seu auxílio, todos devem ser absolutamente condenados como já outrora a Igreja os condenou e também agora os condena.[04]

Os corpos ressuscitarão e é justamente porque serão divinizados que hoje os corpos dos santos são utilizados por Deus para distribuir aos homens suas graças divinas. Trata-se de algo belo ser cristão e mais: ser católico, pois assim é possível compreender que o que mais importa, sem dúvida, é a alma, mas que os frágeis corpos não são desprezados por Deus e, tal como São Francisco, que se referia ao seu corpo como “Irmão Jumento”, podem ser instrumentos para servir a Ele.

 

Os corpos dos santos que serviram a Nosso Senhor são para Deus lembranças belíssimas do amor com que se consumiram. Corpos verdadeiros que se doaram, que se gastaram por Amor. Enquanto o mundo idolatra corpos nus, de formas perfeitas e belas, os católicos veneram corpos que se gastaram, derramaram o próprio sangue por amor a Cristo.

 

Referências

https://padrepauloricardo.org/episodios/por-que-a-igreja-permite-a-veneracao-das-reliquias

http://cleofas.com.br/o-culto-das-reliquias-parte-1/

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