Jovens,

"Se fores aquilo que Deus quer colocareis fogo no mundo"

Jovem,

Voltando ao primeiro amor (Ap 2,4).

Jovem,

"KBÇAUM", Não permita que o entretenimento virtual roube sua vida sobrenatural!

A oração não é tudo, só 100%

Deus está apenas a uma oração de distância 👆🙏

Pregador ungido (1 Cor 15,10)

Quanto penso no tema pregador ungido, sou inclinado a pensar em São Paulo. Depois de Cristo ninguém Evangelizou mais que São Paulo. Ele mesmo fala:

(1 Cor 15,10) É pela graça de Deus que sou o que sou. E a graça que ele reservou para mim não foi estéril; a prova é que tenho trabalhado mais que todos eles, não propriamente eu, mas a graça de Deus comigo.

  • Paulo fez três viagens missionárias e Evangelizou dois continentes, a Ásia menor e a Europa.
  • Formou uma multidão de discípulos que ela chamava se seus cooperados no Evangelho.
  • Fundou muitas Comunidades por onde passava.
  • Escreveu 13 Cartas as quais encontramos na Sagrada Escritura.

Quando pensamos em São Paulo como esse grande Evangelizador temos a concepção de que São Paulo tinha um grande dom de oratória. Mas não é essa realidade que a Sagrada Escritura nos apresenta: veja (2 Cor 10,10) e ( 2 Cor 11,6).

Paulo tinha um grande conhecimento da Escritura, estudou aos pés de Gamaliel era um fariseu convicto, mas a eficácia de sua pregação não estava em sua capacidade de oratória, que aliás era fraca, em Atenas ele foi chamado de tagarela (cf Atos 17,18).

Mas afinal qual era o segredo de Paulo?

A resposta encontramos no início da primeira Carta aos Coríntios (1 Cor 2,1-5)

Irmãos, quando fui até vós anunciar-vos o mistério de Deus, não recorri à oratória ou ao prestígio da sabedoria. Pois, entre vós, não julguei saber coisa alguma, a não ser Jesus Cristo, e este, crucificado. Aliás, estive junto de vós com fraqueza e receio, e com muito tremor. Também a minha palavra e a minha pregação não se apoiavam na persuasão da sabedoria, mas eram uma demonstração do poder do Espírito, para que a vossa fé se baseasse no poder de Deus e não na sabedoria humana.

A pregação de Paulo era uma demonstração do poder do Espírito Santo ou seja debaixo de uma grande unção de Deus.  A sua pregação é uma demonstração do poder de Deus?

Através de seu ministério as pessoas tem se rendido aos pés de Cristo?  Os sinais tem acompanho sua pregação: curas, palavras de profecia, sabedoria? A sua pregação é uma pregação ungida?

O Papa Paulo VI na encíclica Evangelii Nuntiand parágrafo 75.

“Nunca será possível haver evangelização sem a ação do Espírito Santo… As técnicas da evangelização são boas; mas, ainda as mais aperfeiçoadas não poderiam substituir a ação discreta do Espírito Santo. A preparação mais apurada do evangelizador nada faz sem ele. De igual modo, a dialética mais convincente, sem ele, permanece impotente em relação ao espírito dos homens. E, ainda, os mais bem elaborados esquemas com base sociológica e psicológica, sem ele, em breve se demonstram desprovidos de valor”.

Diante dessa realidade precisamos nos formar em relação há duas realidades:

1ª O que é unção?  2º Como obter essa unção em nosso ministério.

Vamos tomar o Evangelho de Lucas 4,18 para saber o que é unção: “O Espírito do Senhor está sobre mim, pois ele me ungiu, para anunciar a Boa-Nova aos pobres”

1ª O que é unção:  A unção é a potencialização da graça de Deus em nós para que possamos servi-lo. Quando o Espírito Santo nos unge Ele nos capacita para realizar a obra de Deus. Podemos chamar também de autoridade espiritual.

 Essa unção é sempre para: (o Senhor fala: pois ele me ungiu, para), São Tomás de Aquino falando das missões divinas, ensina que a cada nova missão o Espírito Santo nos concede uma nova unção.

Por isso São Paulo se gloriava de suas fraquezas, pois quando Ele estava fraco, ele se tornava forte, pois na fraqueza a força de Deus se manifestava.

Por isso não podemos dar desculpas: “Eu não sei falar”, “não tenho maturidade”, “o público tem mais formação do que eu” …  Nós temos a unção de Deus em nosso favor, o mesmo Espírito que capacitou Paulo e Pedro a anunciarem a palavra de Deus corajosamente está em nós.

O que nos falta é abrir a essa unção.

2º Como obter essa unção em nosso ministério?

A unção é um paradoxo, ela não é adquirida pelos méritos humanos. Em Atos 8,19 Temos o exemplo de Simão o mago que queria comprar o Espírito Santo, Pedro o repreendeu severamente.

Precisamos compreender que a unção é um dom de Deus, que Deus dispensa a quem Ele quer, como quer e quando quer.  Quando não compreendemos essa realidade fazemos do Espírito Santo um instrumento em nossas mãos, mas deve ser o contrário nós que devemos ser um instrumento nas mãos dele.

Mas por outro lado, essa unção vem por uma cooperação de nossa parte. Deus espera uma docilidade interior de cada um de nós para acolher a unção.  Quero apontar quatro elementos, facilitadores da unção:

1º Ter um coração contrito e humilhado (Salmo 51,19)

“Sacrifício para Deus é um espírito contrito; não desprezas, ó Deus, um coração contrito e humilhado”.

Ter um coração contrito “é ter um coração penitente” humilde, quebrantado, arrependido, obediente, manso, significa que você está disposto mesmo com suas fraquezas a buscar uma união diária com a vontade do Senhor que é a vida de santidade.

2º ter retidão de coração:  Precisamos olhar para nosso interior e perceber qual é a motivação que nos leva exercer o nosso ministério.  Eu Evangelizo para buscar a glória de Deus ou minha glória pessoal?   São Paul em Filipenses 1,14 diz que alguns pregar a Boa nova por inveja, orgulho, sem boa intenção. Quando não Evangelizamos para dar a glória a Deus, queremos escolher lugares para pregar,  ficamos tristes quando não rebemos elogios e o que é pior  ficamos com inveja do crescimento de outros pregadores em nossa comunidade.

3° Ter vida de oração:  o Espírito Santo é dado na oração. É na oração que o Espírito Santo nos dá a experiência da iluminação, ele nos dá a palavra inspirada, a direção para pregarmos em determinada situação.

 4º Pregar sempre a evidencia do Batismo no Espírito Santo!

Ronaldo Paraíba diz que quando pregamos e a experiência do Espírito Santo não acontece roubamos a glória de Deus, por que as pessoas se lembrarão de nós e não de Deus. Temos que ser como João Batista aqueles que apontam o Cristo: Aquele que tira o pecado do mundo e Batiza com o Espírito Santo.Reze em suas pregações não apenas para sua pregação impactar as pessoas, mas para que um grande Avivamento aconteça na assembleia, que haja manifestações carismáticas, vidas transformadas, e um grande louvor a Cristo. Que possamos ser esses pregadores ungidos, nesse tempo que somos chamados a anunciar corajosamente a palavra de Deus. Aleluia!

Quando a comunidade se coloca em oração (Atos 4,31)


“Quando terminaram a oração, tremeu o lugar onde estavam reunidos. Todos ficaram cheios do Espírito Santo e anunciavam corajosamente a palavra de Deus”.

Se existe um lugar aonde o Espírito Santo com toda certeza é derramado, esse lugar é a comunidade. Isso porque o Espírito Santo é dado para formar o corpo de Cristo, Ele é a alma da Igreja.  Dizia Santo Agostinho: O que a alma é para o corpo, o Espírito Santo é para Igreja.

– O Espírito Santo renova a Igreja a medida que Aviva seus membros.  Em Atos vemos que  a cada dia o Senhor acrescentava mais pessoas que eram salvas  ( veja Atos 2,47).

– O Espírito Santo assiste a Igreja, Ele é o personagem mais discreto e poderoso da Sagrada Escritura. Ele torna o cristo ressuscitado presente no meio de nós. Quando Jesus deu o mandato missionário a Igreja, o Senhor disse: Ide por todo o mundo e anunciai a Boa nova a toda criatura. Eles foram anunciar por toda a parte. E o Senhor os ajudava com os sinais que lhes acompanhavam (veja Marcos 16,15-20).

Esses sinais “curas, prodígios, milagres” sinalizavam que a gloria de Deus se fazia presente no meio da Igreja, era o Espírito Santo realizando a sua obra à medida que a Igreja se colocava em oração.

A comunidade primitiva experimentava grandes efeitos diante dessa vitalidade, que podemos ver em Atos 4,29-31

  • Os mesmos tinham uma profunda experiência com Jesus.
  • Os mesmos acreditavam nas experiências carismáticas.
  • Os mesmos eram tomados por uma coragem em anunciar a palavra de Deus.
  • Todos eram cheios do Espírito Santo.

Mas qual seria o segredo dessa comunidade?

O segredo era que os mesmos priorizavam a oração. Podemos ver em um momento anterior que os mesmos eram perseverantes em oração. (Atos 1,14) Todos eles perseveravam unanimemente na oração, juntamente com as mulheres, entre elas Maria, mãe de Jesus, e os irmãos dele.

Hoje nos perguntamos porque os milagres não acontecem com tanta frequência como no início, a resposta é simples, falta-nos oração. O mesmo Espírito Santo que foi derramado há 2.000 anos é derramado hoje, mas o que nos falta é a abertura de coração que os apóstolos tinham.

Como desenvolver essa aberta de oração?

Rezando, não existe outra formula. Assim como só se aprende a nadar nadando, para aprender a rezar é necessário viver rezando diariamente.

Existem duas formas de oração: A oração pessoal e a oração comunitária.

  • A oração pessoal, é a oração que fazemos a sós, em intimidade com o Senhor.

Jesus ensinou os discípulos sobre a importância dessa oração (Mateus 6,6) Quando orares, entra no teu quarto, fecha a porta e ora ao teu Pai em segredo, e teu Pai, que vê num lugar oculto, recompensar-te-á.  Essa oração pessoal é insubstituível, devemos faze-la diariamente.

Para realizar a mesma é necessário, escolher um ambiente que promova silencio. Se programar com um tempo para essa finalidade, e se abrir diante do Senhor de forma espontânea. Falar com Deus, como se fala com um amigo.

  • A oração comunitária, é a oração que fazemos em dois ou mais pessoas em nome de Jesus. Sobre essa oração o Senhor fez uma grande promessa.

(Mateus 18,19- 20) Digo-vos ainda isto: se dois de vós se unirem sobre a terra para pedir, seja o que for, consegui-lo-ão de meu Pai que está nos céus. Porque onde dois ou três estão reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles.

Debaixo desses dessas duas formulas, existem vários tipos de oração. Quero falar  sobre alguns rapidamente:

  • Oração de ação de graças –  Essa é a oração que agradecemos a Deus por aquilo que Ele nos faz. Jesus fez essa oração, antes de ressuscitar Lazaro (João 11,41) Levantando Jesus os olhos ao alto, disse: Pai, rendo-te graças, porque me ouviste.
  • Oração de louvor – Essa é a oração que reconhecemos  quem Deus é: Santo, misericordioso, fiel, bom, amor, digno… Essa é a oração que mais agrada a Deus, o (Sl 22,4) diz: O santo de Israel habita no meio dos louvores do seu povo. O louvor atrai a glória de Deus, muitas vezes temos dificuldades para louvar porque somos imaturos na fé, como criancinhas que só sabem pedir.
  • Oração de intercessão – Essa é a oração que me coloco no lugar do outro em frente a Deus, para clamar por ele ou uma situação.  Podemos viver uma comunhão dos santos “intercedendo e recebendo intercessão continuamente”.
  • Oração de suplica – Essa é a oração que pedimos a Deus algo em favor de nossa salvação.  Podemos pedir a cura, libertação, que as portas se abram…
  • Oração de entrega – Essa é a oração que entregamos a Deus nossos fardos. A palavra do Senhor exorta: lançai sobre Ele toda a vossa preocupação, e Ele cuidará de vós ( 1 Pd 5,7).
  • Oração de adoração –  Esse é o estágio mais alto da oração, quando atravesso o limiar de nossa fé e somos absorvidos pela glória de Deus, Nesse estágio já não é necessário formular palavras, apenas saborear a presença.

A oração é a chave que abre as portas do céu. Se pedirmos, se batermos portas serão abertas, se procurar a Deus encontraremos… Tudo é possível pela força da oração.

O Profeta Miqueias: “A esperança é a última que morre”

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 Personalidade e escritos do profeta Miqueias

No mês da Bíblia do ano de 2016, o livro bíblico a ser estudado e meditado é o do profeta Miqueias. O tema é: “A profecia em defesa da vida”. O lema é uma frase do próprio livro de Miqueias: “Praticar o direito, amar a misericórdia, caminhar humildemente com o teu Deus” (Mq 6,8).

1 A vida do profeta Miqueias

Sabemos muito pouco a respeito da vida do profeta Miqueias. O primeiro versículo do livro dele (Mq 1,1) traz cinco breves informações a respeito do nome, do lugar, da época, da missão e do destino das suas profecias. Estas cinco pequenas janelas deixam entrever várias coisas a respeito da vida e da atuação de Miqueias como profeta. Eis o texto:

“Palavra do YHWH dirigida a Miqueias de Morasti, no tempo em que Joatão, Acaz e Ezequias eram reis de Judá. Palavra que lhe foi dirigida em visão a respeito de Samaria e Jerusalém”.

Nome

Miqueias ou Mi-ca-ya significa “Quem é como Yhwh?” Este nome é uma profissão de fé. Deixa entrever a profunda experiência de Deus como Yhwh, que marcou a vida do profeta Miqueias.

Lugar

Miqueias é natural de Morasti. Morasti era um pequeno povoado de camponeses perto da cidade de Gat (cf. Mq 1,14) na fronteira com os Filisteus. Fazia parte do reino de Judá, sendo uma aldeia na fronteira com o território dos Filisteus, que eram inimigos do povo de Deus. Morasti era rodeada por fortalezas e quartéis do reino de Judá com seus soldados e ofi­ciais que deviam garantir a segurança do reino (cf. Mq 5,10). O pagamento dos oficiais do exército do rei era feito com terras, muitas vezes roubadas do povo (cf. 1Sm 8,14-17). Por isso, o ambiente em que Miqueias viveu era marcado por latifúndio, altos impostos, aldeias saqueadas, roubos, tra­balhos forçados e prostituição.

Época

Miqueias atuou como profeta durante os governos dos reis Joatão (740-736), Acaz (736-716) e Ezequias (716-687), isto é, entre os anos 740 e 687. O texto diz que algumas das palavras de Deus para Miqueias se referiam a Samaria, que foi destruída pelos assírios em 722. Nas suas pro­fecias, Miqueias faz alusão a um desastre militar que arrasou grande parte das cidades de Judá (cf. Mq 1,10-16). Trata-se da invasão do exército da Assíria que aconteceu em 701 (cf. Is 5,26-30). Isso significa que a atua­ção profética de Miqueias começou antes de 722 e foi até depois de 701. Miqueias era contemporâneo dos profetas Oseias e Isaías, que atuaram na mesma época: Oseias na Samaria, Isaías em Jerusalém.

Missão

O texto diz que Miqueias recebia a palavra de YHWH em visão. Re­ceber a palavra em visão refere-se à visão de fé com que o profeta costuma olhar para Deus e para povo. Por viverem compenetrados da presença de Deus, os profetas olhavam para a situação do povo com o olhar de Deus, “olhar penetrante” (cf. Nm 24,3.15), e assim descobriam os apelos de Deus que eles deviam anunciar ao povo. Receber a palavra de Deus em visão sig­nifica ainda que não eram palavras que Miqueias inventava, mas sim pala­vras que vinham da parte de Deus para serem transmitidas aos outros.

Destino

O destino das palavras de Deus não era para o próprio Miqueias, mas para os governantes e habitantes das duas capitais: Samaria e Jeru­salém. Samaria era a capital do reino do norte, também chamado reino de Israel. Jerusalém era a capital do reino de Judá, no sul.

Cem anos depois de Miqueias, já na época do profeta Jeremias, em torno do ano 590, a atuação do profeta Miqueias ainda era lembrada pelos anciãos do povo. Foi quando os chefes do governo e os falsos profetas qui­seram matar o profeta Jeremias, que os incomodava. Eis o texto do livro de Jeremias a respeito da atuação de Miqueias:

Os príncipes e todo o povo disseram, então, aos sacerdotes e aos profetas: “Este homem (Jeremias) não merece a morte, pois foi em nome de Yhwh nosso Deus que ele nos falou”. E alguns anciãos do país tomaram, então, a palavra e, dirigindo-se a todo o povo reunido, disseram: “Miqueias de Morasti foi um profeta no tempo de Ezequias, rei de Judá. Ele disse a todo o povo de Judá: ‘Assim disse Yhwh dos Exércitos: Sião será arado como um campo, Jerusalém se tornará um montão de ruínas, e o monte do Tem­plo será uma colina cheia de mato’ (cf. Mq 3,12). Por acaso Ezequias, rei de Judá, ou o próprio povo de Judá mataram Miqueias? Por acaso não temeram a Yhwh e o acalmaram? E de fato, Yhwh desistiu da ameaça que havia lançado contra eles. Nós, porém, estamos para cometer um grande crime contra nós mesmos! (Jr 26,16-19).

Esta informação do livro de Jeremias mostra que Miqueias foi um profeta que marcou a história do povo. Depois de mais de cem anos, suas palavras ainda eram lembradas como palavras de fogo e de grande auto­ridade. Miqueias deve ter tido uma personalidade forte, portadora de uma palavra forte.

2 A personalidade do profeta Miqueias

Mesmo tendo poucas informações diretas sobre a vida de Miqueias, temos as profecias, as palavras que ele pronunciou. Poucas palavras, ape­nas sete capítulos. Apesar disso, permitem adivinhar algo a respeito da personalidade de Miqueias. Eis alguns tópicos que transparecem nas suas profecias:

Miqueias era um homem do povo, bem do interior. Criado na roça, sua linguagem é simples e direta: pão, pão! queijo, queijo! Não usa meio termo e vai direto ao assunto. Ele vive muito identificado com o povo da roça, que era explorado e oprimido pelos grandes (Mq 2,1-2). Miqueias é um lavrador que observava como as terras dos pobres eram tomadas e invadidas (Mq 2,2). Ele denuncia a terrível dominação que os grandes im­punham ao povo trabalhador (Mq 3,3; 3,9-11). Faz denuncias muito fortes contra Judá e contra Samaria e indica as causas: exploração, latifúndio, propinas, corrupção, vontade de ganhar dinheiro sem preocupação com os pobres.

Miqueias era um homem pé no chão, que alimentava sua fé a partir das histórias que ele ouvia do seu povo, desde criança, em casa e nas ce­lebrações, as quais ele deve ter aprofundado nas reuniões da comunidade local. Em suas profecias, ele lembra Abraão e Jacó (Mq 7,20), o Êxodo e os nomes de Moisés, Aarão e Miriam, a irmã de Moisés (Mq 6,4; 7,15). Evoca as histórias de Balac, rei de Moab, e do profeta Balaão (Mq 6,5). Ele lembra “o que aconteceu desde Setim até Guilgal” (Mq 6,5), isto é, por ocasião da travessia do rio Jordão quando o povo entrou na terra prometida (cf. Nm 25,1; Js 2,1; 3,1; 4,19-24). Lembra os “tempos remotos” de quan­do Davi foi ungido como rei em Belém (Mq 5,1; cf. 1Sm 16,1-13). Lembra os crimes e as injustiças praticadas pelos reis Amri e Acab, reis de Israel (cf. Mq 6,16).

Miqueias era um homem de esperança. Ele lembra como era a vida do povo no passado, bem no começo, “nos dias da saída da terra do Egito” (Mq 7,15). Ele espera o mesmo para o futuro: terra ampla, desde Galaad até Basan, desde o Mar Morto até o Mar Mediterrâneo, desde a montanha do Hermon até o Monte Horeb, a montanha de Deus (cf. Mq 7,11-12.14). Assim, ele transforma a saudade em esperança. Compara este passado tão bonito com a situação presente, em que ele e os pequenos eram obrigados a viver. E se pergunta: Por que as coisas são assim? Não deveriam ser assim! Então, como deveriam ser? É aqui que entra o significado do nome. Ele se chama Miqueias, Mi-ca-ya, “quem é como Yhwh!?” Desde pequeno, ele deve ter se perguntado muitas vezes: Por que me deram este nome? O que significa este nome para mim, para minha missão? Todas essas coisas fo­ram provocando as profecias de Miqueias, conservadas nos sete capítulos do livro que traz o seu nome.

Autores: Carlos Mesters e Francisco Orofino

O livro de Abdias: A vitória vem do Senhor

O livro de Abdias é um folhetim. Tão pequeno é o texto que nem foi dividido em capítulos – coisa rara na Bíblia – acontecendo o mesmo somente com quatro livros do Novo Testamento (Carta de Judas, Carta de Paulo a Filêmon, Segunda e Terceira Cartas de João). O texto não só é curto, mas à primeira vista também estranho. Sua teologia nem sempre soa bem aos nossos ouvidos moralistas, afinal onde já se viu fazer oráculos de destruição para os inimigos (Edom ou Esaú), em vez de amá-los como disse Jesus (cf. Mt 5,43-48) e perdoar-lhes até setenta vezes sete (cf. Mt 18,21-22)? Para entender o livro de Abdias, é preciso entender o que se passava dentro da cabeça do povo (seu modo de pensar) e o fora dela, ou seja, o que estava acontecendo naquela época (seu contexto).


Bom, comecemos pela homérica rixa entre Edom e Israel. Israel (também chamado Jacó) é filho de Isaac e Rebeca; assim como seu irmão gêmeo Edom (também conhecido como Esaú), mas que era primogênito, pois nascera primeiro. A briga entre Esaú e Jacó, ou seja, entre Israel e Edom, é coisa de que o povo sempre ouvira falar. Tal é sua extensão que, ao relatar o nascimento das crianças, o escritor sagrado fala de dois povos que brigavam entre si já no ventre da mãe Rebeca e que nasceram disputando o direito de primogenitura. Esaú fora mais esperto e nascera primeiro, mas com Jacó pegando no seu calcanhar, para não ficar para trás[1]. A briga entre os dois se eterniza. Jacó compra o direito de primogenitura de seu irmão por um prato de comida e, mais tarde, na hora de se receber a benção do pai e se apossar dos direitos do primogênito, esquece-se do comercio que havia feito, trapaceando Jacó. Mas Jacó, auxiliado por sua mãe, vai fazer valer o negócio que tinha fechado com seu irmão tempos atrás. Toda essa trama para dizer que este dois povos, apesar de serem irmãos, têm uma inimizade que se prolonga no tempo.

 Posto isso, podemos entender o contexto do oráculo de Abdias contra Edom. Por ocasião da invasão da Babilônia no Reino do Sul (Judá, capital Jerusalém), quando o povo foi deportado para longe de sua terra natal, o povo de Edom se deliciou com a queda do irmão rival. Aproveitou-se da fragilidade da ocasião para invadir Jerusalém e saqueá-la depois dela já ter sido devastada pelos babilônicos. Isso foi demais para Israel perdoar, afinal Edom acabara de “chutar o cachorro morto”, como diz nossa gente. Cresceram raiva e revolta ainda maiores nos israelitas em relação aos edomitas. Nós podemos saber mais sobre esta indignação do povo de Israel no Salmo 137,7-9. Este é também um salmo estranho; é do grupo dos salmos imprecatórios, mas que revela seu modo de pensar. Imprecar é o mesmo que rogar praga, maldizer. No caso, a praga é rogada em forma de oração, pedindo a Deus que vingue o inimigo, devolvendo a ele o mal que fizera até o ponto de desejar ver Deus “agarrar e esmagar seus recém-nascidos contra a rocha”. Uma oração pra lá de extravagante, mas que pode ser entendida sem problemas. O povo pede a vitória a Deus; para ter vitória, o inimigo – que humilhou Israel e continua agora o ameaçando – deve ser destruído; sua raça deve ser eliminada da terra, como um mal que deve ser cortado pela raiz. Num tempo em que o povo vivia sob a lei de Talião, “dente por dente, olho por olho”, Israel só está pedindo que a lei se cumpra, que seu Deus o defenda do inimigo.

Então já entendemos. O contexto é de inimizade de longos tempos, reforçada pela invasão de Edom a Jerusalém por ocasião do exílio. O modo de pensar é: se Deus é por nós, deve ser contra nossos inimigos, logo vai castigá-lo pelo mal que nos fez. É dentro destas categorias que devemos ler o pequenino livro de Abdias. Abdias teria sido um profeta que, vendo as humilhações de Israel provocadas por Edom (cf. v. 10-11), logo após o retorno para Jerusalém, anuncia a Edom castigos de Deus aos edomitas, pois Deus é o seu defensor. Mas são castigos na justa medida da lei de Talião: “Como fizeste aos outros será feito contigo!” (v. 15).

Ao final, Abdias profetiza uma mensagem de esperança para Judá. Apesar de ter sido devastada e humilhada por todos por ocasião do exílio, agora Jerusalém vai ser reerguida: “Jacó será fogo e Esaú será estopa” (v. 18). O povo israelita sairá vitorioso de suas batalhas. Para o inimigo, o dia do Senhor será castigo; para o povo que confia no seu Senhor, este dia será de restauração.

E nós? Será que o livro de Abdias nos diz algo? Claro que sim. Toda a violência da linguagem revoltosa de Israel contra Edom não apaga a beleza do texto. Abdias confia que seu Deus é sua vitória, que ele é quem o defende dos inimigos. Ainda que hoje nossos inimigos devam ser amados e perdoados como disse Jesus, não devemos nos esquecer na hora da tribulação que Deus está conosco e nos dá vitória. Sua força nos sustenta nos embates da vida. E, se entendemos que nossos piores inimigos estão dentro de nós mesmos muito mais que fora de nós, aí é que devemos confiar mesmo no Senhor nesta batalha travada. Vencer estas batalhas da vida, só se for com a força de Deus.

Texto de Solange do Carmo acesso dia 03/05/2019 ás 11h45.

Fonte: http://fiquefirme.com.br/multimedia-archive/10_o_livro_de_abdias_a_vitoria_vem_do_senhor/#

INTRODUÇÃO AOS PROFETAS MENORES

INTRODUÇÃO AOS PROFETAS MENORES



OSÉIAS

O profeta Oséias era natural do reino de Israel ou Efraim, como se costuma chamar. Profetizou sob o reinado de Jeroboão II e de seu sucessor, a partir da queda de Samaria e de todo o reino (721 a.C).

Os três primeiros capítulos do livro de Oséias formam um conjunto todo especial. Sob a forma de drama simbólico é-nos posta diante dos olhos a infidelidade do povo de Israel para com o seu Deus, representada, figuradamente, na infidelidade duma esposa para com seu legítimo marido; anuncia-se o seu castigo, mas também o seu arrependimento, a sua reconciliação e, enfim, sua vida renovada e mais feliz (2,16-24; cf. 2,1-2; 3,5).

Nos capítulos restantes (4-14) voltam os mesmos motivos, a saber: a culpa de Israel, principalmente as práticas idolátricas, o culto do bezerro de Betei, as alianças com os poderosos pagãos, a Assíria e o Egito, a falta de confiança e de apelo ao único Deus; daí os castigos proporcionados às culpas. Nem faltam vislumbres dum retorno a Deus e dum futuro melhor. Nesta sucessão de quadros, o mais das vezes obscuros, pode-se notar certo progresso. No c. 1 os acontecimentos políticos que, entre 745 725 a.C. elevaram tantos reis ao trono e outros tantos derrubaram dele, aparecem como fatos já passados; no c. 13 o castigo do povo ingrato é anunciado já como sentença irrevogável de uma destruição total do reino, e no último, o 14, com cores mais ricas e suaves promete-se a salvação definitiva.

No estilo de Oséias sucedem-se, em breves sentenças, pinceladas rápidas, imagens ousadas, passagens bruscas e como por saltos. Seu vocabulário ê rico, e seu estilo característico, devido, talvez, às particularidades do dialeto de sua região. Por estas mesmas razões o seu texto, maltratado pelos copistas, conservou-se num estado assaz deplorável. Desse complexo de causas origina-se a obscuridade desmesurada deste livro. Escrito no reino de Israel, foi-nos conservado e transmitido por mãos judaicas, através das quais é verossímil que tenha sofrido retoques lingüísticos e talvez também algum acréscimo, como a menção do reino de Judá nalguns contextos onde menos se esperariam (cf. 5,5;6, 11).

Das páginas de Oséias transparece um caráter impressionante, ardente e patético a um só tempo, mas sensível sobretudo às ternuras e às fogosidades do amor. Sob este aspecto é um precursor de Jeremias. Particularmente suas são as muitas reminiscências da antiga história do povo de Israel, sobretudo do patriarca Jacó, que tornam duplamente precioso o seu livro, cuja extensão supera, em três ou quatro partes a maioria dos doze profetas menores.

O método de Oséias se destaca peta descrição das relações entre Deus e Israel propostas sob a figura do amor conjugal. Ele é o primeiro profeta que recorre a esta comparação tão fecunda e repetida pelos profetas seguintes. A bem dizer, ele insiste mais no aspecto negativo do matrimônio, nas infidelidades e nas rupturas, do que no amor propriamente dito. A descrição deste amor será reservada ao Cântico dos Cânticos. A Oséias, pelo contrário, Deus faz sentir as suas amarguras de esposo traído, ameaçando e executando os duros castigos que o caso reclama. Tudo termina com a expectativa da reconciliação dos esposos a da restauração.

JOEL

O nome de Joel (hebr. Jõ’el = Javé é Deus) ocorre umas quinze vezes no Antigo Testamento. Discute-se até agora a respeito da época em que teria vivido o profeta Joel; mas pouco nos adianta examinarmos sua vida, pois chegaremos às mais desencontradas conclusões. Com maior atenção devemos, por isso, entregar-nos à leitura do próprio texto.

Distingue-se Joel pela amplitude e vivacidade das descrições, que constituem quase toda a matéria do seu livro. Ao contrário dos grandes profetas, Joel jamais especifica as faltas censuradas por ele; contenta-se com a exortação geral: “Voltai a Deus de todo o coração” (2, 12). Além disso, jamais menciona rei ou reino. Isso induziu a maior parte dos modernos a situar o profeta numa época posterior ao exílio, à qual parecem convir melhor as condições sociais e históricas próprias de sua mensagem. Joel conhece a dispersão do povo de Israel entre as nações e descreve sumariamente os seus horrores (3,1-6). Na sua mensagem já não se dirige aos reis, mas somente aos anciãos (1,2) e aos sacerdotes (1, 13). São indícios que mostram que a organização prê-exílica acabou, e, que, portanto, o livro não é dessa época.

Importante ê o (<Dia de Javé” (em nossa tradução “Dia do Senhor”,), na primeira parte, referência a um castigo grave, mas transitório. Na segunda parte, com cores sombrias e insistência, refere-se ao castigo definitivo dos infiéis.

AMOS

Os críticos modernos consideram Amós, e com razão, como o primeiro dos profetas escritores (cf. Am 1,1 com Os 1,1 e Is 1,1). O seu livro, por raros méritos de estilo e de substância, é realmente digno de abrir a inestimável literatura profética de Israel. Acrescentam valor às suas mensagens as humildes origens do profeta e sua vocação, na qual brilha tanto mais intensamente a força do seu espírito sobre-humano.

O profeta Amós é distinto de Amós, pai do profeta Isaías (Is 1,1: os dois nomes são de grafia diferente no hebraico). O livro fornece-nos bastante pormenores sobre sua vida. Natural de Técua, aldeia situada a uns 8 km ao sul de Belém, tirava o seu sustento do pastoreio de rebanhos e do cultivo de sicómoros, cujos frutos constituíam o alimento da gente pobre (Am 1,1;7,14). Corriam os tempos dos longos e prósperos reinados de Ozias, em Judá (cf. 2Rs 15,2.5) e de Jeroboão II, em Israel (783-743 a.C), que davam à nação poder e riqueza de que há muito tempo não gozava. Daí que a própria religião auferia vantagens, pela abundância das vítimas imoladas nos altares e pela pompa dos ritos. Mas ficaram prejudicadas a moral e a piedade sincera, os costumes pioravam, e os israelitas, deslumbrados pela prosperidade, caminhavam alegres e inconscientes para a ruína. Crescia, para infelicidade deles, o poderio assírio. Nesta altura, o humilde pastor de Técua sente-se chamado a pregar o arrependimento aos desavisados, revelando aos culpados os castigos iminentes. E ei-lo a percorrer, vaticinando, as cidades de Israel Enfrentou corajosamente a oposição dos sacerdotes de Betel, o principal santuário do reino (Am 7,10-17); depois, não se sabe qual tenha sido o seu fim. Uma tradição conservada pelo ignoto autor das “Vidas dos profetas” e acolhida no Martirológio Romano a 31 de março, narra que, ferido na têmpora com uma maçã, pelo filho do sacerdote Amasias, foi levado agonizante à própria aldeia, onde morreu pouco depois.

O livro de Amós nos apresenta, mais do que qualquer outro dos profetas, uma disposição clara e uma bela ordem das mensagens.

O estilo simples e não obstante cheio de dignidade, a forma escorreita, a pureza e o vigor da linguagem fazem do livro de Amós um modelo de literatura hebraica. Para torná-lo mais atraente, acrescenta-se a feliz circunstância de que o texto geralmente foi bem conservado como poucos outros.

Acima dos méritos literários, porém, estão a elevação de pensamento, a doutrina moral e religiosa. O monoteísmo ético puro atinge o auge. O Deus de Israel não é somente o único verdadeiro Deus, criador e governador de todo o Universo, mas por sua santidade essencial é também o autor e guarda zeloso de uma lei moral, cuja observância ele exige de todos os povos, e pune o delito onde quer que sua onisciência o descubra. A escolha especial e gratuita do povo de Israel não é nenhum privilégio sob este aspecto (3,2;9,7-10). Para lhe tributar as honras a que tem direito, é necessária antes de mais nada a santidade de costumes, sem a qual nada valem os atos dum culto cerimonioso e os sacrifícios de numerosas vítimas (5, 21-24). Amós condena a moleza, o luxo, a ambição (6,4-6;8,5-7), e também, com mais energia e maior freqüência, a injustiça e a crueldade para com o próximo, seja ele quem for, a opressão dos pobres.

ABDIAS

Com o nome de Abdias, que quer dizer “Servo de Javé”, temos o mais breve escrito do Antigo Testamento: consta de um só e não longo capítulo de 21 versículos.

Ê todo ele uma mensagem dirigida contra os edomitas ou idumeus, dos quais se recriminam:

1.  O orgulho e a ousada confiança que depositam na posição geográfica, defendida pelos fortes baluartes naturais de seu país (vv. 2-9).

2.  Sua cumplicidade e alegria feroz a quando da desgraça dos hebreus (vv. 10-15).

3.  O castigo até o aniquilamento, em contraste com a restauração de Israel em suas possessões e até no predomínio deste sobre a Iduméia (vv. 16-21).

Muito se tem discutido sobre a desgraça nacional de Israel a que se alude nos vv. 10,14; comparando-se esta passagem com SI 136,7; Ez 25,12;35,5 e Jer 49,7-18, não resta dúvida de que se trata da queda de Jerusalém nas mãos dos caldeus em 587 a.C.

Com isso temos a época aproximada em que o autor viveu. Escreveu talvez quando os acontecimentos aos quais alude eram ainda recentes, isto é, na primeira metade do séc. VI a.C. Era, portanto, um contemporâneo de Jeremias e de Ezequiel. Não se pode, pois, identificá-lo, como fizeram outrora judeus e cristãos, com Abdias, mordomo do rei Acab, que tanto se esforçou em favor dos profetas.

JONAS

Um “profeta Jonas, filho de Hamitai, nascido em Gad-Heber” (na Galiléia, cf. Jos 19,13), é mencionado em 2Rs 14,25, referindo-se a uma predição verificada sob o reinado de Jeroboão II de Israel (783-743 a.C). Esse profeta deve ter vivido no início do séc VIII a.C, e trata-se, sem dúvida, do Jonas do presente livro.

Com isso não está ainda afirmado que o próprio Jonas tenha escrito o livro que traz seu nome. Diferentemente de todos os demais livros proféticos, o presente tem a singularidade de ser apenas uma narração, e seu objeto não é a transmissão de uma mensagem profética, e sim apresenta, na prática, na narração do acontecimento, uma elevada lição de doutrina religiosa. Propriamente, pertence ao gênero narrativo.

Duas coisas ressaltam nesta narração: a mesquinhez do espírito humano (nos temores e nas iras do profeta) e a infinita bondade e clemência de Deus. Não menos importante é, porém, o universalismo religioso. Temos o caso único de um profeta de Israel ser enviado a pregar a gentios, e vemos o Deus de Israel dispensar tanto cuidado a uma nação idólatra. Pressentimos já o conceito universalista do cristianismo (Rom 3,29-30; Col 3,11). Largueza de espírito e de coração da segunda parte.

Outro aspecto de grande alcance na história religiosa apresenta-nos a primeira parte. No episódio de Jonas saindo vivo do ventre do peixe, depois de passar três dias ali, Jesus viu uma figura de sua ressurreição dos mortos, prova máxima da sua divindade (Mt 12,38-40). Daí também o renome de Jonas na literatura e na arte cristã. O mesmo divino Mestre intima os ninivitas convertidos pela pregação de Jonas, a deporem contra os judeus que não acreditam na palavra dele, que é muito mais que Jonas (Mt 12, 41; Lc 11,52). Sem dúvida não é necessário mais do que isso para compreender a importância religiosa deste livro.

Bastaria isto também para provar-lhe o caráter histórico? Notamos que a sua finalidade é dar uma lição moral quanto à largueza de espírito e à bondade de coração. Ora, um ensinamento pode ser dado também, e não em último lugar, com uma construção imaginária. O próprio divino Mestre disso nos deu o mais ilustre exemplo com as suas parábolas. Seria, portanto — pode-se perguntar — o livro de Jonas uma parábola, e não o relato de fatos realmente ocorridos? É o que pensam hoje muitos, fora da Igreja católica e também alguns de seus membros. Mas não se apresentam razões decisivas para essa afirmação. Aquilo que a obra nos conta de maravilhoso, não constitui dificuldade para quem admite, como se deve admitir, a possibilidade do milagre. O fim didático funda a possibilidade, não a necessidade de uma ficção literária. Os fatos reais têm igualmente força para instruir a mente e maior eficácia para mover a vontade. Estando assim neste ponto as conclusões, não é de prudência cristã duvidar da realidade histórica dos fatos, levada em conta pelo próprio Jesus.

MIQUÉIAS

Miquéias profetizou sob os mesmos monarcas que Isaías, exceto sob o primeiro, Osias, em cujo último ano de reinado e de vida Isaías foi chamado ao ministério profético. Miquéias era, portanto, contemporâneo de Isaías, florescendo entre 738 700 a.C, mais ou menos. A idade, a terra natal, o livro de Miquéias nos são confirmados (felicidade única para um escritor bíblico) pela citação pública dum célebre vaticínio seu (3,12), feita apenas um século depois (608 a.C.) e conservada no livro canônico de Jeremias (Jer 26,18). Nasceu o profeta numa obscura aldeia a sudoeste da Judeia, a atual Bet-Gibrin e parece que na mesma região tenha desenvolvido o seu ministério profético (cf. 1,10-12) com feliz resultado, como se pode deduzir do que lemos em Jer 26,19. Mais do que isso não sabemos a respeito dele. O autor das Vidas dos profetas, que o dá como martirizado sob o reinado de “Jorão, filho de Acab”, mostra tê-lo confundido com outro profeta homônimo, filho de Jemla, mais antigo, pelo menos de um século (1Rs 22,9-28), e por isso não merece fé.

O livro de Miquéias, ainda que lhe falte a bela ordem de Amós, e se aproxime antes do estilo patético de Oséias, apresenta, todavia, seções bastante nítidas.

O argumento dos vaticínios de Miquéias é, portanto, semelhante aos de Isaías, especialmente Is cc. 1-12. Os dois profetas têm até mesmo em comum um dos mais belos vaticínios messiânicos (Is 2,2-4 = Miq 4,1-3). Em Miquéias, porém, o lado positivo da mensagem, isto é, a promessa de um futuro melhor, ocupa um lugar relativamente mais amplo. Notável é também que entre as culpas exprobradas por Miquéias aos hebreus de seu tempo, têm grande prevalência as faltas de justiça e de humanitarismo para com o próximo, os crimes contra a boa ordem social. Redunda em honra singular para o profeta e o seu livro o fato de que duas das suas mais insignes predições sejam expressamente citadas à letra, quer pelo Antigo Testamento (3,12: em Jer 26, como já foi dito), quer pelo Novo (5,1: em Mt 2,5-6; cf. Jo 7,42), e que o próprio Jesus, na instrução aos seus apóstolos, expressou um ponto do seu programa (Mt 10,35-36) com as palavras de Miquéias (7,6).

NAUM

livro do profeta Naum é a única fonte que a ele se refere. Dá-nos a conhecer tão somente a terra natal do profeta, Elcos, lugar jamais citado em outra passagem da Bíblia. Os informantes judeus de S. Jerônimo (Prefação ao seu comentário) o situam na Galiléia. Outra tradição, menos antiga, e acolhida pelo autor das Vidas dos Profetas, localizava-o na Judéia, próximo de Eleuterópolis ou Bet-Gibrin. A época de Naum deve ser posta entre a queda de Tebas, no Egito, sob as armas do assírio Assurbanípal, em 663 a.C, e a queda de Nínive, sob os golpes conjugados dos babilônios e dos persas, em 612. A primeira é recontada no seu livro (3,8-10) como acontecimento passado; a segunda constitui o objeto quase único de sua mensagem profética.

Em confronto com os demais profetas menores, o conteúdo ideal de Naum não é novo, mas a todos supera em lances líricos e na expressão. Infelizmente, o texto em muitos lugares está corrompido, deixando por vezes o sentido incerto.

HABACUC

Na Bíblia hebraica o nome Habacuc (Habaqquq encontra-se somente nos títulos dos cc. deste livro a ele atribuído, o qual, outra notícia expressa não nos oferece, além daquela que se refere ao nome pessoal do profeta. Resta-nos unicamente o conteúdo para deduzirmos a época em que viveu e o espírito que o animava.

O livro versa todo sobre um ponto crucial da doutrina religiosa: o problema de saber se há uma justiça que governa o mundo e por que os bons são domina-nados pelos maus. O tema é desenvolvido em três seções: duas queixais em forma de diálogo e um canto final à maneira de contemplação.

A mensagem de Habacuc tem em comum com a de Jeremias, o fato de pôr em discussão o problema moral da prosperidade dos maus (Jer 12,1-3), e com a de Isaías o pensamento de que Deus se serve das ambições humanas, da tirania estrangeira, para castigar os pecados do seu povo, sem, porém, deixar impunes os excessos dos tiranos (10,3-19). Especial em Habacuc é o grande princípio, promulgado com insólita solenidade (2,4), de que a fonte da vida é a fé em Deus, que são Paulo fará um dos pontos básicos da sua doutrina religiosa.

Na Bíblia grega o nome deste profeta é “Ambacum”, e da mesma maneira está grafado o nome daquele “profeta na Judéia”, que, agarrado pelos cabelos por um anjo, levou a refeição a Daniel na cova dos leões, em Babilônia (Dan 14,33-39). Por razões cronológicas, quando não por outras, as duas personagens são consideradas distintas.

SOFONIAS

De oito dos dezesseis profetas escritores não conhecemos sequer o nome do pai, ao qual se restringe na maior parte a genealogia dos outros (Isaías, Jeremias, Ezequiel, Oséias, Joel, Jonas). De Zacarias, além do pai, cita-se também o avô. Sofonias, singular entre todos, prolonga a cadeia ascendente até ao trisavô, chamado Ezequias (cf. 1,1, nota) . Pensou-se que este Ezequias se identificasse com o conhecido rei de Judá, filho de Acaz, que reinou de 720 690 a.C, mais ou menos. Visto que Sofonias profetizou durante o reinado de Josias, o terceiro sucessor e bisneto de Ezequias (ib.), a cronologia não opõe dificuldades insuperáveis a essa opinião. O silêncio, porém, quer da história» quer do próprio profeta em torno dessa sua relação com a dinastia régia, torna-a de todo improvável. Além disso, esse nome não é raro na Bíblia.

O tempo em que vaticinou Sofonias pode ser deduzido da sua mensagem. Pregando sob Josias e entre outras coisas acusando os jerosolimitanos de perversões idólatras e práticas gentilicias em religião (1,4-6), isso deve ter acontecido antes da célebre reforma religiosa de Josias, que se iniciou em 621 a.C. (cf. 2Rs 22,3-23,20). Diremos, portanto, que Sofonias exercitou o seu ministério profético pelo ano 625 a.C, quando surgiu também o profeta Jeremias no mesmo ministério.

AGEU

Afora o que nos refere o seu breve escrito, que ocupa o décimo lugar na série canônica dos profetas menores, a respeito do profeta Ageu sabemos apenas que foi contemporâneo do profeta Zacarias, com o qual compartilhou a missão de assistir os repatriados na obra de construção do templo.

A atividade do profeta Ageu desenvolveu-se durante poucos meses, no segundo ano de Dario I (cf. Ag 1,1;2,11), rei da Pérsia, de 521 a 485 a.C

Sem valor especial quanto ao estilo ou à poesia, o escrito de Ageu recebe sua eficácia e interesse da grande paixão do profeta pelo templo. Animada pela recordação do esplendor do antigo templo, contemplado talvez numa juventude muito remota, esta paixão é alimentada sobretudo pela certeza de que a reconstrução do templo é a premissa indispensável para um renascimento seguro da vida nacional. A isso acrescenta-se a visão sobrenatural daquilo que o novo templo é destinado a simbolizar e como que a preludiar: a gloriosa construção espiritual do futuro reino messiânico. Certo deste destino, o profeta encontra palavras inflamadas para sacudir o povo de seu letargo, torna-se ousado diante dos tímidos representantes oficiais da nação e arrasta todos a um grande fervor.

ZACARIAS

Do profeta Zacarias (em hebr. “]avé se recordou”) fala também Esdr 5,1 ;6,

14. Era filho de Baraquias (Zac 1,1.7) e neto de Ado (Zac 1,1.7; Esdr 5,1 ;6, 14), provavelmente o mesmo citado entre o$ sacerdotes que voltaram de Babilônia com Zorobabel, no ano 537 (cf. Ne 12,4). Isso pareceria confirmado também pela indicação de Ne 12,16, segundo a qual um certo Zacarias era chefe da família sacerdotal de Ado, no tempo do sumo sacerdote Jesus, contemporâneo de Zorobabel (cf. Zac 4, 14; Ag 1,1; Esdr 3,2).

Como a Ageu, coube também a Zacarias a missão de apoiar os repatriados na obra de reconstrução do templo.

Zacarias iniciou a sua atividade profética alguns meses depois de Ageu (cf. Ag 1,1 e Zac 1,1.7), no mesmo segundo ano do rei persa Dario I (520 a.C.), mas a estendeu por mais tempo. Ao menos, pelo que se narra nos oito primeiros capítulos do seu livro, alcançou-se o quarto ano do reinado do mesmo soberano (cf. Zac 7,1).

Pertence o livro por inteiro ao profeta do qual traz o nome? A maioria dos críticos estima a segunda parte como uma compilação, feita em época mais recente, de escritos de autores diversos e desconhecidos. Segundo alguns, os escritos seriam de origem helenista (séc. IV a.C); segundo outros, do tempo da revolta dos Macabeus (175-161 a.C.) ou de ambas as épocas.

Não obstante as múltiplas diferenças de argumentos, de perspectiva, de gênero literário e de estilo entre a primeira e a segunda parte, os católicos geralmente aderem hoje também à opinião tradicional que atribui todo o livro ao profeta Zacarias.

O livro inteiro é perpassado por uma profunda espiritualidade. Ressalta nele a doutrina sobre os anjos, que velam pela sorte do reino de Deus e desempenham, cuidadosos, a missão de intermediários entre o céu e a terra. Expondo os diversos motivos sobre o Messias e o seu reino futuro, Zacarias realça o elemento interior da santidade e o da luta contínua contra o mal até o surgimento de seu último estádio, glorioso e sem fim.

MALAQUIAS

O último escrito profético traz na Bíblia grega o título, mais comum entre nós, de Malaquias, que em hebraico quer dizer “Anjo [ou mensageiro] de Javé”, e como nome próprio se encontra alhures no texto bíblico. A Bíblia hebraica intitula-o de Malaqui,que pode ser forma abreviada do precedente, ou significar, por si, “Anjo [mensageiro] meu”.

Para determinar a época da atividade profética de Malaquias, não estamos melhor informados; devemos contentar-nos exclusivamente com os dados fornecidos pela análise interna do seu escrito. A semelhança, e às vezes a identidade, entre os abusos que Malaquias repreende e aqueles contra os quais tiveram de lutar freqüentemente Esdras e Neemias, nos levam a supor, com bastante fundamento, que também o presente profeta viveu durante o período persa, numa época mais ou menos próxima da dos dois grandes reformadores do séc. V.

SERMÃO SOBRE A RESSURREIÇÃO DE CRISTO. Por Santo Agostinho

A ressurreição de nosso Senhor Jesus Cristo lê-se estes dias, como é costume, segundo cada um dos livros do santo Evangelho. Na leitura de hoje ouvimos Jesus Cristo censurando os discípulos, primeiros membros seus, companheiros seus porque não criam estar vivo aquele mesmo por cuja morte choravam. Pais da fé, mas ainda não fiéis; mestres – e a terra inteira haveria de crer no que pregariam, pelo que, aliás, morreriam – mas ainda não criam. Não acreditavam ter ressuscitado aquele que haviam visto ressuscitando os mortos. Com razão, censurados: ficavam patenteados a si mesmos, para saberem o que seriam por si mesmos os que muito seriam graças a ele.

E foi deste modo que Pedro se mostrou quem era: quando iminente a Paixão do Senhor, muito presumiu; chegada a Paixão, titubeou. Mas caiu em si, condoeu-se, chorou, convertendo-se a seu Criador.

Eis quem eram os que ainda não criam, apesar de já verem. Grande, pois, foi a honra a nós concedida por aquele que permitiu crêssemos no que não vemos! Nós cremos pelas palavras deles, ao passo que eles não criam em seus próprios olhos.

A ressurreição de nosso Senhor Jesus Cristo é a vida nova dos que crêem em Jesus, e este é o mistério da sua Paixão e Ressurreição, que muito devíeis conhecer e celebrar. Porque não sem motivo desceu a Vida até a morte. Não foi sem motivo que a fonte da vida, de onde se bebe para viver, bebeu desse cálice que não lhe convinha. Por que a Cristo não convinha a morte.

De onde veio a morte?

Vamos investigar a origem da morte. O pai da morte é o pecado. Se nunca houvesse pecado ninguém morreria. O primeiro homem recebeu a lei de Deus, isto é, um preceito de Deus, com a condição de que se o observasse viveria e se o violasse morreria. Não crendo que morreria, fez o que o faria morrer; e verificou a verdade do que dissera quem lhe dera a lei. Desde então, a morte. Desde então, ainda, a segunda morte, após a primeira, isto é, após a morte temporal a eterna morte. Sujeito a essa condição de morte, a essas leis do inferno, nasce todo homem; mas por causa desse mesmo homem, Deus se fez homem, para que não perecesse o homem. Não veio, pois, ligado às leis da morte, e por isso diz o Salmo: “Livre entre os mortos” [Sl 87].

Concebeu-o, sem concupiscência, uma Virgem; como Virgem deu-lhe à luz, Virgem permaneceu. Ele viveu sem culpa, não morreu por motivo de culpa, comungava conosco no castigo mas não na culpa. O castigo da culpa é a morte. Nosso Senhor Jesus Cristo veio morrer, mas não veio pecar; comungando conosco no castigo sem a culpa, aboliu tanto a culpa como a castigo. Que castigo aboliu? O que nos cabia após esta vida. Foi assim crucificado para mostrar na cruz o fim do nosso homem velho; e ressuscitou, para mostrar em sua vida, como é a nossa vida nova. Ensina-o o Apóstolo: “Foi entregue por causa dos nossos pecados, ressurgiu por causa da nossa justificação” [Rm 4,25].

Como sinal disto, fora dada outrora a circuncisão aos patriarcas: no oitavo dia todo indivíduo do sexo masculino devia ser circuncidado. A circuncisão fazia-se com cutelos de pedra: porque Cristo era a pedra. Nessa circuncisão significava-se a espoliação da vida carnal a ser realizada no oitavo dia pela Ressurreição de Cristo. Pois o sétimo dia da semana é o sábado; no sábado o Senhor jazia no sepulcro, sétimo dia da semana. Ressuscitou no oitavo. A sua Ressurreição nos renova. Eis por que, ressuscitando no oitavo dia, nos circuncidou.

É nessa esperança que vivemos. Ouçamos o Apóstolo dizer. “Se ressuscitasses com Cristo…” [Cl 3,1] Como ressuscitamos, se ainda morremos? Que quer dizer o Apóstolo: “Se ressuscitasses com Cristo?” Acaso ressuscitariam os que não tivessem antes morrido? Mas falava aos vivos, aos que ainda não morreram … os quais, contudo, ressuscitaram: que quer dizer?

Vede o que ele afirma: “Se ressuscitasses com Cristo, procurai as coisas que são do alto, onde Cristo está assentado à direita de Deus, saboreai o que é do alto, não o que está sobre a terra. Porque estais mortos!”

É o próprio Apóstolo quem está falando, não eu. Ora, ele diz a verdade, e, portanto, digo-a também eu… E por que também a digo? “Acreditei e por causa disto falei” [Sl 115].

Se vivemos bem, é que morremos e ressuscitamos. Quem, porém, ainda não morreu, também não ressuscitou, vive mal ainda; e se vive mal, não vive: morra para que não morra. Que quer dizer: morra para que não morra? Converta-se, para não ser condenado.

“Se ressuscitasses com Cristo”, repito as palavras do Apóstolo, “procurai o que é do alto, onde Cristo está assentado à direita de Deus, saboreai o que é do alto, não o que é da terra. Pois morrestes e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus. Quando Cristo, que é a vossa vida, aparecer, então também aparecereis com ele na glória”. São palavras do Apóstolo. A quem ainda não morreu, digo-lhe que morra; a quem ainda vive mal, digo-lhe que se converta. Se vivia mal, mas já não vive assim, morreu; se vive bem, ressuscitou.

Mas, que é viver bem? Saborear o que está no alto, não o que sobre a terra. Até quando és terra e à terra tornarás? Até quando lambes a terra? Lambes a terra, amando-a, e te tornas inimigo daquele de quem diz o Salmo: “os inimigos dele lamberão a terra” [Sl 79,9].

Que éreis vós? Filhos de homens. Que sois vós? Filhos de Deus.

Ó filhos dos homens, até quando tereis o coração pesado? Por que amais a vaidade e buscais a mentira? Que mentira buscais? O mundo.

Quereis ser felizes, sei disto. Dai-me um homem que seja ladrão, criminoso, fornicador, malfeitor, sacrílego, manchado por to- dos os vícios, soterrado por todas as torpezas e maldades, mas não queira ser feliz. Sei que todos vós quereis viver felizes, mas o que faz o homem viver feliz, isso não quereis procurar. Tu, aqui, buscas o ouro, pensando que com o ouro serás feliz; mas o ouro não te faz feliz. Por que buscas a ilusão? E com tudo o que aqui procuras, quando procuras mundanamente, quando o fazes amando a terra, quando o fazes lambendo a terra, sempre visas isto: ser feliz. Ora, coisa alguma da terra te faz feliz. Por que não cessas de buscar a mentira? Como, pois, haverás de ser feliz? “Ó filhos dos homens, até quando sereis pesados de coração, vós que onerais com as coisas da terra o vosso coração?” [Sl 4,3] Até quando foram os homens pesados de coração? Foram-no antes da vinda de Cristo, antes que ressuscitasse o Cristo. Até quando tereis o coração pesado? E por que amais a vaidade e procurais a mentira? Querendo tornar-vos felizes, procurais as coisas que vos tornam míseros! Engana-vos o que descaiais, é ilusão o que buscais.

Queres ser feliz? Mostro-te, se te agrada, como o serás. Continuemos ali adiante (no versículo do Salmo): “Até quando sereis pesados de coração? Por que amais a vaidade e buscais a mentira?” “Sabei” – o quê? – “que o Senhor engrandeceu o seu Santo” [Sl 4,3].

O Cristo veio até nossas misérias, sentiu a fone, a sede, a fadiga, dormiu, realizou coisas admiráveis, padeceu duras coisas, foi flagelado, coroado de espinhos, coberto de escarros, esbofeteado, pregado no lenho, traspassado pela lança, posto no sepulcro; mas no terceiro dia ressurgiu, acabando-se o sofrimento, morrendo a morte. Eia, tende lá os vossos olhos na ressurreição de Cristo; porque tanto quis o Pai engrandecer o seu Santo, que o ressuscitou dos mortos e lhe deu a honra de se assentar no Céu à sua direita. Mostrou-te o que deves saborear se queres ser feliz, pois aqui não o poderás ser. Nesta vida não podes ser feliz, ninguém o pode.

Boa coisa a que desejas, mas não nesta terra se encontra o que desejas. Que desejas? A vida bem-aventurada. Mas aqui não reside ela.

Se procurasses ouro num lugar onde não houvesse, alguém, sabendo da sua não existência, haveria de te dizer: “Por que estás a cavar? Que pedes à terra? Fazes uma fossa na qual hás de apenas descer, na qual nada encontrarás!”

Que responderias a tal conselheiro? “Procuro ouro”. Ele te diria: “Não nego que exista o que descias, mas não existe onde o procuras”.

Assim também, quando dizes: “Quero ser feliz”. Boa coisa queres, mas aqui não se encontra. Se aqui a tivesse tido o Cristo, igualmente a teria eu. Vê o que ele encontrou nesta região da tua morte: vindo de outros paramos, que achou aqui senão o que existe em abundância? Sofrimentos, dores, morte. Comeu contigo do que havia na cela de tua miséria. Aqui bebeu vinagre, aqui teve fel. Eis o que encontrou em tua morada.

Contudo, convidou-te à sua grande mesa, à mesa do Céu, à mesa dos anjos, onde ele é o pão. Descendo até cá, e tantos males recebendo de tua cela, não só não rejeitou a tua mesa, mas prometeu-te a sua.

E que nos diz ele?

“Crede, crede que chegareis aos bens da minha mesa, pois não recusei os males da vossa”.

Tirou-te o mal e não te dará o seu bem? Sim, da-lo-á. Pro- meteu-nos sua vida, mas é ainda mais incrível o que fez: ofereceu-nos a sua morte. Como se dissesse: “À minha mesa vos convido. Nela ninguém morre, nela está a vida verdadeiramente feliz, nela o alimento não se corrompe, mas refaz e não se acaba. Eia para onde vos convido, para a morada dos anjos, para a amizade do Pai e do Espírito Santo, para a ceia eterna, para a fraternidade comigo; enfim, a mim mesmo, à minha vida eu vos conclamo! Não quereis crer que vos darei a minha vida? Retende, como penhor a minha morte”.

Agora, pois, enquanto vivemos nesta carne corruptível, mor- ramos com Cristo pela conversão dos costumes, vivamos com Cristo pelo amor da justiça.

Não haveremos de receber a vida bem-aventurada senão quando chegarmos àquele que veio até nós, e quando começarmos a viver com aquele que por nós morreu.

A ressureição e o Pentecostes!

A obra se salvação ainda não estava culminada, era necessário que Jesus derrama-se o seu Espírito, o Senhor já havia vencido o diabo, o pecado e a morte, os aniquilando com o seu preciosíssimo sangue derramado na cruz e ressureição, mas faltava dar o Espírito para que sua Igreja também pudesse ter vida e vida em plenitude. Como nos ensina o Catecismo:

§1708 Por sua paixão, Cristo livrou-nos de Satanás e do pecado. Ele nos mereceu a vida nova no Espírito Santo. Sua graça restaura o que o pecado deteriorou em nós.

Cristo ressuscitou dos mortos.

Por sua morte venceu a morte,

Então Jesus vai ao encontro dos seus discípulos, e os encontrando renova a ação do Pai no jardim do Éden (veja Gn 2,7); Jesus disse, de novo: “A paz esteja convosco. Como o Pai me enviou também eu vos envio”. Então, soprou sobre eles e falou: “Recebei o Espírito Santo. (João 20,20-21). ) “Soprando o folego de vida” para inaugurar um novo tempo de graça.

Aos mortos deu a vida.

Eis aí a maravilha da Igreja! Cristo ressuscita e, ao ressuscitar, traz de volta à vida os membros do seu Corpo místico.


Eis por que se diz: “Desperta, tu que estás dormindo, levanta-te dentre os mortos, e Cristo te iluminará”. (Efesios 5,14).


O nosso corpo miserável e frágil, enquanto caminhamos neste mundo, continuará padecendo, mas pela fé sabemos já que, no fundo de nossa alma, habita Aquele cujo amor vale mais do que a vida presente. E sua força vivificante pode ressuscitar toda morte e esfriamento de fé causado pelo pecado.

Jesus é o Senhor que dá a vida! “Eu vim para que tenham a vida e a vida em abundância” (João 10,10 b). Os Evangelhos nos relatam: ‘Dele saía uma força que curava a todos’ Ao tocar no caixão do filho da viúva de Naim, o Jovem se levantou…

Hoje Jesus quer entrar em seu coração para ressuscitar sua fé, dissipando toda morte. Abra seu coração e clame ao Senhor o seu Espírito de vida.

Que a força do Cristo ressuscitado, nos levante para uma vida nova e triunfante. Amém!

Missão às avessas!


Jesus subiu a montanha e chamou os que ele quis; e foram a ele. Ele constituiu então doze, para que ficassem com ele e para que os enviasse a anunciar a Boa Nova (Marcos 3,13-14).

A Igreja Católica costuma dedicar o mês de outubro aos missionários. Não por acaso a memória de Santa Teresinha — que, ao lado de São Francisco Xavier, é a padroeira das missões — se celebra no 1.º dia deste mesmo mês. Também o Rosário tem lugar especial no mês de outubro para lembrar aos católicos que, sem vida de oração, não há apostolado fecundo.

A ocasião é, por isso mesmo, mais do que adequada para uma reflexão sobre o estado das missões dentro da Igreja Católica, a julgar também pelo 10.º aniversário da Conferência de Aparecida, ocasião em que os bispos de toda a América Latina, reunidos com o Papa Bento XVI, convocaram os católicos para a missão de ser “discípulo-missionário”.

A realidade do “discípulo-missionário” é apresentada no Evangelho de São Marcos com muita propriedade. Jesus, depois de escolher alguns dentre a multidão e passar um tempo com eles, envia os apóstolos para pregarem a Palavra por todo o mundo: “Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda criatura” (16, 15).

Há poucos momentos na história da humanidade que sejam mais importantes e decisivos do que a escolha dos doze Apóstolos:

“Jesus subiu ao monte e chamou os que Ele quis”, escolheu aqueles cujo apostolado mudaria, de fato, o curso da história humana. Trata-se de doze homens sobre os quais se ergueria o novo Israel, o novo povo de Deus. Antes, sob a vigência do Antigo Testamento, para pertencer ao povo eleito era necessário descender de algum dos doze filhos de Jacó; agora, sob o signo da nova e eterna Aliança, o povo eleito é formado por aqueles que, escolhidos livremente por Cristo, são chamados antes de tudo “para ficar com Ele”, ou seja, para ter um relacionamento íntimo — de conversão e oração — que se transfigure depois em obras de amor, em apostolado.

A primeira coisa que deve fazer o fiel que deseja sair em missão, portanto, é saber estar com Jesus: o primeiro passo do apóstolo, nesse sentido, não é para fora, esparramando-se no mundo, mas para dentro, encontrando-se com Deus no interior de si mesmo. Não caiamos no erro, tão comum nos tempos que correm, de sacrificar o único necessário — nossa santificação pessoal por meio da oração silenciosa e solitária aos pés do Senhor — a favor de um atividade apostólica agitadiça e desorientada, incapaz de levar aos outros Aquele que nos recusamos conhecer intimamente.

Para que alguém seja missionário, é preciso que fique, antes, na presença de Cristo, de quem obterá força e graça para cumprir a própria vocação. Depois, a vivência com Cristo, a fim de que se torne autêntica, exige o apostolado, o desejo de trazer mais pessoas para essa comunhão de amor. Isso deve estar muito presente na vida de todo missionário, aliás, porque depende da sua apostolicidade a fecundidade de sua vocação. Quem ensina a fé aprende mais do que ensina.

Toda missão que não brota da oração, é uma missão às avessas. É preciso deixar claro que essa “missão às avessas” torna toda Evangelização estéril e exaustiva, a mesma leva muitos ao desanimo e a desistência, temos que tomar muito cuidado para que a nossa missão não se torne um mero ativismo, “fazer por fazer” sem unção, fervor, amor…

A oração não é tudo só 100%

Cristãos que não convertem ninguém!

Somos chamados a anunciar corajosamente a palavra de Deus no entanto reduzimos nossa fé ao indiferentismo e íntimismo religioso, sem perceber em cada cidade ou diocese cresecem e aprofundam suas raizes o joio de muitas falsas doutrinas que diluem ou aniquilam o verdadeiro Evangelho de Jesus.

Nesse contexto confira nessa meditação algumas lições sobre “A cura do homem surdo (veja Mc 7, 31-37)”

Meditação. — 1. O Evangelho conta que “trouxeram um homem surdo, que falava com dificuldade, e pediram que Jesus lhe impusesse a mão”. Os contemporâneos de Cristo assistiam aos seus milagres e se convenciam cada vez mais do seu poder salvífico. Por isso, eles entendiam a necessidade de divulgar as suas obras, pois Jesus fazia bem todas as coisas: “Aos surdos faz ouvir e aos mudos falar”.

Apresentar pessoas para Jesus era uma prática comum entre os cristãos. Na verdade, a evangelização dos povos traduzia uma convicção sobrenatural de que Cristo é a cura para todas as enfermidades do corpo e da alma. Os grandes evangelizadores não pouparam esforços para tornar Jesus conhecido entre todos os povos e nações, a fim de libertá-los da surdez que impede de ouvir a verdade de Deus. Esses homens e mulheres eram, antes de tudo, pessoas de fé.

2. Nos últimos séculos, a evangelização parece ter se tornado algo politicamente incorreto, e os cristãos já não se importam tanto com a divulgação da Palavra de Deus. Os efeitos da Reforma Protestante de Lutero produziram a ideia de que religião é uma coisa privada, que não deve ser discutida nem apresentada a ninguém, pois a missionariedade poderia resultar em polêmicas e guerras. Esse pensamento gerou a doença dos tempos modernos: o indiferentismo religioso.

O Ocidente está caminhando para um novo paganismo justamente porque os cristãos não querem evangelizar, não estão interessados naquelas palavras de Jesus sobre o Batismo e o ensino de todas as nações: “Ide por todo o mundo, pregai o Evangelho a toda criatura” (Mc 16, 15).

3. Cristo prometeu que as portas do inferno jamais prevalecerão contra a Igreja (Mt 16, 18). Todavia, os cristãos não podem se acomodar. O amor de Cristo nos deve impelir a uma missionariedade ainda mais intensa que a dos primeiros cristãos, sobretudo agora que o mundo se encontra surdo para a verdade. Temos de trazê-lo para Jesus. Temos de romper com a linguagem pseudo tolerante e politicamente correta para converter os povos para a pessoa de Jesus, o mesmo Jesus dos Evangelhos, das Escrituras Sagradas, e não aquele das teologias modernas. A Palavra de Cristo deve sempre nos incomodar, produzir em nós uma metanoia, ou seja, a cura da nossa surdez.

É uma alegria saber que Jesus pode mudar o nosso coração, pois não estamos abandonados às nossas misérias. Ao contrário, Ele reza, olha para o céu, e com um gemido, um suspiro, mostra o quanto Ele quer a nossa conversão. De fato, Cristo intercede por nós, e não somente intercede, Ele tem o poder, Ele é Cristo, Rei do Universo, Ele é nosso Salvador e Senhor e ordena que a sua palavra transforme a nossa alma. Na Missa deste domingo, estejamos com os ouvidos bem atentos para as palavras de Cristo, que diz: “Efatá”, a fim de que também saiamos curados e capazes de divulgar as boas obras do Senhor.

Oração. — Ó Senhor Jesus, apresento-me diante de vós como o surdo do Evangelho , para que vossa santa Palavra cure a minha enfermidade e faça de mim um incansável divulgador das vossas boas obras.

Propósito. — Convidar algum amigo ou parente que está longe da religião para participar de algum de um grupo de oração ou da Santa Missa.

IDÉIAS CENTRAIS – PADRE PAULO RICARDO, COM ALGUMAS ADAPTAÇÕES MINHAS.

Nós vimos o Senhor (João 20,24-29)

  • João usa essa a expressão “vimos o Senhor” por três vezes para falar do encontro que os discípulos por três vezes fizeram com o Ressuscitado (João 20,8; Jo 20,18; Jo 20,25).

O “ver” para João significa fazer uma experiência com o Senhor vivo, essa experiência acontece por meio da ação poderosa do Espírito Santo. Quando os discípulos testemunhavam a Tomé “Nós vimos o Senhor” eles se referiam ao cenáculo, onde estavam trancados por medo dos judeus, e de repente Jesus apareceu no meio deles ressuscitado dissipando todo o medo, soprando sobre eles o Espírito Santo (Jo 20,22).

Essa experiência produz uma convicção inabalável no crente, a mesma convence do mistério do Cristo ressuscitado e ao mesmo tempo ressignifica a vida, dando novo sentindo: Os discípulos sentindo a presença de Jesus, virão seus medos dissipados, seus corações repletos de paz e alegria pois os mesmos estavam repletos do Espírito Santo.

Tomé não estava com eles quando a experiência aconteceu por isso permaneceu incrédulo. Mas antes de julgarmos Tomé como um homem de pouca fé, precisamos compreender duas coisas:

  1. Tomé se chama Gêmeo (v,24) –  joãos faz uma crítica a Comunidade, sempre existe outro incrédulo.
  2. Até mesmo um apóstolo precisa fazer a experiência do Batismo no Espírito para crer verdadeiramente.

A experiência do Batismo no Espírito Santo no Cristianismo é fundamental, essencial e precisa ser normativa, sem ela permaneceremos incrédulos como Tomé que não estava no cenáculo. Tomé cometeu um pecado grave, não acreditou no testemunho da Igreja.

Hoje o cristianismo sofre de uma crise existencial, essa crise antes de ser moral aflorada por graves escanda-los é uma crise espiritual, uma crise de fé. A maioria dos cristãos vive uma espiritualidade tíbia, light, mas baseada em tradições do que convicção, falta temor, santidade, fervor, convicção.

Por  isso aquilo que Tomé disse: Se eu não tocar, não acreditarei… Deve ser repetido inúmeras vezes por todos nós, é necessário tocar para crer. Ou como diz João:

 “O outro discípulo, que tinha chegado primeiro ao túmulo, entrou também, viu e creu”. (João 20,8).

Esse ver não se aplica ao sentido natural, racional, mas espiritual, experimentar sua presença viva no coração. Esse toque na Renovação Carismática é chamado de Batismo no Espírito Santo.

O Batismo no Espírito Santo produz, como diz o Papa Paulo VI:

–    O gosto por uma oração profunda, pessoal e comunitária;

–    Uma volta à contemplação e uma ênfase colocada na palavra de Deus;

–    O desejo de entregar-se totalmente a Cristo;

–    Uma grande disponibilidade às inspirações do Espírito Santo;

–    Uma leitura mais assídua da Escritura;

–    Uma ampla abnegação fraterna;

–    Uma vontade de prestar uma colaboração aos serviços da Igreja.

Peça hoje essa graça. Jesus que esta vivo, soprará o Espírito Santo em seu coração e você testemunhará: Eu vi o Senhor!

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